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Veja semelhanças entre o caso Pedrinho e o sequestro do bebê no Hran

O recém-nascido sequestrado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) tem história parecida com a de Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, levado da maternidade de um hospital particular em 1986

Otávio Augusto, Renato Alves
postado em 07/06/2017 13:00

O bebê recém-nascido resgatado após sequestro no Hran (E) e Pedrinho, à direita, encontrado 16 anos após o rapto

Dois recém-nascidos roubados em uma maternidade de Brasília e muitas semelhanças a enormes diferenças entre um caso e o outro. As duas maiores coincidência deles: assim como Pedrinho, há 31 anos, quem sequestrou o menininho no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), nesta terça-feira (6/6), era uma ex-estudante de enfermagem; as duas raptoras simularam gravidez para enganar a família.

A diferença é que, no primeiro crime, a ladra, a então comerciante Vilma Martins Costa, se passou por profissional de saúde para entrar no Hospital Santa Lúcia e levar a sua vítima, com um dia de vida. No mais recente, a acusada, Gesianna de Oliveira Alencar, 25 anos, é ex-estudante de enfermagem. Ela raptou Johny dos Santos Júnior, no 12; dia de vida dele. A criança receberia alta ainda na manhã desta quarta-feira (7).

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Moradora de Goiânia, Vilma simulou uma gravidez e sequestrou Pedro Rosalino Braule Júnior, em janeiro de 1986, para forçar o companheiro, Osvaldo Martins Borges, a se casar com ela. Osvaldo se separou da família e criou Pedrinho com Vilma, em Goiânia, como se fosse seu filho legítimo. A farsa só foi descoberta em 2002, após a morte de Osvaldo. A suspeita do crime foi confirmada com teste de DNA, em 8 de novembro daquele ano. Pedrinho tinha sido registrado por Vilma como Osvaldo Martins Borges Júnior.

[SAIBAMAIS]Moradora do Guará 2, Geisianna havia dito a familiares e amigos que engravidou no fim de 2016. Chegou a publicar fotos com uma suposta barriga da gestação, coberta por roupa, nas redes sociais. Queria um filho de qualquer maneira. Escolheu Johny dos Santos Júnior.

Sara Maria da Silva, 19 anos, deu à luz o menino em um posto de saúde na Estrutural, em 25 de maio. Desde então, mãe e filho estavam internados em um quarto conjunto no 2; andar do Hran, onde Geisianna é acusada de ter entrado e praticado o crime.

Segurança falha

Ambos os casos evidenciaram falhas na segurança das unidades de saúde. Em janeiro de 1986, o Santa Lúcia não tinha câmeras de vigilância nem um controle rígido de visitantes. Tanto que Vilma esteve no hospital mais de uma vez, entrou e circulou livremente. Teve tempo de escolher a vítima com o perfil desejado. E saiu com Pedrinho pela porta da frente, sem ser incomodada.


Maria Auxiliadora Rosalino Braule Pinto, mãe de Pedrinho, à época que ele foi sequestradoNo caso do Hran, havia 28 câmeras de vigilância, mas nenhuma estava funcionando. Elas não filmaram nada, muito menos gravaram algo. Falta explicar como a sequestradora entrou na unidade de saúde pública, circulou pelos corredores e salas e saiu com um bebê, que não era dela.

Demora x agilidade

O drama da família de Pedrinho começou em 1986, na maternidade do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e só acabou 16 anos depois. Disfarçada de enfermeira, Vilma Martins Costa chegou ao quarto onde a mãe de Pedrinho se recuperava do parto e roubou o bebê. Mas a Polícia Civil demorou a dar início à investigação, que começou na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) e só terminou graças a uma denúncia anônima.

Em vez de mandar as equipes logo para rua, à procura de suspeitos, policiais civis começaram investigando Jayro Tapajós, o pai do bebê roubado. Perderam tempo. Jayro era vítima. E antes do teste de reconhecimento de paternidade, em 2002, os pais verdadeiros de Pedrinho, Jayro e Maria Auxiliadora Braule Pinto, receberam vários alarmes falsos, endossados pela polícia brasiliense. Chegaram a fazer, ao todo, cinco exames de reconhecimento de paternidade. Chegaram a ficar com uma das crianças, apontadas erroneamente pela Polícia Civil como Pedrinho, por quase um mês.

Mãe biológica de Pedrinho dando informações para o retrato falado da sequestradoraHistória bem diferente do bebê raptado na última terça-feira. Assim que uma enfermeira deu falta da neném, comunicou à direção do Hran, que acionou um policial militar. Este, logo colocou a informação na rede de comunicação da PM, que acionou a Polícia Civil. As primeiras buscas começaram com vigilantes e policiais militares. Todos que entravam ou saíam da unidade passaram por revista. O clima era de confusão. A suspeita era que uma mulher loira, com duas bolsas, uma azul e uma cinza, levou o menino. Ela poderia estar usando uma peruca para se disfarçar.

Em vez da delegacia da área, a Polícia Civil passou o caso de imediato para uma equipe especializada da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS). Meia hora depois do rapto, investigadores estavam no Hran e na rua, em busca de pistas. Sem alarde, sem acusar um familiar da vítima, em menos de 24 horas, encontraram a suspeita com o bebê, na casa dela dela, no Guará.

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