Luiz Calcagno
postado em 08/06/2017 06:00
Moradores da QE 38 do Guará 2, endereço de classe média da região administrativa, estranharam o movimento além do normal na quadra na tarde de terça-feira. Carros desconhecidos rondavam a região e grupos de pessoas foram vistas conversando em diversos locais da quadra. Ontem, ligaram os pontos. Equipes da Polícia Civil circulavam no local à espera de Gesianna de Oliveira Alencar, acusada de roubar um bebê no Hran. Entre as pessoas que concordaram em conversar com a reportagem, o clima era de surpresa e incredulidade. Conhecida na região como uma pessoa tranquila, a mulher que morava com o marido, na casa da avó, foi presa na manhã de quarta, pouco depois de chegar em casa com a criança.
[SAIBAMAIS] Os moradores pediram para não ter o nome revelado. Uma senhora de 64 anos contou que conheceu Gesianna ainda pequena e que ;nunca imaginaria que ela cometeria um crime como este;. A moradora destacou que via a mulher caminhar pela região com a avó e que a barriga parecia genuína. ;Na tarde de ontem (terça) vi um movimento estranho. Mas não sabia do que se tratava. Comentei com uma vizinha, que supôs que fosse pregação religiosa. Essa menina não tinha motivos para inventar uma coisa dessas. A conheço desde criança. Na segunda, a vi sair, perguntei pelo bebê e ela disse que estava para nascer e, na terça, a avó passou aqui e me contou que a criança tinha nascido. Ela deve estar com algum problema psicológico;, supôs.
Comunicativa
Uma amiga, também moradora da região assentiu, e questionou, ainda se a família não desconfiou de nada. ;Como a pessoa mente por tanto tempo? Ela precisa de um tratamento. Algum mal que ela estava sofrendo deve ter desencadeado isso;, afirmou. Um amigo de Gesianna também comentou o fato. ;Frequentamos a mesma igreja de 2009 a 2011, mais ou menos. Depois ela se afastou, se casou e perdemos o contato. Sei que a avó deu um apartamento no andar superior da casa quando eles se casaram. Soube por uma amiga em comum que ela tinha sido presa. Eu a via sempre com o marido e não reparei na suposta gravidez. Ela é uma pessoa tranquila, comunicativa, que trata bem os outros. Ela teve oportunidade na vida, estudou. Eu fiquei chocado com a notícia;, contou.
A barriga de Gesianna parecia verdadeira para os moradores da quadra. ;Ela é magra e a barriga aparecia bem. Cheguei a acenar para ela na semana passada, e perguntar como ela estava e ela respondeu que nascia daqui a pouco;, recordou outra vizinha. ;Eu a vi grávida, passeando com a avó. Nunca pensei que pudesse ser algo forjado. É uma história triste. Ficam as dúvidas. Porque alguém faz uma coisa dessas? Será que estava com algum problema? Ela parecia ter tudo para estar bem;, lamentou outra. A equipe do Correio tentou falar com a família da jovem. Uma prima conversou informalmente com a reportagem e disse que não seria possível, pois todos estavam ;surpresos e muito abalados;. Eles chegaram a acionar a Polícia Militar na tentativa de dispersar jornalistas que conversavam com vizinhos na região.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Prisão de até seis anos
Gesianna de Oliveira Alencar corre sério risco de ficar na cadeia por um longo tempo. De acordo com o advogado criminalista Luís Henrique Machado, no caso de sequestro e por se tratar de um crime praticado contra menor de 18 anos (no caso trata-se de um bebê de 13 dias), a pena de reclusão varia entre dois e seis anos. ;Se, neste sequestro, for provado maus-tratos ou grave sofrimento físico ou moral à vítima, a pena de reclusão é aumentada de dois a oito anos;, acrescentou.
Machado observou, porém, que, caso seja comprovado que a sequestradora tenha problemas psicológicos, o artigo 26 do Código Penal entende que ;se ela for inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato;, ela poderá ser isenta de pena. Se for comprovada apenas perturbação de saúde mental, a acusada pode ter a pena reduzida de um a dois terços. ;Claro que tem de estar validado por uma perícia judicial;, afirmou.
Avaliação psicológica
Para a professora associada no Programa da Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura (PCL) do Instituto de Psicologia na Universidade de Brasília (UnB), Daniela Chatelard, as razões que levaram Gesianna a sequestrar o bebê podem ser diversas. ;Em primeiro lugar, é preciso analisar o histórico emocional da moça. É necessário saber a história de vida dela. Como era a relação dela com a mãe, com a avó, por exemplo. A história de maternidade, que pode estar mal resolvida na cabeça dela. Ela precisa ser avaliada;, destacou.
Segundo Daniela, é possível que Gesianna tenha alguma patologia, como psicopatia. ;Ou o sequestro pode ter sido fruto de fantasias infantis. São grandes as chances de que ela tenha algum transtorno mental, pois cometeu um crime. Mas o mais importante agora é ouvi-la, acompanhá-la, avaliá-la, para tentar entender o que aconteceu. O desejo de ser mãe, de ter um filho, não justifica um crime. Ainda não podemos afirmar exatamente o que levou Gesianna a sequestrar o neném, pois as informações sobre ela são rasas. Ela precisa passar por uma avaliação psicológica.;
Com informações de Deborah Fortuna (Especial para o Correio) e Isa Stacciarini