Cidades

Delações da JBS levam à investigação de procurador e advogado do DF

O Ministério Público Federal pediu investigação do procurador da República Ângelo Goulart Villella e do advogado Willer Tomaz de Souza, detidos desde 18 de maio. Autos sobre presidente da OAB-DF serão analisados pelo órgão

Helena Mader
postado em 07/06/2017 06:00 / atualizado em 14/10/2020 13:47
Ângelo Goulart e Willer Tomaz são acusados de corrupção, violação de sigilo e obstrução à investigação
Acusado de subornar o procurador da República Ângelo Goulart Villella para tentar atrapalhar as investigações da Operação Greenfield, o advogado brasiliense Willer Tomaz de Souza foi denunciado pelo Ministério Público Federal à Justiça. O representante do MP suspeito de corrupção também é alvo da denúncia. A Procuradoria Regional da República da 3ª Região, em São Paulo, determinou ainda o envio da cópia dos autos ao MPF no Distrito Federal, para apuração dos fatos relacionados ao advogado Juliano Costa Couto, presidente da OAB-DF, mencionado por delatores.
 
 
 
Ângelo Goulart e Willer Tomaz foram denunciados pelos crimes de corrupção, violação de sigilo e obstrução à investigação de organização criminosa. Eles estão presos preventivamente desde o último dia 18, desde a deflagração da Operação Patmos. As apurações começaram a partir das delações do empresário Joesley Batista, da JBS, e de seu advogado, Francisco de Assis e Silva.

Para fechar um contrato de R$ 8 milhões com Joesley, Willer Tomaz prometeu interferir junto ao Ministério Público Federal e também na primeira instância da Justiça Federal. Nas tratativas, ele garantiu ter influências sobre o procurador Ângelo e contou ter proximidade com o juiz substituto da 10ª Vara Federal, Ricardo Soares Leite.

O magistrado é responsável por processos relativos à Operação Greenfield. Na denúncia, a Procuradoria Regional da República em São Paulo pediu a remessa integral dos autos à Presidência do Tribunal Regional Federal (TRF1) para a Procuradoria Regional da República na 1ª Região, “para que sejam adotadas as providências cabíveis em relação aos fatos relacionados ao juiz federal Ricardo Leite”. A intimidade de Willer com o magistrado poderia ajudar a defesa da Eldorado, empresa controlada pelo conglomerado JBS.

Willer teria deixado claro, entretanto, “que não havia propina, apenas amizade e proximidade com o juiz”. O empresário delator exigiu um jantar com o juiz e com o advogado, o que nunca ocorreu. O contrato com Willer previa a remuneração de R$ 4 milhões de honorários iniciais e R$ 4 milhões por êxito, ou seja, em caso de arquivamento do inquérito. Em nota, a 10ª Vara Federal declarou serem “infundadas quaisquer declarações do investigado Joesley Batista sobre eventual interferência na condução das investigações”.

Em uma das tratativas com o advogado Francisco de Assis e Silva, Willer teria reclamado do valor de R$ 8 milhões negociado inicialmente. “Na conversa, o advogado Tomaz reclamou dos honorários, cobrou mais por tudo que estava oferecendo e falou que um terço do que cobrou foi para Juliano Costa Couto, um terço foi para André e o restante foi para alguém que não se lembra quem foi”. Segundo as investigações, a remuneração para o procurador Ângelo Vilella seria de R$ 50 mil mensais.

O MP pediu investigações sobre o André mencionado por Francisco. As apurações indicam que o advogado fazia referência ao publicitário André Vieira da Silva. A procuradoria não apresentou denúncia contra Francisco de Assis e Silva e Joesley Batista por causa dos acordos de colaboração premiada firmados com a Procuradoria-Geral da República e homologados pelo STF.

O caso vai tramitar no Tribunal Regional Federal (TRF3), em São Paulo, porque era o local de atuação do procurador Ângelo Goulart. A Corte abrirá prazo para que os advogados dos dois acusados apresentem defesa prévia e, em seguida, decidirá se recebe ou não a denúncia. Os procuradores regionais da República Janice Ascari, Uendel Domingues Ugatti e Paulo Taubemblatt foram designados pela PGR para atuar no caso.

Lobby

A mansão onde funciona o escritório de Willer, na QI 1 do Lago Sul, era um ponto de encontro de poderosos. O vice-governador Paulo Octávio, que arrendava ao advogado o comando da Rádio JK, é uma das personalidades que já foram ao local. O procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bessa, esteve no escritório de Willer poucos dias antes da Operação Patmos. Segundo ele, a visita oficial tinha o objetivo de discutir um programa institucional do MPDFT na Rádio JK. A mansão localizada na ponta da quadra foi alvo de outras polêmicas. No primeiro mandato de Lula, o espaço sediou reuniões de lobby e festas com garotas de programa pela chamada “República de Ribeirão Preto”, com a presença do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Willer comprou a casa no fim de 2015 por R$ 2,7 milhões, pagos à vista.

A reportagem procurou as advogadas do procurador Ângelo Goulart, Luciana Lossio e Daniela Maroccolo, mas elas não retornaram as ligações. João Marcos Braga de Mello, advogado de Willer Tomaz, disse que a defesa não vai comentar a denúncia e só se manifestará nos autos.

Juliano Costa Couto disse que está muito tranquilo com relação à investigação e garantiu “que será uma excelente oportunidade de esclarecer todos os fatos e encerrar esse assunto”. O presidente da OAB reafirmou que apresentou Joesley Batista a Willer Tomaz, “até aquele momento um advogado com muito êxito e experiência”, mas acrescenta que não participou do processo nem jamais foi contratado para atuar em defesa da empresa Eldorado. “Se possível, pretendo me antecipar e ir ainda nesta semana ao Ministério Público para prestar todos os esclarecimentos”, finalizou Costa Couto.

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