Cidades

Esquema de clínicas populares do DF fraudava exames de sangue

Duas das 34 vítimas confirmadas até agora relataram que estão com câncer e com gordura no fígado

Júlia Campos
postado em 02/11/2017 06:00
A Clínica do Povo, em Samambaia, fica em frente à Unidade de Pronto-Atendimento: localização estratégica
Uma clínica popular com filiais no Recanto das Emas e em Samambaia está envolvida em suposto esquema de falsos resultados de exames de sangue. De acordo com investigação da Polícia Civil, os responsáveis pelo local cobravam um valor acessível para testes clínicos, mas fraudavam os resultados, reutilizando os índices de outras pessoas. Durante a Operação Falso Resultado, os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão, recolheram computadores e documentos e prenderam preventivamente Tiago Henrique Silva Gonçalves, 27 anos. Ele se apresentava como dono dos estabelecimentos, mas negou que soubesse da fraude. ;Nós descobrimos que ele é um laranja nessa história. Agora, estamos em busca do real proprietário;, disse o delegado-chefe da 32; Delegacia de Polícia (Samambaia Sul), Júlio César de Oliveira.
Segundo a apuração, a Clínica do Povo pode ter prejudicado diversas pessoas com sérios problemas de saúde. Duas das 34 vítimas confirmadas até agora relataram que estão com câncer e com gordura no fígado. Porém, os exames delas, realizados no local, registraram valores dentro da normalidade, como se elas nada tivessem. Há a possibilidade de existirem mais pacientes prejudicados, pois o local funcionava, estrategicamente, próximo às unidades de pronto-atendimento (UPAs) de Samambaia e do Recanto das Emas. Investigadores acreditam que o número pode passar de 100 pessoas.

A investigação começou há cerca de dois meses, quando outras duas mulheres fizeram exames na clínica e os resultados se revelaram idênticos. Como elas eram pacientes do mesmo médico, ele desconfiou e avisou sobre o possível golpe. Em seguida, as vítimas registraram ocorrência. Os agentes descobriram que o estabelecimento tinha pelo menos seis meses de funcionamento. E que, no início do negócio, todos os trâmites eram realizados da maneira correta, com as amostras de sangue seguindo para análise de um laboratório no Paraná.

Risco


Há quatro meses, no entanto, os acusados encontraram uma forma de lucrar ilegalmente. ;Começaram a não pagar mais pelos exames que mandavam (para o estado paranaense). Com isso, pararam de receber os resultados. Porém, conseguiram um meio de invadir o sistema do laboratório e alteravam o nome dos pacientes e a data de nascimento. Dessa forma, replicavam exames idênticos;, detalhou o delegado Júlio César.

Segundo ele, não se descarta a hipótese da participação de funcionários na fraude. ;Que houve participação de terceiros, isso é certeza. Agora, precisamos identificar se eram empregados dos estabelecimentos e até onde sabiam;, apontou. As clínicas do Recanto das Emas e de Samambaia estão fechadas. Uma terceira seria montada em Goiânia. ;Era um esquema muito perigoso. As pessoas corriam o risco de não fazerem o tratamento que precisavam ou fazer o errado;, conclui Júlio César.

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