Cidades

Asilos e creches organizam campanhas para arrecadar agasalhos e alimentos

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as baixas temperaturas devem continuar até as primeiras semanas de agosto. Idosos e crianças ficam mais vulneráveis nesta época do ano

Walder Galvão*
postado em 06/07/2017 06:02 / atualizado em 19/10/2020 14:15

Mulher tentando se aquecer com roupa

A temporada de frio continua no Distrito Federal. Com a onda de baixas temperaturas, agasalhos, cobertores, tocas e luvas se tornaram parte do cotidiano do brasiliense. Mas alguns lares de idosos e instituições de acolhimento de crianças e jovens precisam de doações. Além do incômodo, o tempo gelado pode atingir diretamente a saúde, principalmente de crianças e pessoas com idade avançada. Por isso, campanhas de arrecadação se espalham pela cidade (veja Onde doar).

Desde 1981, o Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, atende idosos em situação de vulnerabilidade. Eles chegam ao local de diversas formas: levados pela família, encontrados em hospitais ou até mesmo nas ruas. O espaço é administrado por diretores voluntários e mantido, principalmente, por doações. No total, 70 idosos dividem 23 quartos, cada um com três camas. Com a chegada do frio, vestimentas mais pesadas e cobertores se tornam imprescindíveis. Além disso, reduziu-se o estoque de leite. Com a baixa temperatura, os moradores do local precisam também de alimentos quentes, como mingau.



Saiba Mais

Pela manhã, grupos se acomodam no quintal da instituição em busca de um espaço ao sol. Atividades de artesanato, jardinagem e culinária são desenvolvidas diariamente. Um cronograma designa o horário para cada prática. Os banhos, que ocorriam a partir de 6h, agora são realizados mais tarde. Também devido ao clima, ponchos foram confeccionados para que os idosos possam passar mais tempo do lado de fora. As camas também mais cobertas.

Maria Jacir de Almeida, 71 anos, mora no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes há seis anos. Natural de Tocantins, ela não lembra quando chegou à capital do país, mas sabe que nunca enfrentou tanto frio. “Está muito difícil dormir à noite. Sinto frio nos pés. Sempre peço para colocarem uma meia a mais em mim. Dormiria até de sapato”, brinca. 

Para José Alves de Souza, 77, ficar sem trabalhar também é um problema. “Eu acho um absurdo usar duas blusas de frio. Isso nunca me aconteceu. Antigamente, quando eu sentia o tempo assim, seguia para o emprego e logo me aquecia”, relata. Há cerca de quatro meses, José recebeu atendimento em um hospital por causa de um problema na perna e foi encaminhado à instituição por meio de uma assistente social.

'Eu acho um absurdo usar duas blusas de frio. Isso nunca me aconteceu. Antigamente, quando eu sentia o tempo assim, seguia para o emprego e logo me aquecia'   José Alves de Souza, 77 anos

O Lar São José acolhe crianças e adolescentes de até 18 anos em situação de vulnerabilidade há três décadas. Em Ceilândia, o espaço funciona com capacidade máxima: 70 moradores. Segundo a coordenadora, Ana Lúcia Antunes, a chegada do frio surpreendeu a todos. “Os meninos reclamam muito do tempo gelado, principalmente à noite”, detalha. Porém, faltam agasalhos, cobertores e até mesmo toalhas. “Recebemos uma quantia do GDF, que é utilizada em gastos básicos, como alimentação e pagamento dos funcionários. Vamos iniciar uma campanha de arrecadação. Precisamos de tudo”, revela.

O terreno onde fica sede da entidade tem oito casas — há mais três em Taguatinga. Os moradores ficam com uma cuidadora e são separados por perfil e grau de parentesco. Todos são incentivados a estudar e, a partir dos 14 anos, podem entrar no mercado de trabalho como menores aprendizes. Incentiva-se a abertura de uma conta-poupança para que o dinheiro seja resgatado após os 18 anos. “Tentamos ocupar todo o tempo livre dos meninos e prepará-los para a vida”, diz Ana Lúcia.

Vários idosos sentados lado a lado, com roupas de frio

Cuidados


O tempo gelado e seco do inverno de Brasília faz com que algumas doenças ocorram com mais facilidade. Segundo a otorrinolaringologista Adriane Casado, o frio pode transformar enfermidades consideradas comuns, como gripe e resfriado, em outras mais sérias. “Com o frio, a nossa mucosa não trabalha muito bem contra essas infecções. A falta de cuidado pode gerar pneumonias, sinusites, faringites e amidalites”, alerta. A especialista destaca que o ideal é evitar lugares aglomerados, manter a hidratação e evitar tomar líquidos gelados.

Para crianças de até 5 anos e idosos, o cuidado deve ser redobrado por causa da baixa imunidade. “É essencial que essas pessoas estejam vacinadas contra a gripe. Uma pequena doença pode virar algo maior”, ressalta Adriane. Para quem pratica atividade física, os exercícios devem ser evitados no começo da manhã ou no período da noite por causa do frio.

Onde doar


Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes 
Local para doação: Quadra 14 de Sobradinho, próximo ao Sobradinho Shopping, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Contato: 3591-3039

Lar de São José 
Local para doação: QNM 32, Módulo B AE, Ceilândia Norte, todos os dias, das 8h às 20h. Também aceitam-se depósitos pelo Banco do Brasil, Agência 1022-7 e conta 5025-3. Razão social: Lar de São José
Contato: 3491-0265 e 98613-8782

Rede Solidária Anjos do Amanhã
Local para doação: Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal, SGAN 909, Módulo C/D, próximo ao UniCeub.
Contato: 3103-3259

ONG Salve a Si
Local para doação: toda quinta-feira, às 21h, na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, ao lado do Conic. Os interessados também podem entrar em contato por telefone para que os itens sejam recolhidos.
Contato: 99997-5010

Artoria Tattoo 
Local para doação: Alternativo Center, Sala 109, Setor Central do Gama. Os itens poderão ser entregues sábado, a partir das 10h. Prêmios e tatuagens serão sorteados para quem ajudar.
Contato: 98136-6553

Frio segue até agosto 


Os moradores do Distrito Federal não vão abandonar os agasalhos tão cedo. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as baixas temperaturas devem continuar até as primeiras semanas de agosto. Na manhã de ontem, os termômetros registraram 10,1°C, no Plano Piloto. No entanto, em São Sebastião, o frio castigou ainda mais, a temperatura caiu para 8°C, com sensação térmica de 4°C. O frio chegou à capital por causa da passagem de uma intensa massa de ar frio pelo Oceano Atlântico, derivada da migração de um anticiclone subpolar. A expectativa é que esse fenômeno comece a se afastar a partir de amanhã, quando o frio começa a amenizar. Porém, o Inmet alerta que uma nova massa de ar frio se aproxima do país, vinda do sul do Pacífico.

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