Cidades

Projeto Teatro Bar reúne boemia e cultura no Setor Comercial Sul

A noite da capital ganha mais uma opção cultural. Em um espaço que reúne bar e teatro, grupos se apresentam para um público eclético e carentes de novidades

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 16/05/2017 06:05
O Canteiro Bar, no Setor Comercial Sul, recebe os espetáculos todas as terças-feiras

Rodeado por música, bebidas e espaço para confraternização pós-espetáculos, um novo palco surge em Brasília. O projeto Teatro Bar tem sua sede no Canteiro Central e surge a partir da vontade de reunir um público maior, mais diversos e dinâmico com a criação cênica da cidade. A ideia é criar um local em que o teatro se aproxime do público com um viés mais musical, além, é claro, de possibilitar um ambiente descontraído, fora da caixa cênica tradicional. A boa conversa de bar entra em cena e, a partir de agora, leva para a mesa discussões sobre o teatro brasiliense, os grupos locais e as peças apresentadas por artistas que buscam a inovação. A programação deste ano já tem agenda completa: serão 32 semanas de apresentações, com mais de 100 artistas e produtores envolvidos. O público poderá se sentar com os amigos, bater papo depois e beber alguns drinques durante os espetáculos.

Márcio Leal, Hugo Casarisi e Gabriela Cerqueira se reuniram para tocar o projeto, que conta com a participação de grupos brasilienses que se apresentavam em espaços e formatos menos tradicionais. O espaço une festa e teatro e, como bem lembra Gustavo Haeser, integrante de um dos grupos confirmados na programação, o Tripé, ;se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé;. O ator destaca que o projeto é importante para a cidade, já que grande parte dos brasilienses não têm o costume de frequentar ou discutir o teatro. ;Mas o bar? Ninguém nega uma ida a um bar. E uma ideia como essa pode ajudar a mudar a ideia de que o teatro é algo culto ou distante.; Para Haeser, o projeto visa oferecer um novo tipo de programação, de entretenimento, de encontro. Depois de cada apresentação teatral, haverá uma atração musical.

Durante a criação do projeto, os produtores encontraram iniciativas semelhantes em São Paulo e em outras regiões, como o La Movida, em Belo Horizonte. ;O que percebemos nesse levantamento é que esses projetos têm a capacidade de atrair um público muito diferente do que costuma frequentar o teatro. Consegue trazer os jovens e as pessoas que se sentem de certa forma oprimidas pelo tradicional ambiente de auditório;, afirma o idealizador Márcio Leal. A ideia é reunir pessoas que gostam de teatro e também as que gostam de se sentar em uma mesa para bater papo e ouvir uma música antes e depois da peça, transformando a ida ao teatro em um evento completo.

Ele conta que o principal objetivo é atrair um público que não costuma assistir a espetáculos teatrais. ;Creio que uma parte desse público, ao ter contato com as apresentações, pode se sentir mais à vontade de frequentar um auditório para ver uma peça.;

Movimentação constante
O primeiro grupo a cumprir temporada no Teatro Bar será o irreverente Cantigas Boleráveis, que traz em sua essência a relação entre performance teatral e música, transitando entre um grupo independente e uma banda de teatro. Além do Cantigas, que apresenta seu espetáculo hoje e em 23 e 30 de maio, vão participar a Cia Víceras, o Celeiro das Antas, o Núcleo Negro Dulcina, a Andaime Cia de Teatro, o Grupo Tripé e as peças Decadenta e Admirável Mundo Cão. Cada um se apresenta durante quatro semanas. Alguns com um espetáculo único. Outros podem desenvolver peças diferentes a cada semana.

O Cantigas Boleráveis criou uma peça-show com estrutura dramatúrgica maleável para se adaptar de acordo com cada espaço, após uma temporada no Paraguai. No país vizinho, os artistas se apresentaram em um bar na primeira cidade em que chegaram e entenderam que a troca de vivências, pensamentos e opiniões possibilitava a criação de novas histórias. ;Nasceu, então, uma peça sobre adaptar-se. Não podemos negar o espaço em que estamos. Ele ajuda a cantar a história. Estaremos em um bar, onde as pessoas bebem, conversam, choram e vão para trocar ideia. E, se não fosse pra interagir, a peça nem existiria;, conta o ator Victor Caballar, um dos integrantes do grupo. O Cantigas já se apresentou em baladas, teatros, espaços íntimos, casas e blocos de carnaval.

Enquanto isso, Hugo Rodrigues, diretor e dramaturgo do espetáculo Para todas as mães do mundo, que será apresentado pelo Núcleo Negro Dulcina, afirma que a iniciativa vai de encontro às possibilidades restritas de aparelhos culturais que existem atualmente em Brasília. Para o novo espaço, o grupo preparou uma peça com roupagem contemporânea, que busca se desdobrar para além dos espaços convencionais. ;Nosso espetáculo reúne performance, circo, teatro, e foi pensado para que pudesse dialogar com diferentes espaços e plateias. Propomos uma desconstrução do espaço cênico, aliado a uma interpretação firme;, afirma o diretor.

Hugo Casarisi, um dos idealizadores do projeto, lembra que o objetivo é trazer uma série de eventos e movimentar um círculo constante de apresentações, possibilitando trocas mais diretas com o público. ;A ideia é que as pessoas passem a apreciar uma cerveja associada a um produto artístico de alta sensibilidade estética. É importante para a cena teatral do DF ter um lugar acessível, periódico, equipado e que possibilite que os grupos trabalhem diretamente no mercado;, afirma.

O espaço do salão estará dividido em mesas para acomodar até 100 pessoas de frente para o palco. Durante o espetáculo, o tradicional atendimento de balcão será substituído por garçons. Quando acabar o espetáculo, um DJ, escolhido em acordo com o grupo que está em cartaz, alongará a noite em clima de festa. A cada apresentação, o espaço pode se adaptar de acordo com a proposta dos artistas. A criação de uma programação teatral constante é sempre positiva para uma cidade e firma a ideia de que teatro é também encontro, debate e celebração.

Programe-se
Projeto Teatro Bar, no Canteiro Central (Setor Comercial Sul, Quadra 3, Bloco A), às terças-feiras, às 20h. A bilheteria abre às 19h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Mais informações: 99252-2216

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