Jornal Correio Braziliense

Cidades

Travestis levadas para depor negam que eram exploradas em Taguatinga

Um grupo de transexuais negou a versão da Polícia Civil e disse que não era obrigado a se prostituir para pagar dívidas. Investigadores, no entanto, dizem ter certeza de esquema criminoso


Travestis que, segundo investigação da Polícia Civil, vinham sendo exploradas por uma organização criminosa com atuação em Taguatinga Sul, foram levadas coercitivamente para depor, nesta terça-feira (26/9), no Departamento de Polícia Especializada (DPE), no Complexo da Polícia Civil do Distrito Federal. Elas são tratadas como vítimas do esquema e foram levadas para ajudar os agentes a comprovar a atuação da quadrilha.
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A maioria das transexuais que chegava ao DPE evitava falar com a imprensa e muitas tinham uma postura hostil. O Correio conseguiu conversar com um grupo no momento em que ele já saía do departamento. Eram quatro, que juntas negaram a versão da polícia de que as donas das pensões onde ficam hospedadas são cafetinas e as exploram por meio de dívidas.

Uma delas disse que todas ali pagaram a passagem para o DF e também os tratamentos estéticos a que se submeteram. A que mais falou contou ter chegado a Brasília somente ontem do Amazonas. "Estou indignada com as prisões. É uma pensão, onde pagamos diárias e não tem dívidas", afirmou.

Investigações apontam o contrário


Apesar da versão contada pelas depoentes, a Polícia Civil diz estar certa de que essas pessoas eram exploradas depois de chegar ao DF. Após nove meses de investigações, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), em parceria com a 21; DP, de Taguatinga Sul, concluiu que as travestis eram aliciadas em outras regiões do país para trabalhar numa rede de prostituição.
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Uma vez aqui, elas se tornavam totalmente dependentes do esquema e precisavam trabalhar para pagar as dívidas adquiridas com a passagem de vinda e tratamentos estéticos para se tornarem mais atraentes. A dívida inicial passaria de R$ 5 mil e aumentaria diariamente com a hospedagem ; a diária nas pensões envolvidas no esquema gira em torno de R$ 50 a R$ 70.

Na operação deflagrada nesta terça-feira, estão sendo cumpridos 11 mandados de prisão preventiva de pessoas apontadas como cafetinas (algumas delas também travestis) e de um grupo rival que briga para dominar o território. Foram expedidos também 19 mandados de busca e apreensão, incluindo cinco endereços de 5 repúblicas que serviriam ao esquema. Entre os itens apreendidos, há carros de luxo comprados pelas líderes do esquema.