Um grupo com cerca de 20 estudantes ocupa um prédio no campus da Universidade de Brasília (UnB), na Asa Norte. A ação que ocupou o Bloco de Salas de Aulas Sul (BSA) teve início ainda na noite de segunda-feira (14/8), quando, por volta das 22h40, alunos se reuniram pela primeira vez para definir os rumos da ocupação e bloqueram as entradas do edifício com mesas e cadeiras. Até o início da tarde desta terça-feira (15/8), os manifestantes continuavam no local.
Um dos representantes do movimento "Estudantes e Trabalhadores Terceirizados da UnB na Luta" afirmou à reportagem que a principal pauta da manifestação era o corte de profissionais terceirizados da universidade. Porém, outros ocupantes citaram o marco temporal da demarcação dos povos indígenas e quilombolas como o motivo central, proposta classificada como "genocida". O Supremo Tribunal Federal (STF) vota a aprovação do tema na quarta-feira (16/8).
[SAIBAMAIS] Por volta das 8h desta terça-feira (15/8), hora de início das aulas, a Polícia Militar compareceu ao local para evitar um confronto entre estudantes que ocupam o lugar e aqueles que tentavam entrar. Na confusão, a vidraça de uma porta do prédio acabou danificada. O tumulto foi controlado e ninguém foi preso.
Às 10h, outra confusão. A estudante de engenharia química Laura Junho, 21 anos, tentou abrir a porta à força e foi impedida por ocupantes, alunos e professores. "Por que não vão para a Esplanada protestar? Quero ter aula. Por causa da ocupação passada, tive professor que não terminou de passar o conteúdo", protestou ela, que cursa o quinto semestre na instituição. Laura se referia à manifestação que paralisou a reitoria da UnB entre outubro e dezembro de 2016.
Para Scarlett Rocha, 25 anos, a ocupação é legítima. "Se ocupamos a Esplanada, o governo manda exército. A manifestação defende a universidade e o direito das populações indígena e negra, que estão sendo retirados", alega a estudante do sétimo semestre de administração. Ela foi ao local levar macarrão e molho de tomate aos manifestantes. "Só fiquei sabendo do protesto quando cheguei", conta.
Representantes da reitoria compareceram à ocupação para negociar com os manifestantes. "Não pretendemos punir ninguém por enquanto. Nossa prioridade é o diálogo", pondera Paulo César Marques, chefe de gabinete da reitora. Porém, ele criticou a atitude dos alunos. "Geralmente, os movimentos pressionam e, esgotados todos os recursos, ocupam os edifícios. Desta vez, vieram sem ao menos dialogar conosco", observa.
Em uma página do Facebook, o grupo "Estudantes e Trabalhadores Terceirizados da UnB na luta "pede apoio com doações de alimentos, colchonetes e cobertores". A reitoria e o governo não nos deram outra alternativa. Não teremos aula enquanto as demissões não forem revogadas", destaca texto postado. O coletivo alegou, ainda, que não é ligado ao Diretório Central dos Estudantes (DCE).
De acordo com a UnB, o bloco invadido abriga 50 salas de aula e dois laboratórios de informática. A instituição diz, ainda, que o local recebe cerca de 3 mil estudantes matriculados em 850 disciplinas.
Cortes
Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), quase 300 terceirizados foram desligados da UnB desde junho deste ano. O motivo seriam os cortes orçamentários na instituição. O coordenador geral do Sintfub, Mauro Mendes, ainda detalha que outros 100 trabalhadores que fazem o serviço de vigilância e portaria cumprem aviso prévio. "Já temos um deficit com relação à funcionários. No semestre passado tivemos várias ocorrências de furtos e ameaças no campus da Asa Norte. Retirar esses trabalhadores afetará toda a comunidade acadêmica", destaca.
De acordo com Mauro Mendes, a redução do efetivo ocorre desde 2015, quando havia 2.720 contratados. Hoje, são 1.880. Com as novas dispensas, o número pode chegar 1.380. "São cortes de terceirizados que prestam serviço em toda a UnB e não somente no campus da Asa Norte. Esse número é insuficiente para o funcionamento ideal da instituição". O sindicato agendou uma reunião para a próxima quinta-feira (17/8) entre os trabalhadores para discutir o assunto.