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Fotos do Correio mostram outro episódio em que "neve" cobriu a Esplanada

Imagens de 1964 mostram aquela que é considerada a maior chuva de granizo da capital até hoje; nos dias atuais, temperatura deve continuar despencando

Ana Viriato, Renato Alves
postado em 19/07/2017 06:00
Gramado em frente ao Congresso Nacional: cena nunca mais vista na capital

O clima ameno do fim de semana deu espaço às baixas temperaturas no Distrito Federal. Devido à chegada de uma massa de ar polar da Argentina, os termômetros da capital devem registrar mínima de 10;C, pela madrugada e início da manhã, ao longo da semana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A depender da intensidade dos ventos ; fracos, moderados ou fortes ;, a sensação térmica pode chegar a 6;C. Durante a madrugada desta quarta-feira (19/7), a temperatura mínima atingiu 7,4;C na estação meteorológica do Gama. A máxima de hoje deve ficar em 24;C, e a umidade relativa do ar deve variar de 80% a 30%.
A semana vai continuar fria no Distrito Federal, segundo a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A tendência é de que a mínima chegue a 10;C até o domingo (23/7). O céu deve ficar parcialmente nublado e nublado ao longo dos dias. As temperaturas devem continuar baixas até o início de agosto.
Estudante brinca com o gelo que caiu em toda a Esplanada dos Ministérios, há 53 anos, após forte chuva de granizo
A massa de ar que se aproxima é a mesma que atingiu o Sul do país, onde há previsões de temperaturas negativas e houve registro de queda de neve granular. Ela passará também pelo Sudeste e Norte do Brasil. Contudo, de acordo com o meteorologista Hamilton Carvalho, do Inmet, cada região será afetada de forma distinta. ;Com o deslocamento, acontece o gradual enfraquecimento. Ou seja, no Norte, por exemplo, a onda de frio não será tão intensa. No Centro-Oeste, a queda das temperaturas causadas por esta massa específica devem permanecer até o fim de semana;, explica.

Apesar da previsão para o fim dos efeitos desta massa de ar polar, o Inmet aguarda outras em sequência. A friaca, inclusive, só deve terminar após a primeira quinzena de agosto. ;Em junho e julho, sempre há ocorrências das massas de ar frio. Isso muda apenas no próximo mês, quando ocorre a seca, com altas temperaturas e baixa umidade;, garante o especialista.


Gelo por todo lado

A onda de frio vinda do Chile e da Argentina vai fazer a temperatura despencar no DF. No entanto, dificilmente proporcionará imagens incríveis como as registradas em 1964 pela equipe do Correio Brazliense. Elas ilustraram a capa e uma página central da edição de 16 de outubro daquele ano. Recuperadas pelo Centro de Documentação (Cedoc) do jornal, as imagens mostram os efeitos daquela que é considerada a maior chuva de granizo da capital até hoje. Ela deixou vias, jardins e veículos cobertos de branco, principalmente na região central, ao redor da Rodoviária do Plano Piloto.

Em uma das fotos aparece o pioneiro Geraldo Silva, 90 anos. Leitor assíduo do Correio, ele havia contado tal episódio, em entrevista ao jornal, sete anos atrás. ;Parecia mentira. A cidade ficou cheia de granizo. Tive que ver de perto;, lembrou. O pioneiro correu para a Esplanada quando soube da novidade. No dia seguinte, a foto dele, incrédulo como um menino, remexendo o gelo, com ministérios ao fundo, estampou uma página do jornal.
Pedras de gelo finas também cobriram os carros estacionados ao longo da Esplanada


Neve no cerrado

A menor temperatura registrada na capital (pela estação convencional do Setor Sudoeste) foi de 1,6 ;C, em 18 de julho de 1975. A maior atingiu 36,4 ;C em 18 de outubro de 2015. Os dados são do Inmet, que, desde 1961 (a partir de 21 de agosto), faz a medição oficial em Brasília. Mas, conforme mostrou o Correio, há duas semanas, o DF já registrou até neve. Em um dos mais antigos relatos de viagem pelo sertão brasileiro, o quinto governador de Goiás afirma que ;no mês de junho, chega a cair neve;, referindo-se a Mestre d;Armas, atual Planaltina.

A história da neve no cerrado consta em um dos mais antigos relatos de viagem conhecido pelos pesquisadores. Intitulado Jornada que fez Luiz da Cunha Meneses da Cidade de Bahia... para Vila Boa Capital de Goyaz, é obra de Cunha de Menezes, quinto governador e capitão-general da Capitania de Goiás. Fruto da viagem dele para tomar posse como governador da então capitania de Goiás, onde chegou em 15 de outubro de 1778, ele anotou as distâncias em léguas. Mas, acima de tudo, o mais surpreendente é o relato sobre a presença de neve, em uma região hoje conhecida pela baixa umidade no período que costuma ir de maio a outubro.

O impressionante fenômeno climático está na anotação realizada em 10 de outubro de 1778: ;Da Bandeira a Contage de São João das Três Barras 11 léguas, a saber ao Sítio Novo 2, ao Pipiripaô, 1 e 1/2, ao Mestre d;Armas 2, e 2 ; São João das Três Barras, sítio tão frio que no mês de junho, que é a maior forma de inverno, chega a cair neve.; Junho, nos tempos atuais, é justamente o início da seca no Distrito Federal.

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