Cidades

Qual é o mistério da carta sobre "pesquisa sexual" que circula na UnB?

Documento entregue a alunos sobre a realização de uma pesquisa sobre relações sexuais dentro da biblioteca da UnB repercute e causa polêmica

Ana Carolina Fonseca*
postado em 03/07/2017 18:20
Alunos da Universidade de Brasília (UnB) receberam, nos últimos dias, uma mensagem curiosa que provocou muitas indagações pelo câmpus. A mensagem, impressa em uma folha de papel A4, informa sobre uma pesquisa que pretende avaliar o "comportamento erótico/sexual" nas dependências da Biblioteca Central da intituição (BCE).

O documento explica que 69 voluntários corresponderão "positivamente a estímulos advindos dos frequentadores da BCE-UnB, caso provocados, com o intuito de culminar o flerte em coito" (veja o documento abaixo). Muita gente não levou a sério a mensagem, mas, depois que a notícia sobre a carta ultrapassou as fronteiras do câmpus, houve quem acreditasse na realização da pesquisa.

A verdade, contudo, é que não se tratou nem de piada nem de um experimento sobre hábitos sexuais. A carta é uma intervenção artística realizada como trabalho de conclusão da disciplina poéticas contemporâneas, da pós-graduação em arte. Fred Chaves, o aluno de mestrado responsável pelo projeto, explica que a obra artística é o próprio texto e que partiu da ideia da criação artística pela cartografia, método em que o artista experimenta o espaço. Ao todo, foram distribuídos 300 panfletos com a falsa pesquisa.
O objetivo, segundo o mestrando, é "sensibilizar o olhar do frequentador para a afetividade que há naquele espaço". A intervenção faz uma brincadeira com o leitor: os 69 voluntários mencionados na carta não existem, mas Fred quis demonstrar que, para a existência de paquera e afeto no espaço, é preciso, antes, "estar sensível" a isso. "Quando a pessoa lê, levanta a cabeça e começa a procurar os voluntários, ela se torna um deles, se torna disponível", avalia.


Grande charge

O professor da disciplina, Christus Menezes da Nóbrega, aponta que a proposta do aluno foi o de uma escrita literária com uma experiência estética potente. "O trabalho se faz valer de uma linguagem científica para criar uma grande charge, uma ironia", afirma. Fred complementa que a escolha da linguagem foi para combinar com a formalidade e a estética da Biblioteca.

Para Nóbrega, o trabalho trata da "cartografia do afeto, das possibilidades dos encontros e das possibilidades afetivas do corpo". Além disso, também coloca a performance como um meio de pensar sobre o tabu e as construções da sexualidade. Cada aluno da disciplina desenvolveu um projeto na Biblioteca, que foi o espaço de estudo durante o semestre.

Segundo o documento, os criadores do experimento mapearam regiões da BCE e as classificaram de acordo com um "Índice de Potencial Erótico". O chamado IPE teria uma variação de 0 a 5, com a nota mais baixa indicando um local que com certeza levaria o voluntário à prisão em flagrante por atentado ao pudor, e a mais alta para a alta possibilidade de não ser descoberto.

O único meio de contato com os organizadores de "pesquisa" é um perfil de Instagram mencionado no fim da carta. Os autores pedem a contribuição de frequentadores do local.

A imagem gerou especulação nos grupos do Facebook da UnB. Fred conta que se divertiu com as reações ao projeto, apesar de não ter esperado uma repercussão tão grande. Segundo ele, viu comentários indignados e outros bem humorados."A linguagem convenceu algumas pessoas de que era mesmo uma pesquisa", confirma.
Documento entregue a alunos sobre a realização de uma pesquisa sobre relações sexuais dentro da biblioteca da UnB repercute e causa polêmica
*Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende.

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