Luiz Calcagno
postado em 31/05/2017 06:00
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Uma jiboia do tipo Boa constrictor amarali moradora do Zoológico de Brasília passou por um longo processo de reabilitação e está pronta para a soltura. Entregue à instituição pela Polícia Militar Ambiental com ferimentos em 2007, ficou sob os cuidados de veterinários que a recuperaram. Mas, a parte mais difícil para os especialistas foi readaptar o comportamento do animal, que estava quase domesticado. O réptil ficou tempo demais sob a tutela humana e precisou reaprender a encontrar a própria comida. O Zoo aguarda apenas a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que levará o espécime para o habitat natural.
Já a tatu-canastra Maria Bonita, mais conhecida como Mabu, não teve a mesma sorte. Chegou à instituição quase bebê, em 2015. O comportamento terno do animal diverte, mas ela está condenada a viver em cativeiro, pois nunca aprendeu o hábito de encontrar o próprio alimento. Ainda assim, ela poderá auxiliar na reprodução da espécie e servir de objeto de estudo, já que há pouca literatura científica disponível sobre o bicho.
Ambas as situações ilustram bem a nova política conservacionista do Zoológico de Brasília. O estabelecimento possui, hoje, 826 espécimes, sendo 250 no programa de soltura e 120 reabilitados e prontos para voltarem para seus respectivos habitats. A meta é criar um ciclo em que a instituição receba novo plantel e dê continuidade aos trabalhos de reabilitação dos mais aptos. Os demais, como Mabu, garantirão a variabilidade genética de animais livres e de espécimes de outros zoológicos brasileiros. Novos filhotes terão, ainda, maiores chances de passarem por uma readaptação e serem devolvidos à natureza.
Há, ainda, uma terceira finalidade, de acordo com o diretor-presidente da instituição, Gerson de Oliveira Norberto, que é educar os visitantes. Até o fim de 2018, a instituição passará por uma série de reformas para que os viveiros dos animais fiquem mais parecidos com os habitats dos espécimes, em alguns casos com vidros à prova de som e locais em que o animal possa ficar caso não queira ser visto.
Mas o trabalho é árduo. Para se ter uma ideia, um réptil leva ao menos um ano para ser reabilitado; uma ave como o papagaio, por exemplo, e mamíferos como o lobo-guará e a raposa do campo, de três a quatro anos, e um primata, mais de cinco anos. ;Cuidamos, ainda, de 27 espécies ameaçadas e priorizamos esses animais no programa de soltura. Articulamos as áreas de soltura com o Ibama, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a Secretaria do Meio Ambiente. Não temos por que ficar com um determinado animal se não for para trabalhar para a conservação;, afirma o gestor.
O Zoológico de Brasília tem, entre os espécimes do programa de soltura em fase de reabilitação 13 tamanduás-bandeira, sendo 12 do cerrado e um da Amazônia. Ainda segundo o assessor de conservação e pesquisa aplicada do Zoo, Igor Morais, a maioria dos animais em zoológicos no mundo foram resgatados do tráfico .
Risco
As placas dos espaços serão trocadas e trarão novas informações, para que o brasiliense compreenda melhor o valor dos animais em um ecossistema que inclui, também, os homens. ;No Brasil, graças ao trabalho de zoológicos, conseguimos tirar do risco de extinção o mico-leão-da-cara-dourada e o lobo-guará, por exemplo. O Zoo deve fazer parte de uma estratégia de conservação da natureza;, explica.
Entre as reformas, haverá ampliação de alguns espaços, como o dos macacos do gênero bugio. Norberto explica que o ambiente é inadequado para a família que vive no espaço. ;Está totalmente de acordo com a lei. Segue todos os padrões exigidos. Mas esses macacos deveriam ter acesso às alturas maiores. Talvez seja interessante incluir uma árvore no viveiro. Isso também daria a chance de o animal se esconder caso se sentisse incomodado. O local de dormir também é inadequado. É frio. Colocaremos mais madeira. Mas é um processo longo e ainda estamos no começo;, detalha.
Um sonho de liberdade
Para devolver o animal para a natureza após a reabilitação, há ainda mais trabalho. É preciso verificar, dentro dos locais possíveis, qual terá disponibilidade de alimento para o bicho. Outro ponto importante é que as características genéticas de uma mesma espécie variam de região para região e é preciso saber se não há risco de degeneração em caso de soltura de um bicho em uma área distante de sua origem.
Por último, técnicos colocam um rádio transmissor no indivíduo para monitorá-lo por cerca de um ano. ;É preciso saber se a área tem capacidade de suporte, se possui abrigo e alimento e se a soltura na região é geneticamente vantajosa. Temos um jabuti-tinga que é da região amazônica e está reabilitado. Então, buscamos parcerias para levar o animal de volta;, exemplifica Igor.
Réptil rastejante
De nome científico Boa constrictor, a jiboia, é uma serpente que sufoca e aperta suas presas para devorá-las. É a segunda maior cobra do Brasil, perdendo apenas para a sucuri. O gênero amarali, também conhecido como jiboia cinzenta, pode chegar a dois metros. Sua prima, a Boa constrictor constrictor atinge o tamanho máximo do bicho e chega a quatro metros de cumprimento.
Grande família
Encontrado, principalmente na América do Sul, o tatuaçu, ou tatu-canastra, pode medir mais de 1 metro de cumprimento e é o maior de sua espécie. De nome científico Priodontes maximus, o bicho cava buracos para sobreviver e se alimenta
de animais pequenos e insetos como o cupim.