Cidades

Justiça ouve testemunhas sobre o assassinato do DJ Yago Sik no Conic

O crime aconteceu em 2 de julho, na saída de uma festa no Conic, no Setor de Diversões Sul. Assassino confesso, Lucas Albo disse à polícia que só queria assustar a vítima

Júlia Campos - Especial para o Correio
postado em 28/09/2017 16:43

Yago foi morto com dois tiros a queima-roupa. Um deles o atingiu na cabeça

O Tribunal do Júri de Brasília ouve, na tarde desta quinta-feira (28/9), as testemunhas ligadas à morte do DJ e estudante universitário Yago Sik, 23 anos. A primeira testemunha ouvida foi Marcela Martinelli Brandão, ex-namorada de Lucas Albo, 22 anos, assassino confesso do rapaz. O crime aconteceu em 2 de julho, na saída de uma festa no Conic, no Setor de Diversões Sul. À época, Lucas disse que não tinha a intenção de matar a vítima, ;apenas dar um susto;.

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[SAIBAMAIS]Ela contou que conheceu a vítima em dezembro de 2016 e que eram amigos. Sobre o relacionamento com o autor dos disparos, ela relatou que, 15 dias antes do crime, ele havia sido agressivo, após ler mensagens com amigas no celular dela. ;Tudo por ciúmes. Me acordou com agressões e xingamentos. Ele chegou a apontar uma arma na minha cara;, disse. Ela o definiu como uma pessoa ciumenta, mas não agressiva. No dia do crime, Marcela recorda que chegou junto com o ex-companheiro à festa no Conic.


Após um hora dentro do local, Lucas implicou com um amigo do casal. ;Simplesmente, porque ele veio falar comigo. Com isso, pedi pra ele ir embora comigo, pois estava me fazendo passar vergonha;, relembra. Os dois seguiram para a casa do jovem, ela o deixou no quarto, pegou os pertences e voltou para a festa. ;Chamei um táxi e encontrei com meus amigos. Após 20 minutos que tinha voltado, me informaram que o Lucas estava no local de novo;, relatou.

Neste momento, Lucas procurou por ela a puxou pelo braço xingou, enforcou e mordeu o queixo. Os amigos em volta separaram os dois. O agressor fez gestos para Yago como fosse bater nele, mas a vítima levantou os braços e anunciou que não queria brigar. ;Ainda assim, foi pra cima dele. Um dos murros pegou em Bárbara, a pessoa com quem o Yago estava em um relacionamento. Os dois foram para o chão e continuaram brigando. Um amigo nosso deu um mata leão no Lucas, que acabou ficando desacordado por alguns segundos. Quando ele levantou, os seguranças tiraram ele da festa;, comentou.

Marcela disse que decidiu ir para casa e, quando chegou lá, o ex-companheiro tinha enviado mensagens em que havia ameaças de morte a ela e a Yago. Com isso, decidiu avisar aos que ficaram na festa que Lucas voltaria para o local. Marcela também é considerada vítima no processo, em que Lucas é acusado de ameaça e lesão corporal.

A defesa de Lucas Albo fez alguns questionamentos a Marcela. Porém, o juiz que presidiu a audiência considerou as perguntas ofensivas. Em um certo momento, o advogado foi ríspido com a testemunha. ;Quem faz as perguntas sou eu, você só responde;, disparou.

Emoção

A segundo depoente foi Bárbara Rodrigues, com quem Yago teve um relacionamento rápido no dia do crime. Ela estava com uma camiseta que tinha a foto dele estampada. No início do depoimento, confirmou que os dois eram ficantes e que, anteriormente, o conhecia apenas de vista. A jovem lembra que foi apresentada a Marcela depois da primeira confusão, quando Lucas havia ficado em casa. ;Ele (Yago) disse que gostava muito dela, mas era uma pena que namorava Lucas, pois sabia da agressão ocorrida dias antes e do jeito ciumento dele. Foi só isso que me disse;, relembrou.
Bárbara relata que, algum tempo depois, o agressor já chegou indo em direção a Marcela. Quando percebeu que Yago também iria apanhar, ela o abraçou na tentativa de protegê-lo. ;Mesmo ele dizendo que não queria brigar, o Lucas veio pra cima e ainda me acertou. Depois disso, saí de perto e não vi como aconteceu;, relatou.

