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Aliança entre Rollemberg e Abadia provoca um racha dentro do PSDB

De olho na reeleição, governador reage à parceria entre PT e PDT, anuncia a tucana como aliada estratégica. O presidente regional da legenda, Izalci Lucas, tenta evitar que adesão prejudique sua candidatura ao Buriti

Ana Maria Campos
postado em 26/10/2017 06:00

Rollemberg se une a Maria de Lourdes Abadia:

Reza a lenda no mundo político que não existe vácuo no poder. Espaços vazios são rapidamente ocupados. Foi o que ocorreu nesta semana numa jogada importante do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para recompor sua equipe depois do rompimento com o PDT. Saíram pedetistas, entram tucanos. A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia, fundadora do PSDB, e o suplente de deputado distrital Virgílio Neto, também filiado ao partido, vão tomar posse em cargos da atual administração do DF. O anúncio ocorreu ontem, na residência oficial de Águas Claras.

A Abadia, Rollemberg ofereceu a supersecretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), que já foi comandada pelo presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), e por Gutemberg Gomes, indicado pelo distrital.

Ela, no entanto, preferiu algo mais focado em áreas carentes, trabalho que a projetou no mundo político. Ganhou, assim, o cargo de secretária especial de Projetos Estratégicos. Vai despachar no Palácio do Buriti, com uma equipe de 15 a 20 servidores e ficará encarregada de ações de visibilidade, como a implantação da infraestrutura do Sol Nascente e de Vicente Pires, a desobstrução e a ocupação ordenada da orla do Lago Paranoá, a desativação do lixão da Estrutural e o projeto Habita Brasília. Virgílio Neto ganhou o cargo de subscretário de Políticas Estratégicas da supersecratria.

No anúncio da chegada dos tucanos, Rollemberg rasgou elogios a Abadia, com quem sempre manteve uma boa relação: ;São projetos muito importantes para o governo do DF e chegamos à conclusão que o melhor nome pela sua competência, pela sua inserção social, pela sua reputação e pelo seu espírito público seria o da ex-governadora Maria de Lourdes Abadia;.

Mais do que o currículo e a trajetória de Abadia, Rollemberg mira as próximas eleições. As negociações com o PSDB incluem uma possível aliança em que o partido indique o vice na chapa que vai concorrer em 2018. Abadia seria esse nome. Antes de sacramentar o convite, o governador do DF conversou com muita gente. Telefonou para os tucanos que tomam as decisões, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o secretário-geral da legenda, Sílvio Torres, e o senador Aécio Neves (MG). Na noite de terça-feira, como revelou ontem a coluna Eixo Capital, Rollemberg fechou a entrada de Abadia no governo com uma conversa no Senado com o presidente em exercício do partido, senador Tasso Jereissati (CE).

O cargo de vice na chapa havia sido oferecido também a Joe Valle, mas a decisão do PDT de caminhar sozinho fechou essa porta. Mas a aproximação de parte do PSDB com a administração de Rollemberg não significa uma imediata decisão por aliança. Há muito ainda a ser discutido. O PSDB/DF está rachado e sob o comando do atual presidente, deputado Izalci Lucas.

O tucano, que trabalha para ser candidato ao Buriti contra Rollemberg, ficou indignado com a negociação. Ele conta que recebeu uma ligação de Jereissati na véspera do encontro do tucano com Rollemberg, ocorrido no cafezinho do Senado. O presidente do PSDB foi leal e contou que havia um convite para Abadia, ressaltando que o governador do DF tinha uma boa notícia para dar. ;Notícia boa seria Rollemberg desistir da reeleição;, rebate Izalci.

Adesão

O tucano do DF sabe que a política é feita também de imagens. Ele tem feito uma peregrinação para convencer eleitores e aliados em partidos que se identificam com o PSDB sobre a viabilidade de sua candidatura. A adesão de parte da legenda ao governo Rollemberg provoca instabilidade nessa negociação. Por isso, Izalci passou o dia ontem numa batalha para tentar desvincular a nova parceria com as diretrizes do partido. No início da tarde, ele gravou e distribuiu um vídeo nas redes sociais em que Tasso Jereissati fala sobre o assunto: ;O PSDB nacional tem como visão que cada executiva regional ou estadual resolva suas questões sobre as alianças locais desde que evidentemente, numa eleição majoritária para presidente, não interfiram na estratégia nacional;, disse.

Em nota no fim do dia, Izalci ressaltou que a ida de Abadia para o governo Rollemberg contraria ;frontalmente; as deliberações do partido. ;Ao aceitar a nomeação, Maria de Lourdes Abadia tomou uma decisão pessoal e não partidária;, afirma. Para Izalci, a tucana deveria ;no mínimo; se licenciar de sua filiação partidária. A questão será decidida em reunião extraordinária nos próximos dias. ;O assédio do governador a pessoas de outros partido ; nos últimos dias notadamente àquelas filiadas ao PSDB ; chega às raias da indecência;, acrescentou.

