Cidades

Projeto do HUB faz doação de próteses faciais à população de baixa renda

Projeto do Hospital Universitário de Brasília, ligado à criação de próteses faciais, ajuda a melhorar a qualidade de vida de pacientes

Walder Galvão*
postado em 06/07/2017 06:08
A voluntária Lorena Vieira ao lado de Dierlan Araújo:
Um projeto desenvolvido pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) está ajudando os moradores do Distrito Federal a ganhar qualidade de vida e melhorar a autoestima. Alunos do curso de odontologia das instituições de ensino da capital estão produzindo próteses faciais para a população. Pacientes que tiveram algum problema de saúde ou lesão conseguem receber os itens na unidade gratuitamente. Este ano, de abril até junho, 22 próteses foram fornecidas pelo hospital e ainda restam 21 pessoas na lista de espera para serem atendidas. Além do tratamento dentário, outras partes do corpo humano que ficam acima do pescoço são produzidas. Narizes, olhos e bochechas artificiais são confeccionados pelos estudantes da capital.

O programa começou com apenas uma pessoa. Formada[SAIBAMAIS] em odontologia, a professora Aline Úrsula viajou até São Paulo para realizar especialização buco-maxilo-facial. Quando voltou para Brasília, decidiu implementar a modalidade no HUB. ;Tudo começou em 2004. Eu atendia sozinha num projeto de câncer bucal, mas não dava conta de tanta demanda. Foi aí que os alunos começaram a se interessar;, lembra. A professora conta que, no início, os estudantes só observavam, mas depois começaram a participar dos atendimentos. ;Era professora voluntária, depois virei substituta. Só em 2010 que o projeto foi oficializado pela Universidade de Brasília (UnB);, afirma.

Avaliação


Maria de Araújo: ;

Hoje, 30 alunos participam dos atendimentos, tanto da UnB quanto de faculdades privadas. As consultas são realizadas todas as sextas-feiras, das 14h às 18h. Para receber a prótese, os interessados devem passar por uma avaliação de um médico, que emitirá o encaminhamento até o hospital. Lá, com o auxílio da professora, a avaliação do quadro do paciente é realizada para assim começar o procedimento. ;A partir do primeiro semestre, os alunos podem começar. Também temos profissionais formados que participam como voluntários;, explica Aline. Para ela, a gratificação em realizar o trabalho está na satisfação das pessoas que recebem o tratamento. ;Muitos não têm condição financeira. Atendemos quem precisa e não tem onde procurar atendimento. Mas, pra mim, é o melhor dia;, destaca.

Natural da Paraíba, Maria de Araújo, 69 anos, veio com duas filhas viver no Distrito Federal. Moradora do Jardins Mangueiral, ela descobriu o câncer de pele após três anos na capital, em 2003. A doença atacou o olho esquerdo de Maria, que precisou passar por uma cirurgia para remover toda a região. Após dois anos do procedimento, em uma conversa informal com funcionários do Hospital de Base de Brasília (HBB), ela ficou sabendo sobre o projeto desenvolvido no HUB. ;Nunca tinha pensado em procurar atendimento. Tudo aconteceu por acaso e mudou muito a minha vida;, afirma. De acordo com a paraibana, utilizar um olho artificial virou parte da rotina diária. ;Com a prótese, o povo ainda fica me olhando e eu fico encabulada, mas eu me sinto bem com ela. É o jeito que tem, né? Eu não me sinto bem saindo sem, me acostumei;, conta.

Duração

As próteses não são definitivas, segundo Aline, com o tempo, elas vão perdendo a cor e devem ser refeitas. O próprio HUB recebe os usuários para o retorno. ;Pacientes que começam na infância, a gente acompanha até a fase adulta. A medida em que a criança vai crescendo, nós temos que ir trocando. As próteses de olho costumam durar cerca de cinco anos e as demais uma média de dois;, explica.

O aposentado Francisco de Assis Silva Oliveira, 49, não consegue esconder a felicidade ao ser atendido pelo projeto. Ele foi vítima de uma facada no olho direito em 1978. Desde então, passou por três cirurgias até ser encaminhado para receber uma prótese. ;Faço acompanhamento com os meninos (estudantes) há oito anos. Aqui, me sinto no céu;, se diverte. Além da prótese ocular, Francisco também recebeu as dentárias. ;Eles refizeram quatro dentes da parte de baixo e todos de cima. Foi uma grande mudança de vida;, relata.

Francisco mora no Paranoá com a mãe. Ele ressalta que não teria condições financeiras de arcar com os tratamentos que recebeu no HUB. ;Na época, fiz um orçamento só dos dentes, e ficou em R$ 7 mil. O do olho ficou em R$ 3,5 mil. Esse encaminhamento que recebi foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida;, destaca. Até ser atendido, ele relata que só teve que esperar a recuperação das cirurgias para começar a produção da prótese. ;Foi tudo muito rápido. Hoje em dia, não tiro elas nem pra dormir;, brinca.

A professora Aline Úrsula:

Gratidão


O atendimento é realizado em dupla pelos alunos, como os estudantes Dierlan Araújo do Nascimento, 36 anos, e Lorena Vieira, 24, contam que assim que souberam da existência do projeto, se apaixonaram pela ideia. ;O mais gratificante é quando a gente vê a satisfação dos pacientes;, relata Dierlan. Ele cursa odontologia em uma faculdade privada e ficou sabendo do projeto por uma palestra ministrada pela professora Aline. Lorena estuda na UnB e soube do programa nas próprias aulas. ;A gente conhece a história dos nossos pacientes e fica feliz de poder ajudar de alguma forma. Não tem nada mais prazeroso;, afirma.

Passar a utilizar uma prótese causa impactos na vida das pessoas. Aqueles que vivem essa realidade, passam por um processo de adaptação que envolve questões cotidianas, de locomoção e até mesmo de higiene pessoal. Segundo o psicólogo Luís Fernando Resende Arantes, especialista em psicologia clínica, o ser humano tem dificuldade em separar o psíquico do corpo. ;Uma prótese pode proporcionar que uma pessoa consiga manter as próprias atividades diárias, sem auxílio de ninguém. A partir dela, elas tendem a manter uma saúde mental mais estável;, explica. Arantes ainda ressalta que uma prótese pode significar a reinserção social, e, no caso das faciais, influencia até mesmo na identidade da pessoa.

* Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira


Atendimento

Segundo a Secretaria de Saúde, o sistema público DF conta com fornecimento de próteses. Os interessados devem passar por um médico que elaborará um relatório e encaminhará o paciente ao Programa de Órteses e Próteses. Após conseguir o encaminhamento do profissional, é necessário comparecer ao Núcleo Ambulatorial de Órteses e Próteses na estação do Metrô da 114 Sul para dar entrada no pedido. A pasta também ressalta que 30 mil órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs) foram distribuídas em 2016. Entre janeiro e abril deste ano, foram cerca de 10 mil.

O que é


Especialidade buco-maxilo-facial
Trata de problemas de nascença, traumatismos, anormalidades do crescimento craniofacial, tumores, deformidades estéticas da boca, dentes, maxilar e face.

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