Júlia Campos - Especial para o Correio
postado em 11/10/2017 16:15
O advogado dos pais acusados de injetar insulina em um bebê de dois meses no Hospital Universitário de Brasília (HUB) alega que a mãe faz terapias constantes desde a confissão do crime, em julho, para tratar uma ;grande; depressão. Segundo Ronaldo dos Santos Alves, a profissional que atende a cliente suspeita de que ela possa ter Síndrome de Munchausen por Procuração.
Ronaldo Alves espera o relatório médico para decidir os próximos passos da defesa da cliente. ;Tudo indica que ela possa ter essa doença. Caso seja comprovado, vou pegar o laudo e apresentar em juízo para saber o que pode ser feito a favor dela;, afirma. Ele ainda comentou que, no mês passado, teve uma audiência onde foi pedido que a instituição que abriga os quatro filhos do casal suspeito fizesse um acompanhamento junto aos pais para saber o que tinha ocorrido e para recolher um histórico familiar. A partir disso, um documento será entregue ao juiz que designará uma pessoa do Tribunal de Justiça para fazer uma avaliação.
;Sei que funcionários do abrigo estiveram na escola onde as crianças estavam matriculadas, conversaram com os professores para saber como era a relação das crianças com os pais. Após esse parecer por parte do Judiciário, será decidido se as crianças voltam para o convívio familiar ou se continuam onde estão. Devido às atuais circunstância com toda essa exposição de informações, acredito que eles não voltarão por agora;, aponta. O advogado disse que atua somente na causa do afastamento. Em relação ao indiciamento, ele contou que nada foi conversado com o casal.
;Sei que funcionários do abrigo estiveram na escola onde as crianças estavam matriculadas, conversaram com os professores para saber como era a relação das crianças com os pais. Após esse parecer por parte do Judiciário, será decidido se as crianças voltam para o convívio familiar ou se continuam onde estão. Devido às atuais circunstância com toda essa exposição de informações, acredito que eles não voltarão por agora;, aponta. O advogado disse que atua somente na causa do afastamento. Em relação ao indiciamento, ele contou que nada foi conversado com o casal.
Para a delegada Ana Cristina Sampaio, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), é muito claro que a mãe sabia de todas as consequências que o ato dela poderia ocasionar. ;Quem deveria proteger o bebê fez totalmente o contrário. Não podemos, simplesmente, descriminalizar a ação que foi cometida;, ressaltou.
Falsificação
Procurada pelo Correio, a psiquiatra Josianne Martins explicou que a doença, também chamada de Transtorno Factício por Procuração, consiste na falsificação de uma doença em outra pessoa que está sob seus cuidados. O indivíduo produz na vítima sinais e sintomas físicos ou psicológicos, induz lesão ou doença, ou mesmo agrava uma doença já existente.
A profissional afirma que, frequentemente, os sintomas apresentados são dramáticos e incomuns, não respondem aos tratamentos habituais e novos sintomas sempre aparecem quando os primeiros se resolvem. Geralmente, está presente grande desejo de submeter a pessoa a exames e procedimentos, e a história médica é extensa. ;Muitas pessoas que recebem o diagnóstico de Transtorno Factício por Procuração apresentam outros diagnósticos psiquiátricos como transtornos de personalidade, de humor, uso de substâncias, entre outros.;
O tratamento inclui a psicoterapia e algumas vezes a medicação, principalmente quando há outros transtornos psiquiátricos associados. Segundo a psiquiatra, a principal motivação da Síndrome é obter cuidados médicos para a vítima e participar do sistema de saúde. ;A princípio, não se identifica ganhos óbvios e o ganho financeiro pode estar presente de forma secundária, ou seja, não é a motivação principal, é apenas a consequência da situação. Quando se tem o relato intencional de sintomas para ganho de dinheiro, licença de trabalho, etc. trata-se de Simulação, e não, de Transtorno Factício;, adverte.
Entenda o caso
Suspeita no hospital
Em julho, a equipe médica do HUB pediu a presença de uma conselheira tutelar para relatar que uma mãe injetou insulina em um bebê de dois meses. Ele estava internado desde 24 de junho, com suspeita de hiperinsulinismo congênito. O garoto sobreviveu. Na delegacia, a mãe confessou a autoria do crime. Contou que o pai do bebê trabalhava como entregador em uma farmácia e fornecia a insulina. Ele negou . Em 29 de setembro, o Ministério Público denunciou os dois por tentativa de homicídio. Outros dois dos seis filhos da mulher, diagnosticados com a mesma doença, morreram no ano passado. Sob a justificativa de que os medicamentos estavam em falta na Secretaria de Saúde, a mãe fez campanhas na internet, nas quais pedia dinheiro para comprar remédios.