O músico Cacai Nunes resolveu, em 2006, misturar o trabalho de DJ e o de pesquisador da música regional brasileira. Com acervo amplo de vinis, Cacai criou o Forró de Vitrola, em que bota para tocar clássicos e raridades do gênero de Luiz Gonzaga. O projeto deu tão certo que agora ele levará a iniciativa para a Europa, onde mostrará o projeto em festivais e apresentações em cidades como Roma, Milão, Barcelona e Lisboa.
Cacai lembra que, no início, a ideia era aprofundar mais sobre o gênero e sobre artistas que foram importantes para criar e dar força ao forró, mas que não são tão conhecidos. "Eu já estou dentro do forró há mais de 15 anos, como músico, principalmente. Então, em certo momento, tive vontade de pesquisar um repertório pouco inserido nos bailes, quis buscar compositores mais de origem, intérpretes também", conta.
A partir daí, a ideia foi propagar, cada vez mais, a história do gênero e transmitir um pouco do conhecimento adquirido com as canções que foram importantes para o ritmo. "A discografia da música nordestina é muito vasta, você vai conhecendo um lado bem inóspito e não somente o básico", acredita.
Com o aumento do interesse pelo forró e pela cultura brasileira no exterior, conta Cacai, surgiu a oportunidade de levar o projeto para terras europeias. "Eu observava uma manifestação muito grande de forró na Europa, com festivais, cursos. Então, já estava vendo as possibilidades de tocar lá e agora isso acabou se concretizando", esclarece.
Para o músico e pesquisador, a dança é um dos principais fatores que fazem o forró se destacar fora do Brasil. "Ela aproxima muito as pessoas. Há sempre professores ensinando o forró. Aí o pessoal acaba se interessando e começa a existir uma movimentação para criar essa possibilidade de dançar forró, de promover encontros em que as pessoas vão para isso", argumenta.
A turnê
Países como Suíça, Alemanha, Rússia, Portugal, França, Bélgica e Espanha, segundo o Cacai, possuem, há algum tempo, movimentos sólidos que se dedicam a difundir o forró e a criar grupos de pessoas interessadas pela dança e pelo gênero. "Esses lugares todos, ou têm brasileiros difundindo lá essa cultura, ou mesmo moradores locais que estão potencializando e dando força a essa história de forró", comenta.
A turnê pela Europa, espera o músico, será uma oportunidade para conhecer melhor o interesse de estrangeiros pelo forró e a forma como esses movimentos estão sendo organizados fora do Brasil. "Com essa oportunidade, poderei presenciar e vivenciar isso muito mais de perto, além de levar a cultura brasileira", destaca.
No repertório preparado para a apresentação estão nomes como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jacinto Silva e Ari Lobo. "Quem está bem inserido no estilo conhece-os bastante. Mas, para quem não sabe tanto, alguns nomes podem ser novidade", acredita.
O músico chega à Europa nesta terça-feira. A volta para o Brasil só ocorre cerca de um mês depois, em 30 de junho. "Assim, passarei por muitos locais diferentes;, planeja. O primeiro país a ser visitado por Cacai será a Itália, onde ele toca em um festival. "Além desse, tocarei em outros festivais. No Brasil, esse tipo de evento ocorre também. Nesses festivais, as pessoas se reúnem geralmente em uma área rural e passam dias tocando, dançando. Na Suíça, também será assim", aponta.
Por ser DJ, Cacai conta que, principalmente nos festivais, terá a oportunidade de tocar diversas vezes durante o dia. "Alguns artistas, músicos brasileiros também participarão desses eventos. Vou atuar entre um show e outro apresentando um repertório baseado nesse tipo de forró", prevê.
Além dos eventos dedicados especificamente ao forró, Cacai também se apresentará em projetos em que culturas regionais são o tema. É o caso, por exemplo, do Festival Pé na Terra, de Portugal. "É um festival de músicas tradicionais de várias regiões, tem muito de música africana, por exemplo. Eu vou entrar mostrando o forró", conta.
Violeiro, Cacai revela também que está ainda negociando, mas pretende aproveitar a oportunidade para fazer apresentações como instrumentista na Europa. "Não há nada confirmado, estou indo como DJ. Mas eu vou levar a viola comigo e talvez faça algumas apresentações. Até porque não conseguiria ficar tanto tempo longe dela", explica.
Duas perguntas para Cacai Nunes
Você é um pesquisador da música regional brasileira.
Como isso influencia no seu trabalho como instrumentista e DJ?
Minha história como pesquisador começou para poder ter mais elementos de uma música que eu não pude vivenciar, e agregar isso a um estilo mais contemporâneo. Minha música é feita por alguém de Brasília, que é uma cidade que também não tem muito a própria tradição (e se apropria muito de outras) e está localizada entre Goiás e Minas... Então poder conhecer esses elementos e poder reler esse tipo de informação acrescenta muito.
Qual a importância de levar o forró e a cultura brasileira para a Europa?
A importância é muito grande; a gente tem poucos espaços para isso, então vai criando divulgação desse tipo de música... Até no Brasil, os espaços são restritos, apesar de estar aumentando. É uma porta muito boa que se abre para mim e que pode se abrir para outras pessoas deste universo de música nordestina. Para mim, será importante para criar um vínculo mais constante com eles como músico, pesquisador e DJ.
Itinerário
Algumas das cidades onde o músico tocará com o Forró de Vitrola:
Roma (Itália)
Milão (Itália)
Barcelona (Espanha)
Ilha da Fuseta (Portugal)
Lisboa (Portugal)
Paris (França)
Weggis (Suíça)
Bruxelas (Bélgica)