Luiz Calcagno
postado em 01/06/2017 06:00
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Cinco dublês fantasiados de heróis espaciais acabam confundidos com guerreiros e precisam enfrentar monstros reais para salvar a Terra e montar o próprio estúdio de filmagens. O argumento do jogo Chroma Squad ; Esquadrão Cromático, em tradução livre ;, totalmente produzido em Brasília pela empresa de indie games Behold Studios, vai do cômico ao nostálgico. Apresenta uma história improvável, com um visual retrô de pixel art e baseado na franquia japonesa Super Sentai, produzida pela Toey Company (leia Para saber mais), que trouxe para as telinhas brasileiras clássicos heróis coloridos da década de 1980 e 1990, como Esquadrão Relâmpago Changeman e o Comando Estelar Flashman (e seus respectivos robôs gigantes). O jogo foi desenvolvido de forma independente pelos cinco sócios e é o primeiro da capital federal a ser vendido em consoles como XBox One e PlayStation, ao lado de famosos títulos internacionais.
O grupo de heróis acidentais tem como mentor um cérebro gigante imerso em um tanque transparente, em um líquido rosa, encontrado acidentalmente pelos dublês em um barracão abandonado. A medida que o jogo avança, é possível customizar os heróis, que começam com um visual bem parecido com o dos Power Rangers. Os desafios também mudam. O jogador usa o cenário para traçar estratégias e eliminar os monstros ; nos moldes de um RPG tático ; mas, a cada fase, enfrenta inimigos mais fortes e até disputas e desentendimento entre os cinco dublês. O resultado das escolhas levarão os vencedores a pelo menos quatro finais diferentes. A equipe desenvolveu a história, os desafios, a arte do jogo, o design dos personagens, os cenários e até as músicas. O roteiro conta com 23 mil palavras e, facilmente, mais de 1 mil falas.
Embora a ideia fosse original, a semelhança dos heróis com os Power Rangers obrigou os sócios a licenciarem o jogo com a Saban Brands, produtora estadunidense de seriados responsável pela produção dos discípulos de Zordon no cinema e detentora dos direitos no continente americano. Com isso, 15% dos lucros obtidos passaram a pertencer à empresa americana. O empecilho, no entanto, transformou-se em vantagem, já que a produtora intermediou o contato do Behold Studios com a Bandai, que lançou o Chroma Squad nos consoles.
;Nós começamos a desenvolver o jogo em 2013 e, em 2015, lançamos para celulares, computadores e tablets. O segundo lançamento, para consoles, aconteceu em 19 de maio, na última sexta-feira. Vemos nosso trabalho ao lado de títulos mundialmente reconhecidos, como Destiny, Last of Us e Final Fantasy;, enumera o diretor de arte do projeto, Hugo Vaz.
Indie
Outro jogo do grupo, projetado para celular e computador, o Knights of Pen & Paper, Cavaleiros da pena e do papel, em tradução livre, que homenageia os RPGs de mesa, abriu caminho para a produção do Chroma Squad. O sucesso deu aos produtores fôlego e aporte financeiro para o novo projeto idealizado por Saulo Camarotti. ;A empresa começou em 2009, incubada na Universidade de Brasília (UnB). A oportunidade foi perfeita para colocar o trabalho em prática e desenvolver os primeiros jogos. Até 2011, produzimos uns 10. Mas ganhamos apenas o suficiente para pagar os funcionários da empresa, que acabou congelada em 2011. Mas continuamos fazendo jogos por nós mesmos. Queríamos continuar e trabalhávamos, muitas vezes, em cafés e livrarias e, nessa situação, fizemos o Knights of Pen & Paper;, recorda Hugo.
A equipe faz os jogos no programa Unyt 3D, e contrata funcionários de acordo com a necessidade do projeto. ;Tem que ter alguém, por exemplo, para sentar e escrever. O Guilherme Mazzaro escreveu a história. Mas, tudo a gente faz meio que juntos. Cada grupo de desenvolvedores tem responsabilidade por uma parte do trabalho, mas sempre sentamos para que todos saibam o que está sendo feito;, detalha o responsável pelo desenho dos personagens e pela animação, o artista Bruno Briseno.
Com a Behold Studios de volta à ativa, eles se uniram a outras duas empresas e montaram a Indie House, ou Casa Indie. Alugaram uma residência na QI 12 do Lago Norte e dividiram os espaços para cada grupo de desenvolvedores.
O plano, no entanto, é se mudar para a Indie Warehouse, ou Armazém Indie, onde dividirão espaço com outras empresas e farão eventos para reunir produtores independentes de games da capital para troca de experiências e exibição e crítica de jogos em produção. ;É uma realização. Eu jogava videogame com meus irmãos. É um ciclo se fechando;, explica Bruno Briseno.
Para saber mais
Heróis da Rede Manchete
A franquia Super Sentai, que acabou virando o nome do estilo de programa, foi produzida pela Toey Company e está no ar, nas tevês japonesas, desde 1975. Os programas ganharam fama no Brasil e foram exibidos, em sua maioria, pela extinta Rede Manchete. O termo japonês sentai significa esquadrão, em tradução livre.
Entre os sentai famosos estão o Esquadrão Relâmpago Changeman e o Comando Estelar Flashman, exibido no fim da década de 1980 e início de 1990, a série teve 55 episódios e dois filmes. Os heróis tiravam seus poderes das constelações de dragão, de uniforme vermelho, pegasus, de azul, grifo, de preto, sereia, de branco e fênix, de rosa.
O Comando Estelar Flashman, por sua vez, tirava seus poderes das cores vermelho, verde, azul, amarelo e rosa. Os episódios foram exibidos pela Manchete de 1989 a 1992 e, posteriormente, pela Rede Record, de 1994 a 1996, com 50 episódios e dois filmes. Outras variações incluem o Grande Esquadrão GoGo Five e, também, os Power Rangers.
Produção independente
Os indie games são jogos eletrônicos programados independentemente, por uma equipe, ou por uma pessoa. Softwares como o Unyt 3D e o Game Maker são exemplos de programas que tornam a produção independente possíveis. Uma das vantagens dos aplicativos é que os jogos são feitos em uma plataforma mista, que pode ser rodada tanto em tablets e smartfones, quanto em computadores, sem necessidade de portabilidade.
Super Sentai americano
Power Rangers é uma franquia iniciada no Japão e, posteriormente, vendida para a Saban Brands. A primeira versão do programa mesclava as imagens produzidas no oriente, com os cinco heróis fantasiados, com a dos atores americanos. Com o tempo e inúmeras versões, a série passou a ser considerada uma adaptação americana dos Super Sentai. O programa começou a ser exibido em sua versão americana em 1993.