Cidades

Preço do botijão de gás dispara, chega a R$ 80, e deve subir ainda mais

Nova política de flutuação de preços da Petrobras confunde os consumidores, derruba as vendas e preocupa os comerciantes

Flávia Maia
postado em 21/08/2017 06:00
Dona de restaurante, Érica usa gás na churrasqueira, no fogão e na chapa

A nova política de flutuação de preços do gás de cozinha imposta pela Petrobras preocupa revendedores locais e confunde consumidores. De acordo com os empresários, desde que o reajuste do produto passou a ser mensal, o valor disparou e as vendas caíram. Em três meses, o aumento acumulado soma 8,93% ; foram duas variações positivas e uma negativa. A Associação Brasiliense de Empresas de Gás (Abrasgás) critica a mudança de precificação feita pela estatal, alegando que gera falências no setor e crescimento do comércio clandestino de botijões. A entidade estuda as medidas judiciais cabíveis. Enquanto isso, o consumidor já encontra unidades sendo vendidas a R$ 80 no Distrito Federal.

Desde junho, a Petrobras passou a corrigir mensalmente o valor do Gás Liquefeito de Petróleo, o GLP-P13, conhecido como gás de cozinha ou doméstico todo dia 5 do mês. O preço final passou a levar em conta as cotações no mercado internacional. Até maio de 2017, a estatal adotava uma política que evitava o repasse da volatilidade do câmbio e das cotações internacionais no mercado interno. Por isso, geralmente, fazia-se uma correção anual. Na ocasião do anúncio da flutuação, o presidente da companhia, Pedro Parente, ressaltou que o gás não tinha uma política de comercialização definida e que, com a alteração, a Petrobras completava ;o ciclo de definição de políticas para os produtos da companhia;.

Lucas Mendes dirige da Asa Norte ao Cruzeiro para trocar os vasilhames

Dificuldade

Acostumados a trabalhar com uma variação anual, os revendedores estão com dificuldades de se adequar à nova política de preços da estatal. A crítica é a de que a mudança foi muito repentina. O empresário Wellington Marques tem uma revenda no Cruzeiro e está no segmento há 20 anos. Ele conta que a mudança da Petrobras pegou os revendedores de surpresa. ;Avisam um dia antes qual será o preço novo. Eu não tenho tempo nem de comunicar os consumidores. Quando o cliente chega, leva o susto. Por isso, poderiam, ao menos, informar o índice do repasse 10 dias antes;, sugere. Wellington explica que, por causa da regulação, ele não pode estocar mais que 480 vasilhames no depósito, o que o deixa somente com a quantidade que vai vender. ;Com o estoque regulado, quando o preço muda, eu tenho que repassar ao consumidor imediatamente.;

[SAIBAMAIS]Proprietária de revendas no Distrito Federal e no Entorno goiano, Veruska Moura contabiliza queda de 30% no volume de vendas desde a implementação da nova política de preços. ;O consumidor não aceita esses repasses e as empresas regularizadas não dão conta de segurar. Muita gente está fechando as portas. Não posso dar a minha palavra nas negociações. A gente está sendo massacrado;, comenta.

Para calcular o impacto da nova política da Petrobras, a Abrasgás está fazendo um levantamento de quantas empresas fecharam as portas por causa da flutuação de preços. ;Tivemos mais revendas falindo em 90 dias do que nos últimos dois anos;, alerta Cyntia Moura Santo, diretora da Abrasgás. ;Aliado a isso, estamos assistindo à proliferação do mercado clandestino: o revendedor não consegue manter custos fixos, aí fecha as portas e, para não ficar sem trabalho, vai pirangar na rua. Fora aqueles que vendem o botijão adulterado;.

Questionada sobre as críticas dos revendedores em relação à política de flutuação de preços, a Petrobras respondeu que só tem ingerência em 54% da composição do preço do botijão. ;Sendo as distribuidoras e revendedoras livres para definirem as margens praticadas;, diz, em nota. Quanto ao aumento da comercialização clandestina, a estatal ressalta que a fiscalização é de competência da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Nova política de flutuação de preços da Petrobras confunde os consumidores, derruba as vendas e preocupa os comerciantes

Industrial

Os valores do GLP para uso comercial ou industrial (vendido a granel ou envasado em botijões de mais de 13kg) também passaram a ser reajustados de acordo com a flutuação no mercado internacional, o que significa que as alterações nos preços podem ser feitas a qualquer momento. O último reajuste, em vigência desde 16 de agosto, aumentou os preços de comercialização às distribuidoras do GLP em 7,2%. A flutuação dos valores, no entanto, suscita críticas entre revendedores e clientes.

Érica Vanessa Tenório, 37 anos, é dona de um restaurante no Cruzeiro e diz que passou a colocar os custos na ponta do lápis. ;Diminuí o uso de água e passei a comprar artigos de limpeza mais baratos para contrabalançar os gastos;, relata. Para manter o self-service, ela consome até dois botijões por dia. ;Uso gás na churrasqueira, no fogão e na chapa;, enumera. Érica conta que desembolsou R$ 744 em junho. Para agosto, a empresária espera pagar, no mínimo, R$ 800.

Análise da notícia

Defasagem

; Simone Kafruni
Durante os governos petistas, o preço dos combustíveis foi controlado pela Petrobras para segurar, artificialmente, os índices de inflação. Tal prática gerou prejuízos de US$ 40 bilhões à petroleira por conta da defasagem entre o valor que pagava no mercado internacional e o preço pelo qual revendia no país. Ao assumir a estatal, Pedro Parente zerou essa perda e implementou avaliações mensais para reajustar os preços conforme a oscilação do barril de petróleo. Em junho, mudou a sistemática com base na variação diária da commodity e do câmbio. A nova política permite à Petrobras reajustar a gasolina, o diesel e também o gás de cozinha todos os dias.

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