Gabriela Sant'Anna - Especial para o Correio
postado em 14/10/2017 15:06
Entre risadas, lágrimas e boas lembranças, um reencontro entre 55 engenheiros civis, no anfiteatro 2 do Instituto Central de Ciência da Universidade de Brasília (UnB), na manhã de ontem, reproduziu o roteiro das aulas que eles assistiam juntos, 40 anos atrás. Com a presença de três professores que ainda lecionam na instituição, a Aula da Saudade começou, às 10h, em meio a abraços calorosos e muita conversa.
Primeiro, todos responderam à chamada. E cada um aproveitou, na hora de responder ;presente!”, para relembrar qual era o seu apelido na época de estudante e como a vida seguiu, depois da formatura. Não faltou história para contar. Muitos não haviam pisado na UnB desde a colação de grau, em 1977. A maioria continuou morando na capital, mas havia gente de todo o canto do país e até do exterior.
Alguns ex-alunos seguiram a carreira da engenharia, e outros, caminhos completamente diferentes. Em comum, a grande amizade de 40 décadas e o desejo do reencontro. O sentimento é tão forte que a turma se reúne anualmente, revela José de Paula Júnior, o Jotinha, um dos organizadores. Os dois últimos encontros foram em Maceió (AL) e Natal (RN).
;É sempre um momento de muita emoção, todos ficam ansiosos pela chegada da data. Sem dúvida, a nossa turma é uma das mais unidas e festeiras de toda a UnB, de todos os tempos;, garante Jotinha. Todos concordam. ;Realmente, as turmas atuais não têm essa união, não se reúnem com tanta frequência;, comenta o professor João Carlos Teatini de Souza, 69 anos. ;Durante os anos em que estou na UnB, nunca vi igual. É de dar inveja.;
Autor do livro Estrutura de Concreto Armado, que está na 3; edição, Teatini avaliou as mudanças na universidade nos últimos quarenta anos e disse que, apesar do baixo orçamento, a UnB continua sendo uma instituição de ponta. ;Evoluímos muito em infraestrutura e na qualidade do curso, que é sempre muito bem avaliado em nível nacional. Cada um aqui pode se orgulhar de ter estudado na UnB, uma das melhores universidades do Brasil.;
Perseguição
A união do grupo também é consequência da repressão sofrida pela universidade durante a ditadura militar. ;Durante esse período, muitos colegas ficaram prejudicados, pois perderam algumas matérias, tendo que compor turmas alternadas. Isso proporcionou uma amizade grande porque todo mundo se conhecia e havia uma intensa troca de conhecimento entre os estudantes;, diz Jotinha.
De acordo com historiadores, a UnB foi a instituição de ensino superior que mais sofreu durante o regime militar, com invasões de tropas, demissões de professores e prisões de alunos. ;Foi algo diferente do tradicional, não pudemos colar grau dentro da UnB, além do evento ter sido adiado por vezes;, lembra o engenheiro.
O professor Danilo Sile Borges, 76 anos, acompanhou a vida acadêmica da turma. Relembrou histórias, disse que o papel do professor é ;sempre estar um passo à frente para orientar;, e deu seu recado. ;Como os colegas aqui têm larga experiência profissional, não tenho muito o que falar sobre isso. Então, o alerta é com a saúde. Sugiro que cada um faça acompanhamento médico frequente.;
Tudo igual
No encontro, nenhum colega ficou esquecido. Antes de encerrar a Aula da Saudade, a turma prestou uma homenagem aos 17 alunos já falecidos. E depois, seguiram todos para o Restaurante Universitário, conhecido como Bandejão. O almoço é tradição quando a turma se encontra em Brasília. Jotinha garante que nada mudou: a comida e o ambiente continuam os mesmos. ;A única coisa diferente é a estrutura. Quando entramos na UnB, ele funcionava em outro local. Tirando isso, continua tudo igual.;
Animada, a turma emenda três dias de comemorações, que começaram nesta quinta, com um happy hour, e terminam na noite de hoje, com a Festa das Canetas, no Setor de Clubes Sul, reunindo as famílias em torno de muita música, dança, comida e alegria. ;Esperamos que seja um momento muito especial, para fechar o nosso evento com chave de ouro;, anima-se Jotinha.