Otávio Augusto
postado em 10/09/2017 08:00
O avanço das pesquisas imunológicas proporciona o desenvolvimento de novas vacinas para o controle de uma série de doenças. Para a estratégia funcionar efetivamente, é preciso o alinhamento de duas ações hoje antagônicas: o governo disponibilizar as doses e, sobretudo, o público ter consciência de procurar os postos de saúde.
Nesta segunda-feira (11/9), o Ministério da Saúde inicia uma ofensiva para atualizar as cadernetas de vacinação em todo o país. Contudo, nas últimas semanas, alguns postos da capital federal registraram o desabastecimento de doses de pelo menos cinco vacinas, segundo a própria Secretaria de Saúde e o governo federal.
Na última sexta-feira, a pasta afirmou que o estoque de vacinas está abastecido. As pentavalente, tríplice viral, tríplice bacteriana acelular do adulto (DTPa), tetraviral e contra o rotavírus tinham sumido dos estoques no último mês. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por ;precaução;, suspendeu a distribuição das vacinas após um problema no equipamento que realiza testes nas doses produzidas pelo laboratório Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
[SAIBAMAIS]
A normalização das vacinas pentavalente e tríplice viral ocorreu na última semana, segundo a Secretaria de Saúde. As prateleiras também foram abastecidas com 4,1 mil doses da vacina contra o rotavírus, em agosto, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda não há previsão para o abastecimento da tetraviral e da DTPa. Enquanto está em falta, a tetraviral é substituída pela tríplice viral %2b varicela monovalente (catapora), conforme recomendação do ministério.
A Secretaria de Saúde justificou, em nota, que ;apenas distribui as vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde;. Sobre o esvaziamento dos estoques, o texto resume: ;O problema está acontecendo em nível nacional;. Também em nota, o Ministério da Saúde admitiu a falha e ressaltou que, para minimizar o desabastecimento, comprou doses de um produtor internacional.
Apesar de o governo local garantir que o abastecimento está normalizado, há regiões em que as vacinas continuam em falta. O Correio percorreu seis salas de vacinação no Cruzeiro, Guará e Estrutural e constatou o desabastecimento nos dias 5 e 6 deste mês. Os enfermeiros contaram que as doses não chegaram ou foram enviadas em quantidades insuficientes. ;A situação é a mesma há pelo menos dois meses;, confirma um profissional que pediu para ter a identidade preservada.
O desabastecimento foi constatado, na última quarta-feira, pela garçonete Raquel Alves Ribeiro da Silva, 23 anos. Ela levou a filha,Taiane, de 5 meses, para atualizar a caderneta no Centro de Saúde n; 4, da Estrutural. Voltou para casa sem as doses. ;Faltam as vacinas pentavalente e a contra o rotavírus. É a terceira vez que venho aqui e não consigo. Não sei mais onde procurar;, reclama. Taiane voltou para casa com três vacinas atrasadas.
Antes mesmo de terminar de falar, outra mãe se aproxima. É a operadora de caixa Claudineia de Souza Santos, 31. O filho, Alexandre, 1, não foi vacinado. O menino deveria tomar a tríplice viral. ;As doses faltam frequentemente. Fico com pena dos enfermeiros, que ficam sem ter como ajudar. As mães vêm mais de uma vez e não conseguem vacinar os filhos.;
Avanços
O Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), oferece todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, são disponibilizadas cerca de 300 milhões de doses de imunobiológicas ao ano, para combater mais de 20 doenças, em diversas faixas etárias. As metas mais recentes do PNI contemplam a eliminação do sarampo e do tétano neonatal, além do controle de outras doenças imunopreveníveis, como difteria, coqueluche e tétano acidental, hepatite B, meningites, formas graves da tuberculose e rubéola, assim como a manutenção da erradicação da poliomielite.
Cálculo
O dimensionamento para solicitação de vacinas ocorre a partir das salas de vacinas do Distrito Federal, por meio do Sistema de Informação de Insumos Estratégicos (SIES) do Ministério da Saúde. No Núcleo da Rede de Frio do DF, todas as solicitações são consolidadas em um único pedido, que também leva em consideração as médias de consumo mensais de anos anteriores e um incremento de consumo. O Ministério da Saúde avalia o pedido e distribui as vacinas ao DF, levando em consideração tanto o pedido, como os estoques disponíveis para todo o país.
Três perguntas para Isabella Ballalai
presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
O desabastecimento prejudica a campanha?
Esse foi um problema nacional. O desabastecimento deve ser encarado como pontual e que está sendo normalizado. A campanha não pode ser prejudicada por isso. As pessoas têm que procurar os postos de saúde e atualizar a imunização.
Existe uma parcela de pais que é contra a imunização e circulam muitos boatos na internet sobre a segurança e a eficácia das vacinas. Isso é prejudicial para a saúde coletiva?
Não adianta só ter a vacina disponível. As pessoas têm que procurar os postos de saúde. Os boatos, sem dúvida nenhuma, influenciam de forma negativa na decisão das pessoas. Diferente daqueles que não são adeptos da imunização, as fake news prejudicam as pessoas que não são contra, mas que ficam com medo.
Por que as vacinas são alvo de tantos ataques?
A vacina é alvo do seu próprio sucesso, como as pessoas não veem a doença, têm uma falsa impressão de segurança e deixam de se vacinar. Mas uma coisa é certa, se baixarmos a cobertura vacinal, doenças como o sarampo e a poliomielite voltam a afetar as pessoas.
Abastecimento
Veja total de algumas vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde ao DF este ano.
Rotavírus
42,6 mil
Tríplice viral
85,9 mil
Tetra viral
26,4 mil
Fonte: Ministério da Saúde