Cidades

Voluntários se unem a bombeiros e lutam para salvar santuários da Chapada

Voluntários se unem a brigadistas e bombeiros no combate às chamas, que já consumiram 26% do Parque Nacional. Eles sofrem com falta de equipamentos adequados e tentam evitar que o fogo se alastre ainda mais, inclusive pela zona rural

Renato Alves
postado em 25/10/2017 06:00
Alto Paraíso (GO) ; Enquanto bombeiros e brigadistas combatem o incêndio dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), inciado há uma semana, voluntários das mais diversas idades e profissões lutam para apagar o fogo que se alastra por fazendas e reservas particulares. Até a noite de ontem, as chamas haviam consumido 64 mil hectares de cerrado, o equivalente a 26% da unidade de conservação federal, que tem 240 mil hectares.

As operações de combate ao fogo dentro da reserva têm comando unificado composto pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), Ibama e Corpo de Bombeiros de Goiás (CBMGO) e do Distrito Federal. São mais de 110 brigadistas e militares. Eles contam com o apoio de cinco aviões-tanque do ICMBio, helicópteros do Ibama, da Polícia Rodoviária Federal, do CBMGO e da Polícia Militar do DF. Ontem, um avião Hércules c-130 da Força Aérea Brasileira (FAB) se juntou à frota. A aeronave decola de Anápolis (GO) com 12 mil litros de água. Há cinco saídas programadas para hoje com destino ao parque da Chapada.

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[SAIBAMAIS]Em outras frentes, mais de 100 voluntários, a maioria moradores da região da Chapada, tentam evitar a propagação das queimadas pelas propriedades rurais vizinhas do Parque Nacional. A destruição do fogo nessas áreas ainda não foi mensurada, mas o Correio percorreu a zona rural e flagrou as chamas queimando centenas de hectares em pontos diferentes. Encontrou produtores com medo de ter edificações destruídas e acompanhou a batalha árdua de voluntários, que têm disposição de sobra e equipamentos de menos.

Vale da Lua


Ontem, fora do Parque Nacional, as queimadas se concentraram no Vale do São Miguel, perto da Vila de São Jorge, município de Alto Paraíso. Havia fogo em matas da Fazenda Volta da Serra até a vila, onde ficam dezenas de pousadas e casas de temporada, ocupadas principalmente por brasilienses, nos fins de semana e feriados. Labaredas consumiam pastos e cerrado nativo em pontos turísticos, como o Vale da Lua. Localizado em propriedade particular, é o ponto mais visitado da região, depois do parque.

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Vizinha ao Vale da Lua, a Fazenda Volta da Serra queima desde sábado. Metade dos seus 2 mil hectares foram incendiados, onde ficam a Cachoeira do Codorvil, a Cachoeira do Roteador e o Poço das Esmeraldas. O dono, Lauro Jurgeaitis, 52 anos, passou a manhã de ontem implorando por ajuda, por meio do WhatsApp, pelo qual os voluntários se comunicam. O primeiro grupo chegou só após as 11h. Quatro homens passaram quatro horas no meio da mata fechada, combatendo a linha de fogo que ameaçava chegar à sede da fazenda.

O problema maior, porém, não era a falta de gente, mas de material. Só após 16 horas chegaram mais abafadores e bombas d;água que carregam nas costas. No fim da tarde, cerca de 20 pessoas estavam divididas na mata. No entanto, a tão esperada ajuda aérea não veio. Três helicópteros e um avião de diferentes forças de segurança sobrevoaram a área, mas nenhuma aeronave jogou água.

Lauro Jurgeaitis, que trocou o Rio Grande do Sul pelo Centro-Oeste em 1988 e, desde então, se dedica à preservação do cerrado em sua propriedade na Chapada, não escondia o desânimo. ;O fogo queimou a mata em três nascentes. Dois córregos estão secos. O Rio São Miguel, que corta a fazenda, está quase seco. Nunca vi cenário igual. A Chapada é o berço das águas, responsável por 70% das águas que abastecem as bacias do Paraná, de Tocantins e do São Francisco. Mas a mudança climática chegou e é para todos;, alertou.

A Fazenda Volta da Serra é um santuário de vida silvestre. Além de hospedar turistas, há 20 anos serve de abrigo a pesquisadores. Desde domingo, 16 alunos e quatro professores do curso de biologia da Universidade de Brasília (UnB) estão acampados na propriedade. Eles observam e coletam aves. Ontem, se ofereceram a combater o fogo.


100
Número aproximado de voluntários que trabalham no combate às chamas no parque

64 mil hectares
Área da reserva que havia sido atingida pelo fogo até a noite de ontem

240 mil hectares
Área total do Parque Nacional da Chapada

12 mil litros
Quantidade de água que avião Hércules c-130 da FAB leva para a região a cada viagem

20
Número de alunos e professores do curso de biologia da UnB que estão no local


COMO AJUDAR


No combate ao fogo
Moradores de Alto Paraíso e entidades de defesa ambiental criaram a Rede Contra Fogo. Os voluntários montaram um site em uma plataforma de financiamento coletivo para arrecadar fundos destinados à preparação de lanches, ao transporte de voluntários, à logística de equipamentos e a operações de combate ao fogo. Para saber mais, acesse: catarse.me/redecontrafogoveadeiros.

No resgate a animais
Voluntários do DF e da Chapada dos Veadeiros se reuniram para arrecadar materiais hospitalares para os cuidados com animais afetados pelo fogo. O grupo aceita medicamentos, soro, gazes, luvas, gaiolas, além de alimentos para voluntários e equipamentos de combate a incêndio. Informações: 982-717-029 (Fernanda) e 983-666-997 (Ingrid).

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