Jornal Correio Braziliense

Cidades

Em 16 anos, mais de 50 políticos eleitos no DF foram alvos de investigações

Com a investigação do desvio milionário na construção do Estádio Mané Garrincha, o Distrito Federal chega a seis políticos encarcerados


Com a mais recente operação, a Panatenaico, deflagrada na terça-feira pela Polícia Federal, a capital do país forma uma bancada com seis políticos eleitos para cargos majoritários atrás das grades. Levados para a carceragem da Superintendência da PF, no fim da Asa Sul, por meio de mandado de prisão temporária, os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), juntam-se ao também ex-vice Benedito Domingos e aos ex-senadores Luiz Estevão e Gim Argello (veja A bancada do xadrez).

Para especialistas, Brasília é o retrato de um país tomado pela corrupção sistêmica. ;Mesmo o Distrito Federal sendo o centro do poder político, é difícil ficar de fora desse cenário. Brasília só representa o quadro geral, infelizmente. A pergunta é: onde não há corrupção? Difícil achar essa exceção atualmente;, ressalta o cientista político Everaldo Moraes.


Condenações

De todos os escândalos envolvendo políticos do DF, o mais famoso é o da Caixa de Pandora. Deflagrada em 2009 pela Polícia Federal, ela culminou na primeira prisão e queda do governador José Roberto Arruda, então no DEM. A divulgação dos vídeos gravados pelo delator Durval Barbosa mostravam agentes públicos recebendo dinheiro de propina. Em função da Pandora, são investigadas 39 pessoas. Três receberam penas no início do mês.

O juiz Paulo Afonso Carmona, da 7; Vara Criminal de Brasília, condenou a ex-deputada Eurides Brito (PMDB) a 10 anos de prisão por corrupção, ao vender apoio político em troca de uma mesada paga por Durval. Ex-secretária de Educação, Eurides está fora da política desde o escândalo da Pandora. Ela se recusou a renunciar ao mandato parlamentar, como outros envolvidos no episódio fizeram, e acabou cassada, em 2010, pelos colegas na Câmara Legislativa. Também sofreu condenação em ação de improbidade administrativa, confirmada em segunda instância. Está inelegível.

Ainda em 5 de maio, Paulo Carmona condenou Arruda a 3 anos e 10 meses de reclusão em semi-aberto e o ex-deputado distrital Odilon Aires a 9 anos de prisão, em regime fechado. No caso de Odilon, a acusação é igual à de Eurides: vender apoio político em troca de uma mesada paga por Durval. Arruda foi condenado por falsificar quatro recibos que justificariam o dinheiro recebido de Durval como doações para a compra de panetones. Mas esse é apenas um dos processos. O ex-governador responde a 12 ações penais da Operação Caixa de Pandora.

54
Número de políticos eleitos no DF que se envolveram em escândalos de corrupção desde 2001


Bancada do xadrez


; José Roberto Arruda
Acusado de, entre 2009 e 2010, viabilizar m esquema de fraude licitatória ao articular a saída de construtoras do certame do Mané Garrincha e apontar, desde cedo, mediante propina, as vencedoras: Via Engenharia e Andrade Gutierrez.

; Agnelo Queiroz
A construção do Mané Garrincha começou na gestão dele. Para executar a obra, articulou a derrubada de diversos obstáculos, segundo os delatores da Andrade Gutierrez. Recebeu ;milionária propina; por meio de, ao menos, três emissários.

; Tadeu Filippelli
Quando era vice de Agnelo, pediu propina à Gutierrez, segundo ex-executivos da construtora. Ele ainda solicitou valores ilícitos que seriam destinados ao PMDB, entre 2013 e 2014, à Via Engenharia, em razão da execução das obras do estádio.
; Luiz Estevão
Primeiro senador cassado da história, o ex-deputado distrital e empresário cumpre pena de 26 anos de prisão, no Centro de Detenção Provisória do Complexo Penitenciário da Papuda, por corrupção no caso do Fórum Trabalhista de São Paulo.

; Gim Argello
O ex-senador foi preso na Operação Vitória de Pirro, desdobramento da Lava-Jato. Recebeu pena do juiz Sergio Moro: 19 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação. Cobrava propina de empresas investigadas na CPI da Petrobras para blindá-las.

; Benedito Domingos
Ex-deputado distrital, ex-deputado federal e ex-vice governador de Joaquim Roriz, foi condenado por fraude à licitação. Por causa da idade, recebeu autorização do STJ para cumprir a pena em casa.