Durante o anúncio ontem, Rollemberg fez questão de se concentrar nas questões do governo e nos benefícios que a aliança trarão para a gestão. ;Vamos falar de eleições apenas em 2018;, registrou. Ele, no entanto, fala nos bastidores sobre a aliança entre PSB e PSDB. Abadia, ao contrário, foi mais explícita: ;É claro que todos estão pensando em 2018;.

Apoio do PSB

Ao participar do programa CB.Poder, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, apoiou o convite feito por Rollemberg a Maria Abadia. ;Antes de falar com qualquer pessoa, o governador Rollemberg me ligou e me consultou. Eu aprovei;, garantiu. ;Conversei com o presidente nacional do PSDB. Alianças regionais não têm, rigorosamente, nada a ver com a aliança nacional. São duas coisas distintas;, justificou o presidente do PSB.

De acordo com Siqueira, ;as alianças estaduais para o governo e para a eleição ao Senado deverão ser feitas de acordo com a situação de cada um dos estados;. O PSB tem conversado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e com o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. ;Vamos conversar também com Marina Silva. Não podemos decidir essa questão nacional agora mas, no plano dos estados, essas alianças serão feitas de acordo com a realidade estadual;.


Quem é quem


Um destino de vice que pode se repetir
Ex-governadora do DF Maria de Lourdes Abadia tem uma longa história na política da capital do país. Foi deputada federal constituinte, pelo extinto PFL, e depois ajudou a fundar o PSDB ao lado de expoentes da legenda, como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Entrou na política pela atuação em áreas sociais, principalmente no início de Ceilândia.

Aos 73 anos, Abadia está afastada de cargos públicos desde que perdeu a reeleição em 2006, derrotada por José Roberto Arruda, que venceu no primeiro turno. Durante sua campanha, esperava o apoio de Joaquim Roriz, de quem foi vice-governadora, mas reclamou de ter sido abandonada. Mesmo assim, ontem, ao comentar a entrada no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), Abadia ressaltou que nunca fechou portas em sua trajetória política.

Apoiou a candidatura de Cristovam Buarque em 1994 e exerceu durante seis meses o cargo de secretária de Turismo, de onde saiu pelos conflitos que o governo petista no DF mantinha com o então presidente FHC. Na atual legislatura, exerceu cargo no gabinete do deputado Raimundo Ribeiro, que se elegeu pelo PSDB e depois migrou para o PPS. Andava fora dos holofotes políticos mas, nos últimos meses, assumiu uma postura mais determinada dentro do PSDB. Tem sido incentivada a costurar uma negociação para que o partido integre a chapa de Rodrigo Rollemberg, como vice.

Abadia seria esse nome. Se der certo, ela pode chegar novamente ao comando do DF. Se Rollemberg se reeleger e decidir disputar algum cargo público no pleito seguinte, terá de se desincompatibilizar e a número dois na linha de sucessão será a tucana, que poderá herdar mais nove meses como governadora. Foi o que aconteceu no governo Roriz.

Em busca do aval dos caciques nacionais
Aos 61 anos, o deputado federal Izalci Lucas trabalha abertamente para conseguir disputar o Palácio do Buriti. No fim do ano passado, o tucano chegou tratar com Rodrigo Rollemberg da indicação de cargos no governo do DF, mas a negociação não prosperou. Izalci reclama de que os compromissos assumidos pelo governador não foram cumpridos.

Agora, a menos de um ano da eleição e com críticas à atuação de Rollemberg, ele não acredita mais em aliança. Presidente regional do PSDB, indicado pela direção nacional, em intervenção que impede eleições internas, o tucano tem o controle do partido, mas uma briga interna tumultua a trajetória do parlamentar até as urnas.

Izalci tromba com a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia, a tucana que chegou mais longe na política local, e com o único deputado distrital do PSDB, Robério Negreiros. Para manter seu projeto de candidatura ao GDF, Izalci busca apoio dos caciques tucanos. Esteve com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o prefeito da capital paulista, João Doria, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No atual mandato, foi o presidente da comissão especial que analisou a MP 759/2016, que trata da regularização fundiária, um palanque e tanto, graças à boa relação com o presidente Michel Temer. Essa lealdade ao Palácio do Planalto o levou a votar pelo não prosseguimento das duas denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer. Assim, vai conquistando aliados nacionais, mas precisa buscar parceiros no DF. Sua pré-candidatura ainda não reúne apoios de outros partidos.

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