Vaidade e sorriso no rosto independem da idade. Penteando os cabelos brancos com a fragilidade dos 100 anos, o padre mais velho de Brasília, Armando Brédice, orgulha-se de ser um dos fundadores da Paróquia Santa Teresinha, no Cruzeiro Novo. Ali também funciona a casa das irmãs missionárias e uma escola para crianças, obras do religioso de origem italiana que deixou a família na Europa para viver em santidade. Com tantos feitos, o sacerdote se tornou também ícone da igreja católica na capital federal. O sacerdote nasceu em 22 de agosto de 1917, em San Marco La Catola, na Itália. De família humilde e um dos 10 filhos de Angiolina Brédice, o padre costumava frequentar a igreja com a família e tinha o sonho de conhecer São Pio de Pietrelcina, que, nos anos 1920, foi padre e, após a morte, foi elevado a santo da igreja católica. O religioso, sempre muito batalhador, não só conheceu o ídolo, como foi coroinha dele.
A imagem do italiano canonizado que marcou a história do clérigo está no escritório dele na Paróquia Santa Teresinha, junto a outras lembranças que marcam um século de vida dedicado à religião. Armando Brédice está há 34 anos na capital federal e ganhou o título de cidadão honorário de Brasília. ;Viver aqui por todos estes anos só me faz sentir amor no coração por tudo que fiz. Tudo passa, fora o amor;, afirma, com os olhos marejados. Ele faz parte da Congregação dos Servos da Caridade, grupo que tem como objetivo o cuidado e a evangelização dos menos favorecidos. Muitos dessa vertente da Igreja Católica deixam os países de origem para se dedicarem exclusivamente ao evangelho e ao trabalho com pobres e doentes. Ao receber a missão, o sacerdote Armando havia escolhido a África como destino, mas, por ordens dos superiores, veio parar no Brasil, onde foi naturalizado e vive desde 1954. ;Estarei neste trabalho até quando Deus quiser, porque dei a minha vida a Cristo e, até meu último momento e respiração, me dedicarei a Ele;, promete.
[VIDEO1]
Da Guerra à igreja
Antes de se tornar padre, o religioso lutou na Segunda Guerra Mundial e teve uma companheira na Itália, com quem dividiu parte da juventude. A ideia de se tornar padre surgiu depois de retornar da batalha. Segundo ele, os desastres que presenciou foram um chamado para seguir a vida com Jesus Cristo. Aos 36 anos, Armando foi ordenado sacerdote na Itália, e, desde então, se dedica exclusivamente à igreja e aos necessitados. Maria, a namorada da adolescência, não aceitava a ideia de deixá-lo. Mas, com o passar dos anos, eles viraram grandes amigos e, mesmo no Brasil, o sacerdote falava uma vez por mês com a ex-companheira, que se casou com outro homem e teve filhos. A última ligação do sacerdote para Maria foi há pouco mais de 10 anos, quando soube que a amiga havia falecido. ;O filho dela disse que ela tinha morrido naquele instante em que eu liguei. Foi quando rezei uma missa pela alma dela;, relembra, emocionado.
Afeição da comunidade
É difícil encontrar católicos do Cruzeiro, do Sudoeste e da Octogonal que não conhecem padre Armando. Responsável por unir famílias e casais por meio de projetos na igreja, o sacerdote é admirado por fiéis como Romilda Dutra, 53 anos. A professora é moradora do Sudoeste e o conhece desde 1985, quando começou a frequentar a paróquia Santa Teresinha. ;Ele sempre foi muito dinâmico e ativo. Graças a isso, fez todas as obras pela comunidade;, diz. Para ela, o padre é um pedacinho de Deus no mundo. ;Ele passa confiança, esperança e amor em tudo o que fala e faz. Queria que Deus o mantivesse mais tempo na Terra para ele continuar nos abençoando;, comenta. As palavras da irmã Teresinha Chiarentin não têm tom diferente. Moradora da casa das irmãs missionárias na paróquia e amiga do sacerdote desde 1963, ela veio do Rio Grande do Sul para Brasília, ajudar nas obras da paróquia. ;Ele fez muito pelas freiras e fez questão de nos trazer para viver aqui;, conta. Gratidão e zelo resumem os sentimentos da religiosa pelo padre, que dedicou parte da vida aos brasilienses.