Alessandra Modzeleski - Especial para o Correio
postado em 16/06/2017 19:15
Está cada dia mais comum ver crianças vidradas em celulares, computadores e televisões. Mas será que a ligação dos pequenos com a tecnologia para por aí? A Campus Party em Brasília prova que não. E, segundos os pais, o segredo é estímulo que essa molecada recebe diariamente em casa.
Nos palcos da feira, crianças têm espaço para palestrar e ensinar adultos como empreender e até programar. A paulista Manuela Peixoto, 9 anos, conhecida como Meroti começou a empreender aos 6 anos e deu um show sobre como correr atrás daquilo que se quer.
De acordo com o pai, Evandro Peixoto, Manuela queria uma boneca de R$ 200. Ele deu a metade do valor e disse a filha para conseguir restante. "Achei que ela pediria aos avós, mas não. Ela pesquisou na internet como fazer pulseiras de elástico, que estavam na moda à época, e começou a pintar quadros. Ela vendeu os produtos no salão de beleza da mãe e logo conseguiu juntar o dinheiro;, conta.
Até hoje a pequena empreende e, segundo o pai, por escolha própria. "O negócio da Manu não é por causa do dinheiro. É um empreendedorismo social. Ela faz muitas vezes para ajudar alguém. E se quando ela crescer optar por trabalhar com outra coisa, não quiser mais dar palestras e nem ter um negócio próprio, é ela quem decide", explica Evandro. Manu é categórica ao dar um conselho para crianças que desejam fazer algo grande na vida: "Não pensem só coisas brilhantes. Criem coisas brilhantes", disse.
Segundo Evandro, o desempenho da filha não tem segredo. "Nós estimulamos ela. Crianças são um diamante que devemos lapidar e não deixar em um quarto sem aprender nada", disse.
Para Matheus Moraes, 11 anos, a lição é a mesma. "Toda criança pode ser um gênio, mas precisa ter o apoio da família", enfatizou Moraes. Conhecido como Teteu, o pré-adolescente sabe mexer com programação desde os 5 anos e, desde então, já palestrou sobre astronomia e programação de jogos na Campus Party, além de desenvolver um jogo no evento. "Assim que eu aprendi a ler, meu pai me deu uma apostila e o Google. Perguntei se ele me ajudaria e ele disse que já tinha ajudado me dando os materiais", conta o menino tranquilamente enquanto brinca com a colega Manu.
O pai de Matheus, Michael Moraes, explica que a resposta foi uma forma de não pressionar as escolhas do filho. "Se ele gostasse mesmo, aprenderia sozinho. Se não gostasse, iria largar", disse Michael, que trabalha como desenvolvedor de software há 20 anos.
Hoje, Matheus tem um trabalho social em uma ONG de São Paulo. Ao lado do pai, todas as segundas, ele ensina crianças carentes a programar no projeto social Nova Era. "Eles aprendem fácil, mas dependem da inteligência, desempenho, vontade e também incentivo", lembrou o garoto.
Fora dos palcos, a pequena Cecília Aveni, 10 anos, foi a Campus Party com os pais. "Eu gosto muito de vídeos, de assistir batalhas de robôs", disse. A menina participou de oficina e aprendeu a montar um drone. Após pilotar na pista, foi sorteada e ganhou um dos aparelhos telecomandados de presente. Segundo os familiares, este era sonho de consumo delas há tempos.
O interesse por tecnologia vem de casa. O pai, Alessandro Aveni, é professor do centro de desenvolvimento tecnológico da Universidade de Brasília (UnB). "Aqui em Brasília, nós precisamos desse tipo de evento para estimular os estudantes e os interessados por novidades tecnológicas", disse.