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A Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô/DF) carrega moradores do Distrito Federal há cerca de 16 anos. A ata que definiu a criação do transporte é mais antiga, tem 25 anos. Críticas a respeito da baixa cobertura das linhas à parte, trata-se de um serviço muito útil e necessário. Do Plano Piloto a Ceilândia, de Samambaia ao Guará ou de Águas Claras a Taguatinga, o destino das viagens não é o único que se interliga. Por dia, aproximadamente 160 mil histórias se cruzam no interior das 24 estações ou da frota de 32 trens. Sob ou sobre a terra, o brasiliense tem muito a contar sobre o que viveu dentro dos vagões. Apesar de fazer parte da rotina dos moradores do DF, esse meio de transporte constitui um universo próprio. No metrô, é possível encontrar até mesmo uma linguagem particular. Terapêutico para uns e enlouquecedor para outros, o som ambiente das estações é composto por barulho de pessoas passando pela catraca, escada rolante rangendo e conversas paralelas. Após esse emaranhado acústico, a buzina inconfundível, que anuncia o fechamento das portas, põe fim à orquestra. O público é eclético e das mais variadas idades.
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Desembarcando na Estação Central, um grupo de jovens relata usar o meio de transporte para ir ao ;rolê;. É o que revela a artista Daniela Rosa, 18 anos, que estava ali com três amigos. ;Moramos em Ceilândia, pertinho da estação. Sempre nos encontramos lá e decidimos aonde ir. Hoje, o metrô vai ser parte do trajeto que faremos até a Chapada dos Veadeiros;, conta. Os trens são parte da diversão. ;Nós cantamos, dançamos, fazemos nosso artesanato e acabamos vendo e vivendo de tudo por aqui. Para ser melhor, só se tivessem banheiros e bebedouros;, afirma a artesã Stefanny Juliana Olveira, 18. O estudante Junior Sena usa o transporte para ir diariamente à faculdade. Ele cursa pedagogia, mas divide, com a colega Daniela, o sonho de viver de música. ;Sou universitário, mas vou ser cantor de MPB. Seguirei os passos dos meus irmãos: um canta samba e outro, reggae;, confessa. O mais velho do grupo, o estudante Wilker Cesar, 21, anda com os amigos para coordenar as saídas. ;Agora sou responsáveis por essas crianças. Tenho de ficar de olho para eles não aprontarem no metrô;, brinca.
Achados e perdidos
Mesmo depois de aposentada, Maria de Lourdes Galvão, 64 anos, funcionária da companhia, decidiu manter por mais alguns anos a rotina no setor de achados e perdidos da Estação Galeria. ;Basicamente trabalho como guardadora dos objetos alheios e até mesmo como detetive, quando tenho de procurar os donos das coisas desaparecidas;, diz. Quando alguém esquece algo dentro de qualquer vagão do metrô, o item é encaminhado para o departamento onde ela trabalha. Os mais inusitados pertences aparecem diariamente nas estações. ;Já achamos televisões, bicicletas, ventiladores e até dentaduras. Após seis meses, os objetos que podem ser reaproveitados são doados e o restante é incinerado;, explica.
Para localizar os donos, as duas funcionárias do local usam as mais diferentes pistas. Documentos, comprovação de recargas de celulares e papéis de transações bancárias servem na hora da investigação. Na semana passada, uma mulher esqueceu mais de R$ 500 em roupas em um dos trens e conseguiu recuperar todo o vestuário. ;Estou em um lugar que me dá prazer de trabalhar. Estamos fazendo um bem para o ser humano. Muita gente perde a esperança de achar algo perdido, mas pode contar com a gente.; No total, existem mais de 3.800 objetos no depósito do metrô. Por semana, são encontrados cerca de 600 itens. A comerciante Lourdes Almeida, 65, será mais uma a procurar o serviço de achados e perdidos do Metrô. Durante uma pane em um dos trens, precisou sair de um vagão e ir para outro. No entanto, não percebeu que havia esquecido uma sacola de roupas. ;A minha esperança é de que alguém encontre e tente devolver.;
Ela é só elogios para a Companhia do Metropolitano do DF. Lourdes utiliza diariamente o serviço para se locomover e depende dele para trabalhar. ;Moro em Águas Claras e todo mundo que vive lá sabe como é. O trânsito é complicado e, de metrô, consigo chegar mais rapidamente aos lugares;, completa. A alagoana vive em Brasília há 40 anos e se orgulha de contar que é uma das pioneiras do transporte. ;A gente acaba vendo de tudo, não é? Ambulantes, religiosos pregando e casais apaixonados;, elenca.
* Estagiário sob a supervisão de Ana Paula Lisboa