Após algum tempo perdida, encontrou Yago na festa, que pediu desculpa por tê-la colocado naquela situação. Os dois continuaram no evento e, já no fim, decidiram ir para a casa de um amigo dele. ;Foi quando o Yago me disse que havia ficado sabendo que Lucas estava do lado de fora, mas continuamos conversando com outras pessoa. Mas ele decidiu que queria conversar com Lucas para resolver da melhor maneira. Repetia várias vezes que queria ficar de boa com ele;, contou. Yago foi na frente, logo Lucas apareceu, xingou e disparou contra ele. Ao relembrar esse momento, Bárbara se emocionou.

Janaína Moura foi a terceira testemunha ouvida. Ela é amiga de Marcela Martineli e estava no local do crime. Ao ser questionada sobre saber de possíveis agressões de Lucas contra a colega, a mulher lembra que ele a havia agredido 15 dias antes do fato e que recebeu uma ligação. ;Era a Marcela, pedindo que fosse buscá-la, pois estava toda machucada. Inclusive, enviou fotos para meu celular. Fui até a casa dele e bati insistentemente, até que o próprio me atendeu e disse que apenas havia dado algumas chacoalhadas nela. Minha amiga já não estava lá, tinha ido embora a pé;, menciona.

Na festa em que ocorreu o assassinato, ela chegou apenas às 4h e perguntou por Lucas a Marcela. Foi quando ela relatou que havia tido duas confusões durante a madrugada, que envolviam ele, e que tinha ido embora. Após essa breve conversa, Janaína se juntou a outros amigos que estavam no local. ;Lá para o fim da festa vieram me contar que Yago tinha levado dois tiros. Saí correndo lá de dentro e, quando o vi estirado no chão, ainda verifiquei que ele estava com pulso. Mas não presenciei mais nada;, assegurou. Os advogados de acusação indagaram Janaína sobre o fato de Lucas ter ciúmes da vítima e ela afirmou que Marcela já havia comentado.

O último depoente do dia foi Rodrigo Santori. Ele conhecia tanto Lucas quanto Yago somente de vista, a mulher dele é amiga de Marcela Martinelli. Ao ser questionado sobre as brigas no interior do evento, ele afirmou que somente ouviu boatos, mas não presenciou nada. Na saída da festa, esperava uma amiga da companheira que iria embora com eles e viu de relance que Lucas estava encostado em uma parede do lado direito. No momento em que ela chegou e começaram a seguir em rumo ao carro, todos presenciaram a vítima assustada com Lucas e, de repente, os disparos começaram. ;A reação do Yago foi um reflexo. Eu só ouvi dois disparos e saí correndo;, alegou.

Família


Os pais da vítima estiveram presentes à audiência. A mãe, Cesarina Linhares, estava com um terço na mão e chorava a todo momento. Principalmente nos depoimentos de Marcela e Bárbara. ;É muito difícil ter que ouvir tudo de novo, nem quero mais vir. A gente só espera por justiça;, lamentou. O pai, Átilla Sik, diz que agora é só esperar os próximos passos. ;Está muito claro o que aconteceu. Nada vai trazer nosso filho de volta, mas que o mínimo de conforto possa nos ser dado;, cobrou.

Ao todo, são 11 testemunhas. Quatro foram ouvidas hoje, uma não foi localizada e outra não compareceu. Na próxima quarta-feira (4/10), mais quatro pessoas vão prestar depoimento. O Ministério Público dispensou duas testemunhas. A defesa de Lucas insistiu que fosse intimado o depoente que a Justiça não conseguiu localizar.

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