Cidades

Consumo de crack em Brasília é problema social e de saúde pública

Muitos dependentes praticam assaltos para conseguir dinheiro e sustentar o vício. Parte deles vive nas ruas

Isa Stacciarini, Diego Borges/Especial para o Diário de Pernambuco
postado em 27/05/2017 08:00
Flagrantes de uso de crack na QNM 4, em Ceilândia (acima e abaixo): flagelo desafia diversos setores públicos, como segurança, saúde e social
O crack é a segunda droga mais consumida no Distrito Federal. Fica atrás, apenas, da maconha. O ranking é da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil (Cord) e reforça que o consumo do entorpecente, incrustado nas diversas camadas sociais, vai muito além de um problema da segurança pública. Com alto poder viciante, um dependente químico chega a usar de 20 a 30 pedras por dia. Sem ter como sustentar o vício, muitos entram para o mundo do crime: furtam, roubam e matam.

Embora não haja uma cracolândia fincada no DF, como acontece em São Paulo, o consumo da droga na capital demonstra que não adianta só tirar dependentes das ruas. ;O ideal é conseguir fazer a abordagem para tirá-los das ruas para que possam ter uma nova vida, se quiserem. Agora, dizer que a polícia não pode atuar, é claro que pode;, defendeu o promotor de Entorpecentes do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), José Theodoro Correa de Carvalho.

Ele ressaltou que, no mundo inteiro, diversos países buscam soluções para o crack, mas nenhum resolveu a questão. O Brasil é o maior consumidor mundial de crack, segundo a Polícia Civil do DF.

A substância deriva da cocaína produzida nos países Andinos, como Bolívia, Peru, Colômbia e uma parte da Venezuela (leia Para saber mais). O diretor da Cord, delegado Rodrigo Bonach, explicou que o usuário do crack perde a autodeterminação. ;Ele se afasta de tudo que tem para satisfazer o próprio vício e acaba indo para as ruas para viver em uma situação que é vista em São Paulo. O dependente químico do crack está doente e não consegue se livrar da droga espontaneamente. Por isso, é importante fortalecer as redes de saúde e de acolhimento nas comunidades terapêuticas, aumentar o número de Caps-Ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-Ad), além de repreender de forma qualificada o fornecedor, o que cabe à polícia identificar;, explicou.

No Distrito Federal, há nove Caps-Ad que oferecem atendimento de profissionais de diversas especialidades da saúde, incluindo o médico psiquiatra. De acordo com a Diretoria de Saúde Mental, cerca de 12 mil pessoas são atendidas por problemas relacionados ao uso de álcool e de outras drogas. ;Não tem como ser um usuário recreativo do crack. A pessoa se torna um doente e vira, também, uma questão de saúde pública;, reforçou Rodrigo Bonach. Até março deste ano, as polícias Militar e Civil apreenderam 14,7kg do entorpecente no DF. No mesmo período do ano passado, foram 14,9kg. Em 2016, 141,77 kg. E em 2015, 386,33kg.

Cooperação
Entre as ações de enfrentamento ao uso do crack está uma inspirada em modelo adotado em Goiânia. A subsecretária de Políticas para Justiça, Cidadania e Prevenção ao Uso de Drogas e Vítimas de Violência, Karina Rosso, apresentará ao governador Rodrigo Rollemberg a criação de um Centro de Avaliação Terapêutica de Álcool e Outras Drogas. O projeto piloto seria colocado em prática na sede da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus). ;Faríamos um acordo de cooperação com o governo para trazer esse centro para Brasília, com teleatendimento e demandas de todas as regiões administrativas e do Entorno;, detalhou Karina Rosso.

A iniciativa prevê que o dependente e a família passem por uma equipe multiprofissional composta por enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Esses especialistas traçariam o perfil do usuário, de acordo com as suas necessidades. ;O centro daria mais um apoio aos Centro de Atenção Psicossocial;, resumiu.

Além disso, há, na capital do país, 13 comunidades terapêuticas contratadas pela Sejus. Elas ofertam 316 vagas para tratamento voluntário de dependentes químicos. A expectativa, segundo a subsecretária e Políticas para Justiça, Cidadania e Prevenção ao Uso de Drogas e Vítimas de Violência, é ampliar para 500 até 2019. Estão pendentes a suplementação orçamentária e as emendas.


