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100 dias sem chuva: cresce preocupação com reservatórios de água do DF

Umidade relativa do ar a menos de 9%, reservatórios de água preocupantes e altas temperaturas complicam a vida do brasiliense. Especialistas cobram o avanço das obras de captação no Lago Paranoá e no Bananal

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 30/08/2017 06:43
Com a estiagem prolongada, nesta época do ano, o número de queimadas aumenta perigosamente
Céu aberto, névoa seca e umidade abaixo dos 10% (ontem foi registrado 9% em Ponte Alta, perto do Gama) será o cenário do centésimo dia sem chuva no Distrito Federal. A estiagem ainda está longe de terminar, segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet-DF), só há expectativa de chuva para a segunda quinzena de setembro. Como reflexo do clima, o nível dos reservatórios começa a cair com mais intensidade. Na medição de ontem, o reservatório do Descoberto chegou abaixo dos 30% do volume total, número preocupante, pois, no mesmo período do ano passado, as réguas da barragem marcavam 50%.

Especialistas alertam para a impossibilidade de se contar com a chuva para resolver os problemas da crise hídrica, e a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) aposta em duas obras para impedir o colapso no abastecimento nos próximos anos. O sistema do Lago Paranoá segue com previsão de começar a funcionar em formato de testes até o fim de setembro. Na última semana, um acidente atrapalhou os trabalhos. Uma balsa com quatro bombas de captação tombou e levou três dias para ser retirada do Lago. Segundo a Caesb, o imprevisto não causará alteração no cronograma do projeto, que está 74% concluído.

[SAIBAMAIS]Em outubro, a companhia espera entregar a obra do Bananal (Parque Nacional de Brasília), que está 55% concluída. Juntos, os sistemas levaram 1,4 mil litros de água por segundo a mais para as casas dos brasilienses. Os número são expressivos, mas bem inferiores aos 5,6 mil litros por segundo que o Corumbá IV, principal obra de abastecimento do DF, pode trazer. O problema é que o sistema, que começou a ser planejado em 2005, não deve ser entregue antes do segundo semestre de 2018. A estimativa é de que a obra custe R$ 540 milhões.

O percentual de execução de todo o sistema encontra-se em torno de 67%. O complexo envolve a captação de água no Lago de Corumbá ; sob responsabilidade da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago-DF), sendo encaminhada para tratamento na cidade de Valparaíso e depois bombeada para DF e Entorno.

Desabastecimento

A boa notícia é que tanto o Descoberto quanto o Santa Maria fecharão agosto acima do previsto pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa). A expectativa era de que, ao fim do mês, as réguas marcassem de 25% e 33% do volume total, respectivamente. Em medição na tarde de ontem, foi registrado 29,66% (Descoberto) e 37,17% (Santa Maria).

Em nota, a Caesb informou que não deve lançar novas ações de enfrentamento ao desabastecimento por agora e que, ;independentemente da questão da crise hídrica, temos de usar a água de forma racional. A expectativa é que com as duas captações prontas, Bananal e Lago Paranoá, tenhamos uma boa oferta de água para o DF.;

Umidade relativa do ar a menos de 9%, reservatórios de água preocupantes e altas temperaturas complicam a vida do brasiliense. Especialistas cobram o avanço das obras de captação no Lago Paranoá e no BananalAnualmente, Brasília fica, em média, entre 90 e 110 dias sem chuva no período que pode variar entre julho e outubro. Neste ano, a expectativa do Inmet é de que a estiagem dure até 120 dias. ;O recorde de dias sem chuva ocorreu em 1963, quando ficamos 164 dias em estiagem. Então não podemos considerar que o que está acontecendo neste ano seja algo fora do normal, é o comum para a região;, conta Luiz Cavalcante, meteorologista do Inmet.

Em 2017, a estiagem foi mais curta, com 84 dias. Segundo o meteorologista Mamedes Melo, não é possível esperar que a chuva reverta o nível dos reservatórios. ;Não vivemos um período de secas longas o suficiente para culpá-las pela crise hídrica, mas, nos últimos anos, devido ao El Niño, não temos uma frequência normal de chuvas;, explica.

Outro ponto de alerta é a umidade relativa do ar, que, ontem, chegou a 11%, nível mais baixo do ano. O clima seco é propício a incêndios. Só neste ano, segundo o Corpo de Bombeiros, a área atingida pelo fogo foi de 6.370 hectares. ;Entre agosto e setembro, temos os períodos com umidade mais baixa no DF, porém, a expectativa é de que os níveis comecem a subir a partir do próximo fim de semana;, afirma Mamedes.

Fique de olho

A Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil informou que caso a umidade fique abaixo de 12% nos próximos dias, poderá ser declarado estado de emergência. Se definido, a Defesa Civil recomenda cuidados especiais com crianças e idosos. As atividades físicas e trabalhos ao ar livre devem ser suspensos entre 10h e 16h; é importante aumentar a ingestão de líquidos e evitar banhos prolongados com água quente e muito sabonete. A orientação, ainda é que se evite o uso de ar-condicionado, faça refeições leves, use protetor solar em abundância e umidifique o ambiente com aparelhos ou toalhas molhadas.

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