Cidades

Conheça aplicativos criados por brasilienses que investiram em inovação

O mundo tecnológico abre portas para ideias inovadoras que, além de facilitar a vida das pessoas, dão lucro

Ana Carolina Alves*
postado em 03/08/2017 13:44

André Miguez, Mario Biondo e Hugo Monteiro (embaixo): rede social para quem gosta de futebol

Com a vida adulta e a chegada das responsabilidades, ficou cada vez mais difícil para o jovem empresário Mario Biondo, 24 anos, ter tempo para jogar bola. Alugar o campo, reunir os jogadores e encontrar times adversários eram fatores que atrasavam o processo, que na teoria deveria ser simples. Ao pensar em uma maneira de facilitar a pelada, ele e três amigos, também empresários, André Miguez, 24 anos, e Hugo Monteiro, 28, resolveram criar o iFut: uma rede social para quem joga bola. O aplicativo está previsto para ser lançado em 16 de setembro, mas o site já está funcionando. ;Os amigos e parentes dizem que somos loucos em ter largado os empregos para acreditar no iFut, mas apoiam o projeto;, conta Mario.

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Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), 71,17% da população acessam a internet. Destes, 51,18% acessam pelo computador de casa e 17,97% pelo celular. Porém, apesar do número parecer pequeno, os smartphones são usados diariamente pelos brasileiros, principalmente para acessar aplicativos. Segundo a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box ; Uso de apps no Brasil, realizada pelo site Mobile Time e pela empresa Opinion Box, 94% dos brasileiros que possuem smartphones já instalaram algum app no dispositivo.

O economista Matheus Portela explica que o mercado de aplicativos deve ser visto como um catalizador do comércio e facilitador das relações humanas, sendo uma extensão da própria internet. ;Construir uma renda sólida com aplicativos já é uma realidade. A perspectiva de crescimento do setor é evidente, uma vez que, mais do que acompanhar as mudanças no perfil das pessoas, é ele quem molda uma sociedade que depende cada vez mais de soluções rápidas e otimização dos recursos escassos;, esclarece o economista.

Indicações pagas

Amante de gastronomia e tecnologia, o publicitário Wellington Braga, 41 anos, resolveu incrementar sua renda mensal juntando as duas paixões. ;Como meus amigos sempre me pediam dicas de bons restaurantes, veio a ideia de montar um aplicativo que pagasse em dinheiro as indicações do usuário. Como publicitário, sempre percebi uma necessidade dos clientes de mensurarem os resultados dos investimentos feitos em marketing;, conta ele. Lançado a pouco mais de 30 dias, a base de usuários da ferramenta cresce cerca de 9% ao dia. Empresas como Pizza Hut, Bartolomeu e Gordeixos já se associaram ao app, o qual já rendeu, mensalmente, de R$ 30 a R$ 180 para seus usuários.

Para a jovem empresária Jéssica Behrens, 25 anos, não foi a paixão que alavancou sua ideia, e sim a crise econômica e um desafio pessoal. Durante um ano, ela se propôs a se desfazer de pelo menos um objeto por dia, para, no final, ter 365 coisas a menos. O objetivo era ter um estilo de vida mais minimalista. No processo, ela teve dificuldade em se conectar com amigos e vizinhos interessados nos produtos, e então surgiu a ideia do Tradr, apelidado de "Tinder para produtos". O usuário cria sua própria loja e então troca, compra ou vende seus pertences que não interessam mais.

Jéssica Behrens, criadora do aplicativo Tradr, apelidado de

;O app constrói uma rede social de economia colaborativa e liga amigos e vizinhos por meio de objetos usados, dando uma cara nova para as tradicionais feiras de trocas e brechós;, explica a empresária. A ferramenta já possui mais de 100 mil usuários, e a jovem garante que não pretende parar por aí. ;Empreender é uma constante aventura. É trilhar o próprio caminho e se desafiar o tempo todo para crescer cada vez mais e ir cada vez mais longe. É arriscado, mas amo e acredito no poder de transformação do empreendedorismo na sociedade. Eu não conseguiria ser de outra forma;, conta, entusiasmada.

Cautela

Contudo, o economista Matheus Portela alerta que é preciso ter cuidado e cautela antes de lançar uma idéia. Segundo ele, a falta de regulação e barreiras de entrada no mercado de aplicativos dá a falsa impressão de que existe uma oportunidade fácil de se alcançar o sucesso. ;É comum que vários jovens tenham a mesma ;ideia brilhante; de aplicativo repetidas vezes, sem que qualquer uma delas seja bem sucedida. Nem toda boa ideia é capaz de ser viabilizada e gerar receitas de forma consistente e satisfatória;, adverte.

Os criadores do iFut, assim como muitos jovens empreendedores brasileiros, sonham em conquistar o Brasil com sua ideia. Para Mario Biondo, o engajamento social, político e a facilidade de informação são fatores singulares da geração, que favorecem o empreendedorismo. Apesar disso, ele admite que o caminho não é fácil. ;O começo é complicado devido à falta de experiência e recursos financeiros. Ao invés de buscarmos estabilidade para o futuro, arriscamos no nosso sonho e temos um propósito de impactar diretamente a vida das pessoas;, desabafa o jovem.

Saiba mais: Segundo o economista Matheus Portela, existem três formas diferentes de se comercializar um aplicativo:

> Entendê-lo como um produto em si, onde o próprio aplicativo tem valor para o usuário. É o caso do WhatsApp, Waze, Tinder e Snapchat;

> Usá-lo como um veículo para se comercializar um produto ou serviço que excede o mundo virtual - nesses casos, o app muitas vezes funciona como um intermediário - como Uber, Airbnb e Ifood;

> Utilizá-lo como uma plataforma adicional para alguma empresa, como o Internet Banking.

Três perguntas para o coordenador nacional de startups digitais e integrante da Unidade de Atendimento Setorial de Comércio e Serviços (UASCS) do Sebrae nacional, Marcio Marques Brito:

Por que os jovens têm procurado novas alternativas para conseguir renda, entre elas, a criação de aplicativos?

A massificação dos dispositivos móveis potencializou a expansão do uso de aplicativos, que é um dos caminhos a seguir. A facilidade de acesso e uso faz que essa naturalmente seja uma solução mais próxima da realidade das pessoas. Além disso, aplicações como internet das coisas, games, redes sociais e e-commerce são alternativas viáveis.


Qual seria o passo a passo para criar um aplicativo?

O principal é que o aplicativo resolva um problema real. Tirar uma ideia do papel, compreender e sair para a execução que considera fortemente o olhar do cliente. Ouvir o cliente é essencial para o sucesso de um aplicativo. Atualmente, está cada vez mais fácil desenvolver um app, o que agrega valor é este aplicativo ser necessário.

Teria alguma dica para quem quer começar?

Informação e validação são dois pontos que precisam estar no radar desde o início do projeto. Atualmente, a internet disponibiliza um grande número de dados e conteúdos que precisam ser levados em consideração quando pensamos no desenvolvimento de um negócio. Além da ideia, o seu dia-a-dia compreenderá uma série de outras demandas que precisam ser apreendidas para a gestão e o crescimento. Além disso, a validação com o cliente é premissa para quem quer começar.

*Estagiária sob supervisão de supervisão de José Carlos Vieira


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