Os casos


2001

; Painel do Senado
José Roberto Arruda renunciou ao mandato de senador para escapar da cassação. Ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso, ele foi acusado de obter a lista de votação dos senadores no julgamento que cassou o mandato de Luiz Estevão
e repassá-la ao então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães. Após um discurso na tribuna em que chorou e jurou inocência em nome da família, acabou admitindo a irregularidade.

; Operação Grilo
A Polícia Federal prendeu o então deputado José Edmar (PMDB), aliado do governador Joaquim Roriz e um dos braços da ;máfia da grilagem; na Câmara Legislativa. Outras nove pessoas foram detidas e mais de mil servidores dos três poderes locais, investigados. Um dos maiores amigos de Roriz, o distrital Pedro Passos foi investigado e acusado de chefiar a quadrilha, com seus irmãos, Alaor e Márcio.

2007

; Operação Aquarela
Investigou desvios de recursos do BRB e lavagem de dinheiro, envolvendo um ex-dirigente da instituição e Juarez Cançado, então coordenador-geral da Associação Nacional dos Bancos (Asbace). Eles respondem a várias ações penais e de improbidade administrativa.

; Bezerra de ouro
Roriz foi condenado, em outubro de 2015, por ter sido favorecido pelo desconto, no BRB, de um cheque de R$ 2,2 milhões, emitido pelo amigo e empresário Nenê Constantino, fundador da Gol. O caso levou à renúncia de Roriz do Senado, em 2007, poucos meses depois da posse, o que o deixou inelegível. A decisão em segunda instância confirmou Roriz como ficha suja. Ele alegava que o dinheiro era para compra de uma bezerra.

; Operação Navalha
Em 17 de maio, o MPF e a PF deflagraram a ação para desmontar esquema de fraude em licitação, tráfico de influência, desvios de recursos e corrupção envolvendo a empreiteira Gautama. Foram presas 47 pessoas, entre elas o
ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares; Zuleido Veras, dono da Gautama; e o deputado distrital Pedro Passos. Por causa das denúncias que envolveram o programa Luz para Todos, o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, deixou o cargo. O presidente do BRB foi afastado, e Passos tornou-se alvo de representação por quebra de decoro parlamentar na Câmara Legislativa. Acabou renunciando.

; Operação Megabyte
A PF estimou em R$ 1,2 bilhão o volume de dinheiro público do GDF gasto irregularmente em cinco anos com fornecedoras de produtos e serviços de informática nas gestões de Roriz e Arruda. A maior parte foi repassada às empresas do cartel pelo então presidente da Codeplan, Durval Barbosa, apontado como líder do grupo desde 2002. Durval e mais 13 acusados foram processados por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, enriquecimento ilícito e improbidade administrativa.

2009

; Operação Terabyte
Desdobramento da Megabyte, vasculhou escritórios de empresas de informática para apurar esquema de desvio de recursos públicos de contratos de prestação de serviço com o GDF e lavagem de dinheiro, tendo Durval Barbosa com um dos principais alvos.

; Operação Caixa de Pandora
A ação foi deflagrada pela PF em 27 de novembro de 2009, com delação de Durval Barbosa, que forneceu vídeos de políticos recebendo dinheiro, incluindo o então governador, Arruda. São investigadas 39 pessoas. Algumas foram condenadas.
2016

; Operação Drácon
A Justiça afastou quatro integrantes da Mesa Diretora da Câmara Legislativa ; Celina Leão (PPS), Bispo Renato (PR), Júlio César (PRB) e Raimundo Ribeiro (PPS) ;, além de Cristiano Araújo (PSD) por concessão de emenda parlamentar em troca de recebimento de propina.

; Operação Vitória de Pirro
A ação é um desdobramento da Operação Lava-Jato. Nela, policiais federais prenderam o então senador Gim Argello (PTB). Ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro por cobrar propina de empresas investigadas na CPI da Petrobras para blindá-las.

2017
; Operação Hemera
A Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa decidiu, quarta-feira, pela continuidade do processo de cassação da deputada Sandra Faraj (SD). Em fevereiro, ela foi acusada de falsificar notas fiscais e embolsar R$ 150 mil em verba indenizatória ; o valor deveria ser repassado a uma agência de comunicação pela prestação de serviços por um ano. O caso é investigado pelo MPDFT.

; Operação Panatenaico
Deflagrada na terça-feira, investiga um rombo de R$ 1,3 bilhão aos cofres da Terracap durante a construção da arena esportiva. Segundo o MPF, há indícios de formação de cartel, fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, formação de organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A operação resultou na prisão dos ex-governadores Arruda e Agnelo Queiroz (PT), além do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB).