Luiz Calcagno
postado em 28/08/2017 06:30
O fotógrafo baiano radicado em Brasília Luiz Augusto Clementino de Oliveira, 66 anos, é apaixonado pelo cerrado. Desde muito novo, ele rodou o Brasil, mudando-se com o pai, engenheiro ferroviário, para diversas regiões. Morou em Minas Gerais, em Goiás e, em 1963, aos 13, veio para o Distrito Federal. À época, ele lembra, o clima na capital era mais frio, ;pois não tinha tantos prédios, tanto asfalto;. Passou para o curso de engenharia na Universidade de Brasília (UnB), formou-se, casou-se, começou a trabalhar na Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) e ganhou um apartamento funcional. Em meio a tudo isso, sempre fotografou. ;O meu pai tinha um laboratório de tratamento de fotos em preto e branco. O hobby dele era a fotografia, e eu o ajudei desde pequeno. Saía para fotografar com ele. Acho que isso despertou o meu interesse;, conta.
Em 1976, a rotina de trabalho, realizada a passo de relógio, se mostrava excessivamente incômoda. Luiz Clementino tinha 26 anos e dois filhos quando decidiu largar o emprego para fotografar. Pegou o dinheiro que tinha e passou seis meses com a família nos Estados Unidos. ;Acho que a gente tem que fazer o que gosta. Tem seu bônus e, também, seu ônus. Tive que enfrentar muita gente. Muitas opiniões contrárias. Diziam que eu estava ficando louco. Louco é quem quer continuar vivendo como eu vivia antes de me entregar por completo à fotografia;, avalia.
A partir desse momento, sozinho, com prática e esforço, o fotógrafo aprimorou a própria técnica. Viajou e documentou o sertão nordestino, viu a seca e a pobreza e conheceu uma família que dividia, por quatro, um ovo de galinha. ;No nosso país, exporta-se comida, enquanto muitos passam fome. Já fui para leste e para oeste, para sul e norte. Independentemente de filiação partidária, os programas sociais são muito importantes para mudar a nossa situação;, opina. Nesse período, vivia de namoros com o cerrado, fotografando a paisagem brasiliense sempre que podia.
[FOTO1005479]
Olhar apaixonado
Foi dessa relação calma e duradoura com o bioma do Centro-Oeste brasileiro que Luiz Clementino, já tão diferente do menino que fotografava com o pai, fez nascer seus dois últimos projetos: o livro Metamorfose do cerrado, idealizado com o cardiologista carioca radicado em Brasília e apaixonado por botânica Paulo Juvenal Alves; e a publicação Cerrado impressionista, com fotos do bioma e poesias de diversos autores. As obras serão lançadas hoje, no Clube do Choro.
No primeiro trabalho, de tom mais científico, o médico e o fotógrafo revelam o mesmo cenário durante as quatro estações do ano, além da importância do cerrado para o ecossistema brasileiro. Em meio às imagens, é possível observar as transformações sofridas pela paisagem natural, entre a estiagem e as chuvas. ;Cravamos uma estaca no chão para demarcar os locais e voltávamos lá, mês a mês, para fazer a imagem do mesmo local;, explica o Luiz Clementino.
O segundo livro, mais autoral, revela o olhar apaixonado do fotógrafo pelo cerrado. Fruto de incontáveis encontros, além da reunião e o tratamento de cerca de quatro anos de imagens, a obra mostra um cerrado que, a cada estação, aproxima-se quase que naturalmente das paisagens criadas pelo pintor impressionista francês Claude Monet, nos jardins de sua residência, em Giverny, na Alta Normandia.
O fotógrafo explica que escolheu com cuidado as fotos, quase todas resultado de saídas despretensiosas e pequenos insights. ;Grande parte do meu trabalho é nas comunidades carentes, fazendo registros para livros e cartilhas. Nessas andanças, colecionamos material e, em algum momento, surge uma coerência, uma unidade naquela produção. A partir daí, podemos fazer uma exposição, um livro ou até uma série de cartões-postais. Nesse caso, fiz as imagens de modo totalmente livre. O resultado foi uma plástica, que as deixou muito próximas de uma pintura impressionista. Mas não saí para o cerrado para fazer um livro impressionista. Aconteceu;, detalha.
Luiz Clementino lembra o compositor alemão Ludwig van Beethoven ao comentar sobre o processo criativo. Alerta para a importância da prática, mas pega paixão e sentimento. ;Por isso, escolhi uma frase dele para o livro. Ele dizia: ;Tocar uma nota errada é insignificante, mas tocar sem paixão é imperdoável;;, afirma. Por fim, comenta as poesias escolhidas. ;Dividimos o livro em capítulos. Começa com folhas, depois, vai para a água e, em seguida, ao alvorecer. Mandei imagens para que algumas pessoas escrevessem versos. Mas também tive que escolher algumas, que considero indispensáveis, como as de Nicolas Behr;, lembra.
Programe-se
Lançamento dos livros Metamorfose do cerrado e Cerrado impressionista, de Paulo Juvenal Alves e Luiz Clementino
Segunda-feira, 28 de agosto, às 20h
Clube do Choro de Brasília, no Setor de Divulgação Cultural (Eixo Monumental)