Cidades

Instituto em São Sebastião oferece aulas de dança para quem tem mais de 50

Criado há nove anos, o Instituto nasceu da vontade de Eliza Soares Santana, 56, em ajudar a comunidade; desde então, o espaço recebe gente de 3 a 100 anos

Gabriella Bertoni - Especial para o Correio
postado em 26/05/2017 06:00
Aula de dança do ventre em São Sebastião: professora elogia pontualidade e dedicação das alunas

Os cintos com lantejoulas e a música vibrante indicam que, atrás do portão verde da casa n; 490 da rua 44, acontece algo animado. É em São Sebastião, no Instituto Acesso, que nove simpáticas senhoras aproveitam as manhãs das quartas-feiras sendo guiadas pela professora de dança do ventre de um lado para o outro do salão rodeado de espelhos. Os resultados da prática na vida dessas mulheres é unânime: vontade de viver e autoestima nas alturas. Lá, há três anos se formou um grupo de amigas que estão presentes nos forrós da cidade, que se apresentam em eventos pela comunidade e que não têm vergonha de mostrar a felicidade em dançar.

A partir dos 50 anos, qualquer pessoa pode se aventurar pelos passos coreografados. A ideia foi da professora Cinthya Mascarenhas, que já oferecia aula de dança no Posto de Saúde, mas de forma precária. ;Um dia passei aqui na frente e vi que tinha muito espaço. Pedi a presidente do Instituto para dar aula aqui e prontamente ela me atendeu;, lembra. Movida pela saudade da avó, que morreu há 11 anos e era uma conhecida frequentadora dos forrós da cidade, Cinthya se diz realizada. ;O que me deixa mais feliz é ver a dedicação e a pontualidade delas. Todas as quartas elas estão aqui.;

A única das amigas que ainda é casada, Lindinalva Valença de Lima, 59, conta que, mesmo se o marido não gostasse, ela não deixaria de ir às aulas. ;Antes eu ficava em casa sem fazer nada. Agora, me sinto muito bem. Se alguém falar para eu não vir, bato o pé. Amo esse lugar;, afirma. Por lá, todas já têm os passos decorados e não poupam esforços para acompanhar a professora. ;Mas não exijo perfeição, já que são senhoras e muitas sentem dores musculares. O que importa para mim é a felicidade delas de estarem aqui;, comenta Cinthya.
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Sentindo-se maravilhosa em seu figurino todo cor de rosa, Neda Barbosa de Miranda, 59, relembra que brigava muito com o marido e chorava todas as noites. ;Mas depois que ele faleceu, eu resolvi sair de casa e me divertir. Acabou a choradeira depois que conheci a professora e comecei a dança do ventre.; Até o remédio para pressão não toma mais. ;As aulas são as melhores coisas, nos deixam muito tranquilas;, completa.

Uma das mais velhas da turma, dona Joaquina Rodrigues Marques, 78, não esconde o sorriso quando questionada sobre o que a dança do ventre representa em sua vida. ;Eu não aguento mais trabalhar, por conta da idade. Então, isso aqui para mim é único;, frisa. Mãe de 11 filhos, ela diz que todos a apoiam a fazer atividades extras. ;Danço qualquer música, adoro forró e dança do ventre. Mas eu gosto mesmo é de apresentar com o público assistindo, não sinto nada de vergonha.;

História

Criado há nove anos, o Instituto nasceu da vontade de Eliza Soares Santana, 56, em ajudar a comunidade. Após ceder sua própria casa para o projeto, um amigo engenheiro doou a construção da casa de Eliza na parte de cima. Desde então, o espaço recebe gente de 3 a 100 anos. ;Aqui, oferecemos aulas de violão, informática, artesanato e dança;, conta. Sem cobrar mensalidade dos alunos - apenas pedem uma ajuda de custo a quem pode pagar - a organização recebe doações de alimentos e roupas, que são vendidas em um bazar, o que ajuda a pagar as contas.

Com os trabalhos realizados por voluntários, Eliza diz que precisam de auxílio. ;Muitos dos professores só podem dar aulas durante a noite, pois trabalham de dia. Mas gostaríamos de colocar mais opções de tarde para os jovens.; Os alimentos oferecidos nos lanches são doações do Banco de Alimento do Centro de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa). ;Deus coloca as pessoas na vida da gente como anjos, como todos são aqui;, conclui.

"Danço qualquer música, adoro forró e dança do ventre. Mas eu gosto mesmo
é de apresentar com o público assistindo, não sinto nada de vergonha;
Joaquina Rodrigues Marques, 78 anos

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