Luiz Calcagno
postado em 12/10/2017 08:00
O córrego Barreirinha, que corta o Núcleo Rural Casa Grande, na Ponte Alta do Gama, secou. É possível caminhar a pé no leito do manancial sem sujar a sola do sapato de lama. Existem apenas alguns bolsões de água parada, impróprios para consumo humano e insuficientes para irrigação. Chacareiros perderam plantações de hortaliças ou ficaram sem água na residência. O diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa), Paulo Salles, alerta: a situação não é exclusiva da região e se repete em outros mananciais na capital. Ele pede ;calma; à população.
Alguns chacareiros acusam dois vizinhos de terem feito uma represa para usar a água escassa na irrigação das suas plantações. A reportagem conversou com diversos moradores, que pediram para não serem identificados, por medo de represálias. ;O potencial hídrico já vinha diminuindo. Mas esse ano, de repente, ele baixou de vez;, contou uma pessoa que vive às margens do Barreirinha.
O morador tem um poço artesiano e se dispôs a dividir água com vizinhos. Para ele, o GDF regularia o quanto os chacareiros deveriam produzir para garantir o fluxo do córrego. ;Claro que os maiores produtores geram emprego e são importantes para nós. Mas a água é um bem precioso e não é propriedade de ninguém;, protesta. Outro produtor também reclama: ;A água está brotando na mina. Se não está chegando às chácaras, está ficando em algum lugar.;
[VIDEO1]
Produtor de hortaliças, Juscelino Teles de Lima, 58 anos, uma das pessoas apontadas como responsável pela suposta represa, nega a acusação. Segundo ele, a porção do rio que corta suas terras foi parcialmente escavada pelo antigo proprietário, o que fez com que parte da água se acumulasse no local nas últimas chuvas. ;Estou usando esse acúmulo;, garante. ;Também estou surpreso com a seca. Estou aqui há 10 anos e nunca vi isso. Perdi 90% da minha produção;, completa.
;Mais com menos;
Paulo Salles destaca que essa é a situação de muitos córregos do DF. Ele lembra que a situação dos agricultores é crítica desde o ano passado, quando ficou determinado que teriam de reduzir em 75% o uso de água. ;Isso implica em uma redução na produção e um corte no orçamento de várias famílias. Estamos no terceiro ano seguido de poucas chuvas. É uma situação que se repete no Brasil todo e em várias partes do mundo. Todos estão sofrendo com as mudanças climáticas. Precisamos viver com menos água e que os produtores rurais consigam produzir mais com menos;, pondera.
Ainda de acordo com Paulo Salles, a Adasa reforçou a fiscalização. Ele recomenda que, caso a população flagre represas ilegais, denuncie à Polícia Militar. ;Vamos reduzir a quantidade de água que a Caesb pode usar. A outorga da empresa é de 3,8 mil litros por segundo e o compromisso é que reduzam para 3,1 mil. Estamos analisando a situação diariamente.;