Cidades

Arquivos públicos em cidades centenárias resgatam história da criação do DF

Instalação de arquivos públicos em cidades centenárias, como Pirenópolis e Corumbá, podem dar novo tom à história da criação da capital Federal

Luiz Calcagno
postado em 19/10/2017 06:00
Costumes de populações que viviam no Planalto Central, como das cidades de Pirenóplis (E) e Corumbá, poderão 
ser conhecidos

Os milhares de documentos antigos guardados nas câmaras municipais, em cartórios centenários e até mesmo os registros eclesiásticos dos municípios goianos de Pirenópolis e Corumbá podem dar um novo tom para a história da criação do Distrito Federal. Isso porque, em breve, as cidades, com respectivamente 290 e 287 anos, terão os próprios arquivos públicos para organizar, gerenciar e divulgar papéis que datam da origem das regiões. Cocalzinho de Goiás, caçula, com apenas 23 anos, também ganhará um arquivo. A fábrica que fazia o cimento para as obras de Brasília ficava em área do atual município.
Os documentos, registros de batismo, atestados de óbito, inventariados, registros criminais e condenações que datam desde o século 19 podem revelar os costumes de uma população que estava instalada no planalto central muito antes da construção de Brasília. Além disso é provável que as cidades guardem, também, novos dados e informações ainda não divulgadas sobre a Missão Cruls, expedição científica que explorou a região e demarcou o primeiro quadrilátero da nova capital.

A história contada inclui, claro, os relatórios e imagens da expedição, a primeira do tipo a ser registrada com fotografias no país, além de cadernetas escritas pelo engenheiro militar Hastimphilo de Moura, com dados e impressões pessoais sobre a jornada da equipe liderada pelo astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls. A empreitada teve início em 1982, a pedido do então presidente da República, Floriano Peixoto, que governou o país de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894.

Quanto ao que permanece oculto, o Arquivo Público do DF vai orientar as prefeituras sobre como estruturar o órgão e gerenciar os documentos e terá acesso a cópias da documentação. Superintendente do órgão, Jomar Nickerson de Almeida demonstra entusiasmo ao falar sobre as histórias esquecidas em papéis há muito tempo armazenados. ;As prefeituras vão organizar os próprios arquivos e começar a resgatar parte da história que, muitas vezes, os próprios cidadãos dos municípios têm em suas residências. Nós vamos dar apoio técnico. Acreditamos que os três municípios podem ter documentos importantes sobre a interiorização da capital;, explica.

DNA cultural


Professor do departamento de história da Universidade de Brasília (UnB), Kelerson Semerene Costa teve acesso a parte dos documentos de Pirenópolis que farão parte do acervo do Arquivo Público do município. Ele morou na cidade, entre 1994 e 1995, para pesquisar a história da região. Posteriormente, o levantamento também resultou em um livro batizado de Meiaponte, o antigo nome da cidade.

Para o estudioso, a história do passado ainda vive, mesmo dentro do DF. ;É claro que a transferência da capital para o interior mudou os padrões de ocupação e influenciou a região. Mas não podemos falar da nossa história somente a partir de 21 de abril de 1960. Já existia toda uma comunidade na região e alguns costumes se conservam até hoje dentro do DF, inclusive. A Festa do Divino faz parte do calendário escolar de São Sebastião e existem lendas que datam da exploração do ouro que ainda está no imaginário de moradores de Planaltina;, exemplifica.

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