Cidades

Especialistas: não se pode descartar que Gesianna tenha distúrbios mentais

O Correio conversou com psicólogas que analisaram detalhes do sequestro de Johny e alertaram sobre as doenças mentais

Gabriela Vinhal, Thaís Cunha
postado em 08/06/2017 17:09

O Correio conversou com psicólogas que analisaram detalhes do sequestro de Johny e alertaram sobre as doenças mentais

A história de uma mulher que sequestrou um bebê que estava internado em um hospital público do Distrito Federal chocou o Brasil nesta semana. O Correio conversou com especialistas que pudessem explicar a motivação de Gesianna de Oliveira de Alencar, 25 anos, para roubar o pequeno Johny Júnior. As psicólogas ouvidas, no entanto, consideram que ainda é precipitado dar um diagnóstico concreto sobre a mulher. Contudo, dizem, há indícios de que ela tenha distúrbios psicológicos, possibilidade que deveria ser levada em conta ao se analisar o caso. Elas alertam, ainda, sobre a importância de se prestar atenção e oferecer cuidados a pessoas que apresentam sinais de transtornos mentais.

[SAIBAMAIS] Para a psicóloga Ana Cristina de Alencar, o fato de Gesianna ter usado, por mais de cinco meses, uma barriga falsa e compartilhado fotos nas redes sociais saudando a gravidez mostra que o sequestro não foi uma atitude impulsiva, mas planejada. A criança teria sido idealizada ; mentalmente ; por ela ao longo desse período, como se, de fato, a estivesse gerando. ;Como o bebê era esperado, não significa que, para ela, fosse uma gestação simbólica. Na cabeça de Gesianna, a atitude dela poderia até descaracterizar o sequestro como um crime, porque ela poderia achar que o filho era dela;, pondera.
Aparentemente consciente, a mulher foi presa em casa, no Guará II, pela Polícia Civil, na quarta-feira (7/6). Ela foi ao hospital dias antes de sequestrar Johny e conversou com a mãe dele, Sara Maria da Silva, 19 anos, que, por sua vez, explicou o motivo da internação do filho. Segundo a especialista, a visita de Gesianna à unidade e o discurso organizado utilizado por ela após ter sido encontrada não são suficientes para se descartar a possibilidade de ela viver uma realidade delirante. ;Talvez, Gesianna autorizasse tomar essa atitude (pegar para si o bebê) por meio de sua lógica própria. Ela estava nitidamente obcecada pela maternidade;, aponta.

Doença mental e paternidade

O Correio conversou com psicólogas que analisaram detalhes do sequestro de Johny e alertaram sobre as doenças mentais As mensagens de whatsApp entre Gesianna e o marido, divulgadas pela polícia, mostram o momento exato em que ele foi avisado sobre o falso nascimento do filho. Apesar de a mulher dizer que a visita ao neném era proibida no dia, a naturalidade com que o esposo recebe a notícia deixou a psicóloga Telma Gualberto reflexiva quanto à paternidade. Para ela, esse pode ser um indicativo de que o casamento dos dois não tinha diálogo e que Gesianna estivesse doente "há muito tempo, sem ninguém perceber isso".
"Muitas vezes, o adoecimento mental precisa chegar a uma situação drástica para que as pessoas o percebam, como aconteceu em os outros episódios, como o da mãe que jogou o filho no Lago Paranoá. Não conseguimos enxergar sintomas;, alerta Telma. A psicóloga diz ainda que é preciso ter mais seriedade para lidar com as doenças mentais e ressalta a necessidade de acompanhamento adequado para Gesianna.
Em depoimento à polícia, o marido da acusada disse que não sabia da gravidez falsa, pois não tocava a mulher havia mais de cinco meses, e não a via nua. Telma avalia que, sendo o depoimento verdadeiro, há um claro distanciamento do casal. O marido teria participado dessa gravidez apenas durante a ;suposta concepção;, de forma biológica. Ela ressalta, entretanto, que essa relação deve ir além: a primeira ecografia, o diálogo sobre a gestação e, principalmente, o momento do parto. ;Que contato esse esposo teve com ela? Em um casal de classe média, geralmente, as pessoas querem partilhar o tempo todo a gestação. Essa moça fala ;vou ganhar neném; e acabou?;, questiona.

Pressão social

Não foi a primeira vez que uma mulher sequestrou um bebê em um hospital. De acordo com Telma, a dinâmica social em que a pessoa está envolvida pode ajudar no entendimento de algumas atitudes. Além desse contexto, há também a pressão social quanto à capacidade da mulher de ser mãe: ;Elas querem mostrar a maternidade à sociedade. A pessoa sente a necessidade de criar uma criança, independentemente de ser mãe biológica ou não;.

Gesianna teve seu flagrante revertido em prisão preventiva na tarde desta quinta-feira (8/6). A advogada dela, Leda Rodrigues Rincon, entrou com pedido de liberdade provisória para a cliente. Para a defesa, a acusada não precisaria estar presa, mas, sim, internada. ;Vou conversar com a família sobre a possibilidade de internação em uma clínica psiquiátrica. Ela não está vivendo na realidade e precisa de tratamento. Chegou a perguntar, pela manhã, onde estava o seu bebê;, contou. A família dela pretende doar o enxoval do suposto bebê para Johny Júnior.

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