Roberta Belyse - Especial para o Correio
postado em 10/09/2017 06:00
O que poderia ser uma solução para que 400 alunos pudessem beber água de boa qualidade se transformou num estresse generalizado no Centro de Ensino Boa Esperança, na área rural de Ceilândia. ;É uma verdadeira incoerência. O governo desisitu de tratar a água daqui para trazê-la em caminhão-pipa;, reage a professora Iolanda Rocha.
Em 2015, a Secretaria de Educação cancelou o contrato de tratamento com uma empresa terceirizada da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), a Fluxo, depois que a Vigilância Sanitária constatou que o poço artesiano estava contaminado por coliformes fecais e outras bactérias nocivas à saúde, de acordo com a diretora da escola, Mirela Cristina da Silva.
O governo resolveu levar água para o centro de ensino e mais a Escola Classe Jiboia e a Escola Classe Lajes da Jiboia com ajuda de caminhões-pipa. Em média, cada uma recebe diariamente cerca de oito mil litros de água, retirados diretamente da Barragem do Descoberto, de acordo com a Caesb. Outras 10 escolas rurais são abastecidas por caminhões.
Mas a água dos caminhões, segundo professores, é de péssima qualidade. ;Temos um poço artesiano com 150 metros de profundidade, quantidade mais que o suficiente para abastecer a escola;, diz Iolanda. ;As crianças que não conseguem trazer a própria água e precisam beber do filtro da escola reclamam do sabor e do cheiro;, concluiu.
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;O governo disse que o caminhão-pipa era uma saída provisória e emergencial e prometeu retomar o tratamento da água do poço, mas estamos nessa situação há dois anos;, lamenta Mirela Cristina.
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De acordo com a Secretaria de Educação, para abastecer as 13 escolas rurais, os caminhões-pipa custam aos cofres públicos R$ 604,8 mil por ano (em torno de R$ 50 mil por escola). A verba garante água nas regiões de Planaltina, Ceilândia, Gama, Brazlândia e Paranoá.
Entre as escolas abastecidas pelos caminhões-pipa, duas tiveram os poços interditados pela Caesb: Escola Classe Ponte Alta Norte, no Gama, e o Centro de Ensino Fundamental Boa Esperança, em Ceilândia. ;Nas demais unidades, os poços secaram devido à falta de chuvas;, afirmou a pasta de Educação. Porém, segundo os diretores das Escola Classe Jiboia e da Escola Classe Lajes da Jiboia, assim como no CEF Boa Esperança, o problema não é a falta de água, só o tratamento dela.
A diretora Mirela Cristina informou ainda que solicitou um orçamento com uma empresa particular e enviou à regional de ensino. ;Se fosse dividir o valor total dos contratos para as escolas que recebem essa água, pelo menos nas unidades de ensino dessa região, o valor ficaria, em média, cinco vezes mais em conta;, ressaltou a diretora.
Análise
O Correio consultou uma empresa especialista em perfuração e tratamento de água de poços. ;Fazemos a limpeza do poço e uma nova análise. Depois disso, instala-se uma bomba dosadora de cloro. Basta o acompanhamento e complementação de cloro todo mês;, explicou o empresário Samuel Dias. O valor por escola ficaria em R$ 9 mil.
Para a engenheira ambiental e especialista em recursos hídricos Beatriz Barcelos, o único problema da água é a bactéria, portanto, o tratamento é simples. ;Bastaria comprar um filtro de carvão ativado, que há em qualquer mercado do ramo, um cloro e um dosador. A própria Caesb faz muito isso nas comunidades rurais;, afirma.
A Secretaria de Educação informou ;que está em fase de licitação o contrato de empresa que presta manutenção nos poços artesianos, contudo, não há prazo para que o processo seja concluído;.