Cidades

Professor de letras confessa que recebeu dinheiro da Máfia dos Concursos

Um homem formado em letras e que dá aulas numa faculdade confessou ter sido contactado por Bruno Ortiz, filho de Hélio Ortiz, o chefe da organização criminosa, para participar do esquema

Ana Viriato
postado em 24/08/2017 06:00

A Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado, com auxílio da DOE, deflagrou a operação na segunda

Entre as 19 pessoas conduzidas, na última segunda-feira, à Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil (Deco) para prestar esclarecimentos sobre as fraudes em concursos públicos, investigadas na Operação Panoptes, pelo menos uma assumiu a participação no esquema. Formado em letras, Mateus (nome fictício), 40 anos, atuava como ;piloto; no conchavo ; a função dele era resolver as questões sobre a especialidade e repassar o gabarito a Bruno Ortiz, filho de Hélio Ortiz, apontado como líder da organização criminosa e preso novamente.
[SAIBAMAIS]Em depoimento, Mateus contou que, pela resolução da prova, receberia o valor equivalente a 5% do total acordado entre o concorrente e os responsáveis pela Máfia dos Concursos. A abordagem ao professor ocorreu por meio de Rafael Rodrigues da Silva Matias, detido preventivamente na deflagração da operação e braço direito de Bruno Ortiz. Segundo Mateus, Rafael mencionou o ;esquema de concursos; por três vezes, sem êxito. Na quarta oportunidade, ele aceitou. ;Principalmente pela questão financeira. A faculdade não estava pagando em dia;, contou a investigadores da Deco.

Assim, um dia antes da prova de um concurso não especificado pela Deco, Mateus contou ter se reunido com Bruno Ortiz e Rafael Rodrigues. Nessa encontro, os três acertaram o horário em que Mateus faria o exame e combinaram que Rafael o buscaria após o fim da aplicação. Ainda em depoimento, ele alegou que estava nervoso no dia do concurso. Assim, ;fez as suas questões de português, anotou na mão com a caneta e saiu;. O professor acrescentou que, ao terminar a prova, passou o gabarito ao integrante da quadrilha que estava em um carro.

À Polícia Civil, Mateus garantiu que desejava esclarecer os fatos, porque ;sempre foi trabalhador e nunca tinha se envolvido em situações desse tipo. Inclusive, por muitas vezes, sendo considerado o melhor professor da faculdade;. As informações constam no inquérito da Operação Panoptes.

Atuação
Segundo a Polícia Civil, os ;pilotos; eram pagos para responder às questões dos certames e fornecer o gabarito aos concorrentes que pagaram por um cargo nos órgãos públicos. Eles realizavam as provas de forma rápida, completando apenas as questões relativas à própria especialização e repassavam as respostas corretas aos candidatos por pontos eletrônicos ou mensagens de celular. Por isso, podem ser enquadrados nos crimes de organização criminosa e fraude em certame de interesse público.

Para garantir as primeiras colocações em seleções, os concurseiros pagavam uma entrada, cujo valor variava entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Após a aprovação, o candidato desembolsava o montante equivalente a 20 vezes a remuneração inicial prevista no edital. A Polícia Civil detalha que, na maioria das vezes, os concorrentes adotaram sistemas de crédito consignado para arcar com os custos.

Contatada pelo Correio, a defesa de Bruno Ortiz alegou que não teve acesso aos autos do inquérito e, portanto, não poderia emitir um posicionamento. A reportagem não localizou os advogados de Rafael Rodrigues.

Sob suspeita

A Operação Panoptes, cujo nome faz menção ao monstro de cem olhos da mitologia grega, investiga a remodelação da Máfia dos Concursos. Liderado por Helio Ortiz, o esquema foi desarticulado em 2005, mas voltou à ativa há, pelo menos, cinco anos. Segundo a Polícia Civil, todos os concursos realizados desde 2013 estão sob suspeita. A corporação também investiga fraudes em vestibulares de universidades públicas e particulares.



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