Cidades

Fotos de corpo de motorista põem em xeque laudo da polícia, diz família

Imagens mostram os punhos de Luís Cláudio feridos e manchas roxas espalhadas em várias partes do corpo

Carina Ávila - Especial para o Correio, Otávio Augusto
postado em 19/07/2017 17:20
Fotos do corpo de motorista põem em xeque laudo da polícia, diz família
A família do motorista terceirizado da Caixa Econômica Federal (CEF) Luís Cláudio Rodrigues, 48 anos ; encontrado morto na 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho) ; divulgou imagens feitas após a necrópsia de peritos do Instituto Médico Legal (IML). Nas fotos, é possível ver várias lesões: nos pulsos, nos tornozelos, no cotovelo, no quadril, no pescoço, no ombro e nas costas da vítima. Para os parentes, o número de ferimentos contradiz o laudo preliminar divulgado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), segundo o qual haveria apenas um ferimento no pescoço, o que indicaria suicídio por sufocamento.
As fotografias mostram os punhos de Luís feridos e com manchas roxas. Há um grande hematoma do lado esquerdo do pescoço. É possível ver ferimentos também nas costas e no quadril. Por se tratar de imagens fortes, o Correio só vai publicar detalhes de algumas das fotos.
[SAIBAMAIS] Marcos não tem dúvidas de que Luís foi agredido e questiona os procedimentos feitos na delegacia. "Como o IML informa que não tem nenhuma lesão no corpo dele? Como a Polícia Civil não pediu para fazer o corpo de delito quando ele chegou lá? Como ele foi recebido na delegacia?", indaga. Procurado pelo Correio, a PCDF não explicou por que Luís não passou pelo exame de corpo de delito ao dar entrada na unidade policial. "O Exame de Corpo de Delito é realizado no IML sempre após a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, por ocasião da apresentação do preso à Carceragem do DPE ou, no caso de fiança, quando de sua liberação mediante o pagamento respectivo", diz a corporaçaõ em nota.
"Testemunhas que estavam na delegacia no momento que o Luís chegou disseram que ele estava sujo e machucado", ressalta o autônomo Marcos Eustáquio, 48 anos, cunhado de Luís. O parente do motorista teve acesso às fotos no sábado (15/7), dia seguinte à morte do cunhado, porém só as divulgou nesta quarta-feira (19/7).
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Testemunhas


As imagens, de acordo com parentes de Luís, foram encaminhadas ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que apura a denúncia da família. O órgão não quis comentar o caso. Os promotores aguardam os primeiros resultados das diligências para se manifestarem. Em nota, a Polícia Civil disse que não se pronunciará por não ter tido acesso às imagens.
Segundo Marcos, uma testemunha presenciou a chegada de Luís à delegacia. Ele deve prestar esclarecimentos nesta quarta-feira (20/7) ao MPDFT. "Ele ouviu um policial contar que o escrivão, muito alto e forte, havia ficado impaciente com as coisas que meu cunhado dizia alcoolizado e deu uma gravata nele para jogá-lo na cela", detalha.

"Quando pagamos a fiança e os guardas foram buscar o Luís na cela, voltaram gritando: ;deu merda! Deu merda!'. Perguntamos o que havia acontecido e eles disseram: ;Nada, tá passando mal, tá passando mal!'. Minha enteada é brigadista e começou a falar: ;sou brigadista, posso ajudar! Chama o Samu!'. Mas eles não deram bola. Só me deixaram entrar vários minutos depois e, quando vi, ele não estava passando mal. Estava morto;, completa Marcos Eustáquio.

Na edição impressa de terça-feira (18/7), o Correio publicou o depoimento de quatro pessoas que disseram ter visto Luís ser agredido pelo sargento da Rotam Carlos Rodrigo Oliveira de Almeida. A câmera do circuito interno de uma casa, na rua onde Luís foi detido, gravou parte do desentendimento entre os dois. O vídeo tem 2 minutos e 50 segundos e mostra o momento em que Carlos retira a vítima de dentro do veículo de forma ríspida e, em seguida, o empurra na calçada. A partir desse momento, não é possível saber o que houve. As imagens também são descontinuadas e pouco nítidas.

Entenda o caso


Na última sexta-feira (14/7), Luís estava de folga e havia bebido em um bar a menos de 600m de casa, depois de levar o carro para consertar o vidro elétrico. Depois, colidiu seu veículo contra o carro do PM. Segundo a Polícia Civil, o teste de bafômetro acusou 1,35 miligrama por litro de ar expelido. Em 30 dias, o laudo final da morte do motorista deve ser concluído. A Polícia Civil reforça que não houve agressões, apesar dos relatos de testemunhas de que ocorreu violência policial, e que a morte ocorreu em decorrência de "asfixia secundária a enforcamento".

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