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Especialistas dão dicas de como diminuir riscos na aquisição de imóvel

Com o aumento do número de inadimplentes no setor imobiliário, especialistas falam sobre como evitar uma possível perda do bem

Jéssica Eufrásio*, Isabella Conte*
postado em 22/05/2017 06:05
Os consumidores já sabem que adquirir um imóvel nem sempre envolve um processo simples. Financiar um, menos ainda. Os bancos e as empresas de crédito tendem a cobrar altas taxas de juros em casos de atraso e a falta de pagamento pode levar a um processo judicial que culmina na tomada do bem. Por isso, antes de entrar com um pedido de financiamento, é importante entender alguns dos principais motivos que resultam em inadimplência.

O professor Marcos Athayde Canella, 53 anos, é um exemplo de consumidor que enfrentou dificuldades com o pagamento de parcelas. Ele perdeu o imóvel para o banco. ;Fiz um financiamento de R$ 300 mil para um imóvel de R$ 1 milhão. Por conta da crise, tive que fechar minha empresa, perdi uma das minhas fontes de renda e o banco levou o imóvel a leilão;, relata.
Marcos conta que enfrentou uma situação difícil pelo valor das prestações e que não teve como conseguir a quantia correspondente à antiga renda. ;O principal problema foi que o banco não abriu mão para negociações, mesmo por via judicial. Quando se é empresário, você tem renda, mas ela não é eterna. Então, se o país entra em crise e a empresa, também, seu faturamento cai, você perde dinheiro e pode perder tudo o que pagava;, ressalta.

[SAIBAMAIS]O imóvel de Marcos foi leiloado por menos da metade do valor pago originalmente. Ele conta que o banco lhe informou que não devolveria o dinheiro pago no leilão e que a dívida já foi quitada. Agora, Marcos tenta, por meio da Justiça, cancelar o processo, ser indenizado pelo valor gasto ou renegociar com o banco as parcelas em atraso.

Falta de planejamento

Assessor jurídico do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), Felipe Mendes explica que a maior parte dos casos acontece por falta de planejamento do próprio consumidor. ;Muitas vezes os compradores olham apenas o valor da parcela e esquecem que, além delas, há as intermediárias. Sem contar que, como se trata de financiamentos, há ainda a correção tarifária, que varia de acordo com o tipo de prestação que o consumidor escolhe;, oberva.

De acordo com a pesquisa mensal elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento causado pelo financiamento de imóveis aumentou pelo terceiro mês consecutivo. No ano passado, o valor referente a abril era 0,6% menor.

Para evitar essa dor de cabeça, o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Geraldo Tardin, explica que é necessário ter atenção antes de assinar o contrato de financiamento imobiliário. ;É fundamental que a pessoa tenha sempre um advogado ao lado para fazer a leitura do contrato, só assinar se as parcelas couberem no orçamento e, principalmente, nunca informar uma renda simulada;, aconselha. Geraldo também orienta que as parcelas nunca sejam acima de 20% do valor da renda total. Se não houver alternativa, o ideal é que a pessoa junte dinheiro até conseguir pagar pelo imóvel.

Para quem já está enrolado e precisa quitar as dívidas, o planejador financeiro Rogério Olegário dá algumas dicas de como se desafogar. ;A primeira coisa a ser feita é baixar as aplicações financeiras. Ou seja, tirar o dinheiro guardado em poupança, ou em qualquer outro lugar, e pagar as parcelas atrasadas;, sugere. Ele dá outros quatro conselhos: vender o máximo de bens possíveis, inclusive o próprio imóvel; trocar dívidas ruins por dívidas com prazos maiores e menos juros; renegociar débitos por meio de uma alteração no contrato; ou ainda, no pior dos casos, fazer um distrato e desistir do imóvel.

Chance de renegociação

A grande inadimplência do consumidor também afeta as construtoras. Algumas delas tentam, inclusive, ajudar o consumidor a quitar as dívidas e realizar o sonho da casa própria. ;Quando um comprador nos fala que não está mais conseguindo pagar as parcelas, nós mudamos o financiamento de um apartamento mais caro para um mais barato. Por exemplo, passamos de um de três quartos para um de dois e, assim, diminuímos o valor das parcelas;, conta o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Secovi-DF), Ovídio Maia.

O Procon também aponta que a causa da inadimplência nem sempre recai sobre o comprador. Dados do órgão mostram que, no ano passado, o Procon registrou 409 atendimentos de consumidores contra construtoras. Algumas das principais queixas são relativas ao não cumprimento do contrato e à cobrança indevida de taxas. Para não cair nessa, as dicas do assessor Felipe Mendes são evitar compras por impulso e estudar o contrato com especialistas antes de realizar financiamentos mais longos.

*Estagiárias sob a supervisão de Renato Alves


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