Cidades

Comerciantes de Vicente Pires reclamam de lentidão em obras

Demora na entrega estaria causando prejuízos, mas população também reconhece a necessidade da intervenção. GDF nega atraso e diz que entrega infraestrutura até 2018

Ricardo Faria - Especial para o Correio
postado em 03/11/2017 08:00

Máquinas cavam buracos para colocar a rede de drenagem de água da chuva enquanto carros trafegam na via

O vaivém de caminhões, máquinas e a terra remexida nas ruas de Vicente Pires provocam sentimentos contraditórios nos moradores. Apesar de o governo garantir que a execução das obras de infraestrutura estão dentro do cronograma, parte da população reclama da demora e diz acumular prejuízo no comércio.


Por enquanto, a dificuldade em trafegar pelas ruas da cidade, a poeira e o barulho são os principais problemas enfrentados por quem espera pela conclusão dos serviços. Mas os moradores temem que a situação fique ainda pior com o fim da seca e o início das chuvas. O receio é de que o período chuvoso provoque alagamentos e destrua as benfeitorias em andamento.


Atendente em um pet shop na Rua 4C, Ana Técia, 23 anos, diz que o movimento praticamente acabou desde que as máquinas chegaram ali. Segundo ela, atualmente recebe apenas clientes com horário marcado ou com pacotes de banho e tosa já pagos. ;Aquele que vem ao balcão sumiu!”, explicou enquanto uma escavadeira enchia dois caminhões-caçamba com a terra retirada da rua.


Em outro ponto da Rua 4C, José de Abreu, 70, é gerente de uma lanchonete e diz que, nos últimos cinco meses, a clientela diminuiu consideravelmente. ;Não entra quase ninguém aqui. O prejuízo é incalculável;, lamentou. Na porta do estabelecimento, três grandes máquinas trabalhavam no processo de terraplenagem, fazendo a compactação do solo. No fim a Rua 8, uma das principais de Vicente Pires, o comerciante Pedro Carvalho Lopes, 34 anos, diz ter prejuízo de R$ 10 mil por mês em sua loja de motos.


Para amenizar a poeira, um caminhão-pipa percorre os trechos não pavimentados molhando a terra. Em uma dessas viagens, o veículo atolou na lama que surgiu depois de jogar a água.


As obras incluem a rede de drenagem pluvial, a pavimentação das vias e a construção de calçadas. Os custos são estimados em R$ 463 milhões. Os dados são da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sinesp). Cerca de 75 mil moradores serão beneficiados, segundo o GDF. A previsão é de que todos os serviços sejam concluídos até o final de 2018.

Chuva

Quadro com falas de moradores sobre as obras em Vicente PiresUma das preocupações dos moradores é o início do período chuvoso. Se a água começar a cair, as obras serão paralisadas ou o ritmo será ainda mais lento. E, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), este mês será de muita chuva. ;Temos a previsão de chover dentro da média histórica ou, até mesmo, acima do previsto para o período;, informou o meteorologista Hamilton Carvalho.


Mas nem todos os moradores reclamam. Dona de um salão na Rua 8, Rafaela da Silva, 38, comemora o vaivém de máquinas. ;Apesar da queda no comércio, estou feliz e ansiosa para que esteja tudo pronto;, enalteceu. Segundo ela, as pessoas deveriam ter mais paciência, pois as melhorias, quando finalizadas, serão benéficas para todos. ;Temos que aguentar, isso faz parte. Depois todos vão elogiar o que foi feito;, argumentou.


Para Maria das Graças Sales, 68, o incômodo é inevitável, mas será passageiro. ;As obras são muito boas, mas essa demora incomoda. Espero que, pelo menos, coloquem o asfalto antes das chuvas;, torce.
Em nota, a Sinesp informou que está ciente dos transtornos causados pela movimentação de terra, fato inevitável durante a execução das obras de urbanização, mas que, durante o período de seca, os efeitos da poeira têm sido minimizados com o envio diário de caminhões-pipa ao local. No posicionamento, a pasta reforçou que os trabalhos seguem dentro do cronograma estipulado pelo governo e informou que, ;com o início do período chuvoso, o órgão está empenhado em garantir que os serviços de drenagem e pavimentação não sejam interrompidos e avançam em ritmo acelerado;.

Palavra de especialista

Prudência necessária

;Vicente Pires era uma área rural, constituída de chácaras. Nunca houve uma determinação de política urbana para ocupação naquele lugar, que nasceu sem o mínimo de estrutura. A grande dificuldade na obra é calcular o prejuízo hídrico, pois é uma área com muitas nascentes. Precisa-se detectar o que é água boa e água ruim. Não se pode criar uma rede de esgoto de qualquer forma. Má notícia seria se as obras que estão sendo feitas no local, estivessem em ritmo acelerado, pois seriam obras feitas com insensibilidade, imprudência. Torço para que a demora a execução das melhorias alegada pelos moradores, seja sinônimo de prudência. Se forem feitas dessa forma, a cidade será resguardada de problemas futuros em sua infraestrutura.; Frederico Pinheiro Barreto, professor de arquitetura e urbanismo na Universidade de Brasília (UnB)

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