Cidades

Mães adolescentes compartilham experiências e falam sobre apoio familiar

A gravidez na juventude ainda é tabu. O que faz toda a diferença durante essa delicada situação é o apoio da família

Patrícia Nadir - Especial para o Correio, Priscilla Miranda*
postado em 14/05/2017 06:00
Valéria (à direita) apoiou a filha Gabrielle na gestação de Nickolas (ao centro)
;Ele ficou bem nervoso quando contei que teria um bebê. Chegou a ficar dois dias sem falar comigo. Até que cheguei para conversar e nos reconciliamos. No fim, nos abraçamos. Foi quando o bebê se mexeu pela primeira vez. A partir disso, foi só amor;, relata Gabrielle Leão Araújo, 15 anos, sobre uma conversa com o pai dela. A jovem teve a vida transformada ao saber que daria luz a um menino, sem apoio do pai do bebê e lidando com o preconceito que permeia a gravidez na adolescência. A jovem cursava o 1; ano do ensino médio numa escola pública na Asa Norte e, graças ao apoio da família, prosseguiu com os estudos: hoje, está no 2; ano.

Tudo que ela faz agora é em favor do pequeno Nickolas, de sete meses. ;Foi um susto, ninguém estava esperando. Quando descobrimos, ela estava com cinco meses de gestação. Depois do impacto, pensamos em acolher a nossa filha. O mundo é crítico o suficiente; na minha visão, o papel da família é apoiar e cuidar;, conta Valéria Leão, 36, mãe de Gabrielle. A adolescente admite que, sem esse suporte, não teria conseguido chegar onde está. ;O Nickolas foi uma surpresa enorme. Ter a ajuda dos meus pais, irmãos e tios foi essencial;, confessa, emocionada.
Janayna, o esposo, Alef, e o filho Kauã, que hoje é motivo de alegria para a família

Em 2015, 6 mil adolescentes de 13 a 19 anos se tornaram mães no Distrito Federal. A situação é delicada, mas, aos poucos, tem se tornado mais comum receber apoio da família nesse momento, algo raro no passado. Janayna Reis, 21, e Maria Paula de Aguiar, 64, são exemplo disso. Ambas sentiram os primeiros enjoos da gestação bem novas. Janayna e o marido, Alef Gomes, se casaram aos 19 anos e foram pegos de surpresa com a gravidez, já que ela havia sido diagnosticada com um problema nos ovários. ;Mesmo sendo casada, fiquei abalada e com medo da reação dos meus pais. Eles sempre tiveram o sonho de ver a filha formada e, quando souberam que eu estava grávida, pensaram que eu abandonaria os estudos. Mas a vinda do Kauã reforçou ainda mais o desejo de me formar, pois, agora, quero um futuro melhor para meu filho;, afirma Janayna, aluna do sétimo período de pedagogia. A mãe de Janayna passou uma noite inteira chorando quando soube da notícia, mas hoje, com seis meses, Kauã é o xodó da família. ;Tudo que fazemos é em torno dele;, comenta Alef.
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Já Maria Paula, que viveu em outra época, foi expulsa de casa. Ainda adolescente, foi vítima de abuso sexual, mas, com vergonha, não denunciou o fato e se viu grávida aos 15 anos. ;Minha madrasta me mandou embora para não influenciar minhas irmãs;, lembra. Criada em Tuntum (MA), ela passou a viver num galinheiro cedido por uma amiga, que a ensinou a fazer tapetes de retalho ; a atual fonte de sustento dela. Após o nascimento de Antônio Carlos, 50, trabalhou na lavoura. ;Com 10 dias de resguardo, arranquei um pé de mandioca com um facão e ralei para fazer tapioca.; Com o mesmo homem, Maria Paula teve quatro filhos, até que foi abandonada. Ela conheceu o segundo companheiro, com quem teve mais quatro filhos, aos 23. Depois de se separar, veio para o Centro-Oeste. Catou sucatas por um período. Hoje, artesã de mão cheia, fica feliz ao ver a casa cheia, com sete filhos (um morreu), sete netos e um bisneto. ;Nunca cogitei abandonar ninguém. Ser mãe, mesmo com todas as dificuldades, foi maravilhoso;, diz Maria Paula, que deu total apoio a uma das netas que engravidou aos 15 anos.

A gravidez na juventude ainda é tabu. O que faz toda a diferença durante essa delicada situação é o apoio da família

Apoio

O Centro Universitário Iesb promove o Projeto Integrado Multidisciplinar Primeira Infância (Pimpin) em que professores e alunos recebem pais adolescentes para oficinas, palestras, reuniões temáticas, orientações e atendimentos. ;A gravidez é um tempo de mudanças e, para a adolescente, é um pouco mais duro. O corpo ainda não está preparado para suprir as necessidades do bebê. Além dos riscos, há impacto na família. Em muitos casos, os pais se sentem culpados. Com o projeto, pretendemos não julgar as pessoas e ajudá-las a retomar a vida. Também trabalhamos para prevenir uma nova gestação;, explica Liliane Fernandes, professora do curso de serviço social e responsável pelo projeto.

*Estagiárias sob supervisão de Ana Paula Lisboa

Entre em contato

O projeto funciona no câmpus Ceilândia Norte do Iesb. Saiba mais pelo telefone 9-9699-6296 ou pelo e-mail: projetopimpin@gmail.com.

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