Mariana Areias - Especial para o Correio, Otávio Augusto
postado em 20/09/2017 06:00
Se as negociações entre rodoviários e empresas de transporte não avançarem, o brasiliense deve amanhecer a quinta-feira sem ônibus. Os rodoviários ameaçam cruzar os braços por 24 horas ; a partir das 4h de amanhã ; caso as empresas não apresentem uma nova proposta de reajuste salarial. A previsão é de que 2.863 ônibus fiquem sem circular na capital federal. Em busca de alternativas, a população fica exposta aos riscos do transporte pirata ou precisará procurar caronas e aplicativos de transporte individual.
[SAIBAMAIS]Antes de radicalizar o movimento, os 22 diretores do Sindicato dos Rodoviários se reuniram para traçar a estratégia que pressionasse governo e empresários ao mesmo tempo. ;A última proposta colocada pela desembargadora foi considerada inviável pela diretoria do sindicato. Todas as tentativas de acordo foram vencidas. Estamos lutando para a categoria não perder o plano de saúde e por melhorias nas condições de trabalho;, explica Jorge Farias, presidente da entidade.
Se não houver alinhamento entre rodoviários e empresários, essa será a sétima greve em 2017. Sem consenso, nem o Tribunal Regional do Trabalho da 10; Região (TRT-10) conseguiu conciliar os interesses. Em pauta, está o reajuste salarial, o aumento no tíquete-alimentação, na cesta básica e nos planos de saúde e odontológico. O presidente da Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros (Transit), Barbosa Neto, defende que as empresas ofereceram ;um acordo coletivo de trabalho baseado na realidade econômica do país;.
Para as negociações avançarem, Barbosa alerta que os rodoviários não podem ;pensar em ganhos fora da realidade;. ;Estamos em tempos de crise e, neste momento, devemos ter a responsabilidade de não impor perda ao trabalhador, mas também não podemos fechar os olhos para a realidade;, destaca. O Executivo local acompanha as negociações. ;A categoria já está recebendo, desde o mês de maio, o reajuste referente à inflação, mas, infelizmente, quer ganhos reais que não refletem a realidade econômica do país. O governo espera que novas paralisações não ocorram para que a população não seja prejudicada;, frisa, em nota.
Comércio em alerta
Sem ônibus nas ruas, o comércio está preocupado com as dificuldades para os funcionários chegarem ao trabalho e com a possível queda no movimento. Na avaliação do presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, é preciso manter o mínimo previsto em lei de ônibus circulando ; 30% da frota. ;Venda perdida não se recupera, é difícil para o comércio. Com a greve, o comércio e o setor de serviços são os mais impactados;, explica.
Adelmir diz que os patrões devem criar uma logística que possibilite aos funcionários chegarem aos postos de trabalho. ;É possível pensar em compartilhamento de transporte e custeio de formas alternativas, como uso de aplicativos. A população não pode ficar desprovida de serviços;, completa. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista, Edson de Castro, defende a mesma opção. ;Pode haver a contratação de vans para pegar os funcionários em casa;, ressalta.
Edson teme que a greve atrapalhe ainda mais a recuperação do comércio. ;As vendas estão em baixa, o comércio será afetado. Temos 18 mil lojas fechadas por diferentes razões e essa situação agrava ainda mais o cenário. Nossa meta é fazer tudo o que for possível para o comércio sofrer o menos possível;, conclui. O comércio varejista tem, hoje, 30 mil lojas de rua e de shopping, e trabalham 101 mil pessoas no setor do DF. O Sindivarejista estima que pelo menos 48 mil funcionários serão afetados.
Passageiros
A ameaça de greve foi divulgada no início da tarde de ontem e logo a repercussão tomou conta da Rodoviária do Plano Piloto. A auxiliar de serviços gerais Edilene Costa, 45 anos, está se programando para a possível falta de ônibus. Para a moradora de Ceilândia, o metrô não é uma opção. ;Geralmente, sou dispensada do trabalho, pois não compensa;, conta. A única certeza é que não usará transporte pirata. ;Os valores são absurdos e eles correm muito. Não me aventuro.;
O operador de telemarketing Éder Araújo, 35, morador do Setor O, em Ceilândia, pretende usar o metrô. ;Precisarei sair uma hora mais cedo de casa e enfrentar filas para pegar o trem lotado;, reclama. Ele tem carro, mas há pelo menos dois meses, desde o aumento da gasolina, não utiliza o veículo para trabalhar. ;Eu intercalava entre ônibus e carro, mas agora dependo dos transportes públicos;, explica.
Gasto
A cabeleireira Mariza França, 52, mora em Samambaia e depende de ônibus para trabalhar no Plano Piloto. Em dia de greve, além de paciência, ela gasta mais dinheiro. ;Os custos chegam a R$ 20 com transporte pirata e metrô;, detalha. Ela só recebe quando trabalha. Contudo, em dia de greve, prefere ficar em casa. ;Costumo ganhar cerca de R$ 200 por dia no salão. Quando não tem ônibus, ganho menos de R$ 80;, se queixa.
Palavra de especialistas
Segurança é prioridade
É necessário prezar pela segurança. Aparecem bastantes veículos piratas com condições ruins. Primeiro, deve-se procurar se deslocar com cuidado. É preciso ter participação cooperativa entre a população e quem pode oferecer os serviços alternativos. A participação social é importante para que as pessoas se locomovam em horários e condições viáveis e seguras. Uma opção é juntar um grupo de pessoas para compartilharem o veículo de uma forma mais extensiva, pessoas que trabalhem no mesmo prédio, por exemplo. Para a maior parte das pessoas, será necessário sair mais cedo de casa e ter paciência.
Willy Gonzales Taco, professor e especialista em mobilidade urbana da Universidade de Brasília (UnB)
Negocição com a chefia
A greve é considerada um fato que, em princípio, independe de provas. Todos ficam sabendo. Muitas vezes, o patrão fica chateado por acreditar que o funcionário poderia ter conseguido um transporte alternativo. Isso deve ser negociado com o patrão em uma conversa clara. Pode registrar por foto que esteve no ponto e não tinha ônibus. Em princípio, o funcionário está amparado legalmente e não pode ter o ponto cortado, mas não recebe o vale-alimentação e transporte. Para resolver essa questão, é melhor haver transparência entre funcionário e patrão. Há atividades que podem ser feitas de casa. Temos que modernizar a relação de trabalho.
Cláudio Sampaio, advogado especialista em relação trabalhista
Alternativas
Veja quais são as alternativas para o período de paralisação dos rodoviários caso a greve seja confirmada
Metrô ; Os trens circularão das 6h às 23h30. Se houver aumento de demanda, a companhia ampliará o horário de pico, quando mais trens circulam ao mesmo tempo.
Uber ; Aplicativo pode ser opção para trajetos de longa distância. Contudo, se houve muita procura, o preço da tarifa pode ficar mais caro. Há a opção de viagens compartilhadas com outros clientes.
Cabify ; A plataforma estará com desconto de 100% para os clientes, válido tanto para aqueles já cadastrados quando para novas ativações. Das 7h às 17h, o código promocional poderá ser usado em até 2 viagens
Táxi ; Melhor para trajetos curtos por conta do preço da corrida.
Carona solidária ; Procure saber se colegas terão o mesmo destino que o seu. Compartilhar o carro pode ser alternativa para quem trabalha ou estuda junto.
Transporte pirata ; Não é recomendado o uso. Os veículos podem estar em más condições e os condutores, muitas vezes, não são treinados para esse tipo de serviço.