Para saber mais

O fim da merla

As primeiras apreensões de crack no Distrito Federal ocorreram em 2006. A entrada da droga no Distrito Federal tem uma década, o que é considerado relativamente recente pela Polícia Civil. O entorpecente fez com que, praticamente, desaparecesse uma droga até então produzida no Distrito Federal e bastante consumida em Brasília: a merla. A pedra do crack é obtida a partir de misturas de produtos químicos e bicarbonato de sódio com o sulfato de cocaína, substância conhecida como ;pasta base;. Ela estabelece a dependência química logo após as primeiras doses consumidas e tem conexão com a prática de outros crimes, como roubos, furtos e até homicídios. Na maioria dos casos, esses viciados assaltam para conseguir dinheiro para o consumo do crack.


Ajuda

Confira onde ficam as sete unidades do Caps-AD no Distrito Federal

Muitos dependentes praticam assaltos para conseguir dinheiro e sustentar o vício. Parte deles vive nas ruas
Caps-AD Guará
Endereço: QE 23, Área Especial s/n;, subsolo do Centro de Saúde 2
Telefones: 3567-1967 e 3381-6957
E-mail: capsadguara@yahoo.com.br
Horário de funcionamento: das 7h às 18h, de segunda a sexta-feira

Caps-AD Sobradinho
Endereço: Área Residencial 17, Chácara 14, Sobradinho 2
Telefones: 3901-3325, 3901-3328 e 3485-2286
E-mail: capsadsobradinho2@yahoo.com.br
Horário de funcionamento: das 7h às 18h, de segunda a sexta-feira

Caps-AD Santa Maria
Endereço: QR 312, Conjunto H, Casa 12, Santa Maria Norte
Telefones: 3394-3968 e 3394-2513
E-mail: capssantamaria@yahoo.com.br
Horário de funcionamento: das 7h às 19h, de segunda a sexta-feira

Caps-AD III Samambaia
Endereço: QS 107, Conjunto 8, lotes 3, 4 e 5
Telefone: 3459-2581
E-mail: capsadsamambaia@yahoo.com.br
Horário de funcionamento: 24 horas

Caps-AD Ceilândia
Endereço: QNN 1, Conjunto A, lotes 45/47,
Avenida Leste
Telefones: 3372-1091, 3373-2179 e 3372-1117
E-mail: capsadcei@gmail.com
Horário de funcionamento: das 8h às 18h, de segunda
a sexta-feira

Caps-AD Itapoã
Endereço: Anexo 2, Complexo Administrativo do Itapoã, Quadra 378, Conjunto A, Área Especial 4, Lago Oeste
Telefones: 3369-9428 e 3369-9438
E-mail: capsaditapoa@yahoo.com.br
Horário de funcionamento: das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira

Caps-AD III Rodoviária
Endereço: Setor Cultural Sul, Zona Cívico Administrativa, no antigo Touring
Telefones: 3226-4631 e 3226-4532
E-mail: capsadrodoviariadf@gmail.com
Horário de funcionamento: 24horas

Caps-AD III Taguatinga
Endereço: QNF Área Especial 24, Setor F Norte
Telefones: 3562-7510 e 3351-1918
E-mail: capsadi3@gmail.com
Horário de funcionamento: 24 horas

Caps-AD i III Brasília
Endereço: 714/715 Norte, Bloco C, lojas 1, 2 e 3
Telefone: 3347-9330
E-mail: capsadibrasilia@gmail.com
Horário de funcionamento: 24 horas


Pontos de crack no DF

; QNNs 1,3,11 e 13,
em Ceilândia Norte
; Área central de Ceilândia
; Área central de Taguatinga
(Praça do Relógio)
; Taguatinga Norte (Praça do DI)
; Gama (DVO)
; Rodoviária do Plano Piloto
; Setor de Diversões Norte
; Setor Bancário Norte e Sul
; Setor Comercial Norte e Sul
; Setor Hoteleiro Norte e Sul
; Asa Norte (710, 711, 712 e 713)

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