postado em 30/05/2017 06:03
No início, a ideia era colocar ao menos 10 livros nas prateleiras de um açougue na 312 da Asa Norte. Funcionaria da seguinte forma: o leitor pegava um exemplar, levava para casa e devolvia após a leitura. Com o passar do tempo, o projeto tomou outras proporções. No boca a boca, cada vez mais pessoas souberam da iniciativa e, com isso, os livros, agora frutos de doações, foram parar nas paradas de ônibus. Hoje, são 37 bibliotecas populares espalhadas nos pontos da W3 Norte. De lá pra cá, passou-se uma década. E outros exemplos surgiram. No Sudoeste, uma torteria também empresta livros, assim como um espaço cultural em Taguatinga.
Leia mais notícias em Cidades
Leia mais notícias em Cidades
A contabilização do projeto nas paradas de ônibus é de, ao menos, 200 mil exemplares em circulação por ano. Com o passar do tempo, além do reconhecimento, a biblioteca integrou o cenário da capital do país. Quem vem de fora fica admirado com a iniciativa, que também se espalhou por outras cidades brasileiras, como Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Belém (PA) e Santos (SP). ;Tudo isso surgiu da minha inquietação em levar cultura às pessoas que não têm facilidade de acesso;, detalha Luiz Amorim, responsável pela ONG e pelo Açougue Cultural T-Bone. Ele lembra que a iniciativa também se deu após muita leitura. ;Leio muitos livros de literatura e, com isso, quis também incentivar a arte para o espaço público, uma vez que deu certo no balcão do açougue.;
A manutenção das bibliotecas nas paradas é feita diariamente. Funcionários da ONG percorrem a W3 Norte com um kombi, reorganizando os livros e limpando os espaços. Algumas doações, deixadas nos pontos, são recolhidas para ganhar o selo do projeto e depois voltar às ruas. ;O balanço desses 10 anos de projeto é bastante positivo. São vários depoimentos de pessoas que pegaram algum livro, seja pra curtir uma leitura, seja para auxiliar nos estudos. Claro que tivemos também algumas dificuldades. Vez ou outra, identificamos pessoas recolhendo os exemplares para vender. Quando percebemos alguma situação parecida, tentamos comunicar à população, que nos ajuda de forma bem positiva;, destacou Amorim.
A gerente comercial Simone Lucas, 37 anos, já pegou muitos exemplares para ler e também doou alguns. Há oito anos, a parada da 712 Norte é caminho da moradora do P Sul. ;É um projeto bonito pelo fato de levar a leitura para quem ainda não tinha oportunidade para tal. Por aqui, encontram-se livros de excelente qualidade e dá pra ver o carinho com que os idealizadores cuidam;, ressaltou. Morador da 312 Norte, o advogado José Maria Melo, 70, também é assíduo na leitura dos exemplares disponíveis na biblioteca popular. ;Já li obras de Jorge Amado e outras diversas histórias interessantes. Todas vindas das paradas ou do açougue. Essa é uma forma interessante de disseminar a cultura entre os brasilienses.;
Embriões
Do exemplo do açougue cultural T-Bone surgiram outros projetos. Na unidade da Torteria Di Lorenza da 303 do Sudoeste, os clientes têm a oportunidade de ler um livro enquanto tomam um café ou até levar para casa para concluir a leitura. Na CNF 1 de Taguatinga, os moradores da redondeza contam com a Galeria Olho de Águia, que tem mais de 8 mil exemplares no acervo. As duas iniciativas, inspiradas na biblioteca nas paradas de ônibus, também são mantidas por doações de títulos.
O projeto no Sudoeste começou há menos de um ano, com 60 exemplares. ;Eu tinha alguns livros em casa que já tinha lido e resolvi trazer para o estabelecimento. Eles foram colocados em uma bancada na área do café. A ideia é ler, divertir e devolver para que outro tenha a oportunidade também de acompanhar a obra;, detalhou a dona da torteria, Raquel Rocha Moura. Alguns desses títulos nunca mais foram vistos pela empresária ; o que, para ela, soa como natural nesse tipo de rodízio, afinal, a intenção é que os livros circulem entre os leitores. Porém, na mesma medida em que alguns exemplares sumiram, outros foram doados. E é justamente a doação que alimenta o projeto. ;Aqueles livros cuja leitura é mais curta devem ser lidos na loja. Os exemplares maiores estão livres para serem levados. Quem quiser doar pode deixar na loja mesmo;, explica.
Frequentador assíduo do estabelecimento, o servidor público federal Pio Alves, 58 anos, vê com bons olhos o projeto. ;A iniciativa é válida, uma vez que dá oportunidade para quem gosta de ler um livro diferente;, conta. Porém, ele se atenta a um aspecto. ;O brasileiro ainda não tem o hábito da leitura. Infelizmente, hoje poucas pessoas têm o costume de ler alguma obra. Projetos assim ajudam bastante a disseminar a cultura, mas também é preciso que os possíveis leitores nutram o interesse.;
[VIDEO1]
Em Taguatinga, o sistema funciona da mesma forma. No local, apenas é feito um pequeno cadastro do leitor. A biblioteca da Galeria Olho de Águia surgiu em 2012 e, desde então, virou ponto de leitura para moradores da região. Basta comparecer de terça-feira a sexta-feira para pegar algum exemplar. Por lá, as doações também são bem-vindas. ;São livros pequenos, grandes, romances, revistas... boa parte vinda de doações. A nossa intenção é expandir ainda mais nossa biblioteca e, quem sabe, criar um espaço aqui mesmo destinado à leitura rápida;, detalhou Ivaldo Cavalcante, um dos idealizadores. Ainda segundo ele, a intenção também é fazer com que o público local use ainda mais a região da CNF. ;Quanto mais abrir para o público e quanto mais compartilharmos esses exemplares, melhor para a comunidade;, pontuou.
Onde ler?
Bibliotecas Populares
Paradas de ônibus da W3 Norte
Açougue Cultural T-Bone, na 312 Norte, Bloco B, Loja 27
Torteria Di Lorenza Sudoeste
CLWS 303 ; Rhodes Center III
Galeria Olho de Águia
CNF 1 de Taguatinga ; Edifício Praiamar, Loja 12