Ana Viriato
postado em 23/08/2017 06:00
A abordagem dos integrantes da Máfia dos Concursos a candidatos não ocorria apenas em portas de universidades e de cursos preparatórios. Uma das investidas aconteceu por trocas de mensagens de WhatsApp, um ano após Bernardo (nome fictício), 34 anos, conhecer Bruno Garcia Ortiz no Parque do Guará. Nos textos, o filho de Helio Ortiz, preso em 2005 e apontado como líder da organização criminosa que frauda certames na capital federal até hoje, garantia ;ter um esquema para passar em concurso;. Para garantir uma das primeiras colocações na seleção do Corpo de Bombeiros, realizada em fevereiro deste ano, o irmão de Bernardo aderiu ao conchavo e pagou R$ 5 mil como entrada. Pela negociata, após a aprovação, o restante do repasse seria de R$ 80 mil a R$ 100 mil. Os planos, contudo, foram impedidos pela Polícia Civil.
As informações constam no inquérito da Operação Panoptes, deflagrada, na segunda-feira, pela Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Em depoimento, Bernardo conta que Bruno Ortiz ofertava, sempre, vagas em concursos para a área administrativa de órgãos públicos. Para a seleção do Corpo de Bombeiros, organizada pelo Idecan, o integrante da máfia alegou ter à disposição dois ;pilotos;, especialistas que repassam as respostas das provas por um ponto eletrônico ou via mensagens de celular.
[SAIBAMAIS]Porém, um dia antes do concurso, Bruno argumentou que, devido aos detectores de metais nas portas das salas, não seria viável que o irmão de Bernardo utilizasse esse sistema de fraude. Assim, em um encontro, Ortiz entregou a ele um chip em funcionamento e pediu que encontrasse um celular para receber o gabarito. ;A cola será mandada em um bloco de cinco números, sendo que cada número corresponderia a uma letra;, orientou o integrante da Máfia dos Concursos.
Bernardo narrou que, no dia da prova, acompanhou o irmão até a universidade onde o certame seria aplicado. O rapaz acrescenta que os dois observaram os possíveis esconderijos no banheiro masculino, e o concorrente à vaga no Corpo de Bombeiros encaixou o celular em um porta-papel e, durante a prova, leu o gabarito. Depois, jogou o aparelho, enrolado em papel higiênico, no lixo. A Polícia Civil deixou que o candidato concluísse a prova e apreendeu o telefone, para, em momento posterior, conduzi-lo à delegacia.
;Mais segurança;
Um mês antes do concurso dos bombeiros, Ortiz havia apresentado a Bernardo um ;esquema de cola mais fácil e seguro; para outros certames, segundo o rapaz de 34 anos, em depoimento. Para aderir à negociata, entretanto, o pagamento inicial seria de R$ 70 mil, a depender do certame. ;A pessoa preenchia apenas 10 questões da prova, e o restante deixaria em branco.
Posteriormente, alguém da banca examinadora retiraria a sua folha de dentro da instituição. Feito isso, seria marcado um encontro para que o próprio candidato preenchesse as demais questões, já com o gabarito em mãos;, descreveu.
As redações também não eram um problema. ;Fornecia-se uma caneta especial que era facilmente apagada. O candidato escrevia o texto e, posteriormente, o teor era alterado;, acrescentou. Meses após a prova do Corpo de Bombeiros, Ortiz chegou a oferecer a aprovação no concurso da Agência de Desenvolvimento de Brasília (Terracap), certame em que há fortes indícios de fraude, segundo a Polícia Civil.
Procurado pelo Correio, o advogado de Bruno Ortiz, Rubens Pires, afirmou que não teve acesso ao inquérito e que, por isso, não poderia comentar as alegações.