Ana Viriato
postado em 10/11/2017 06:00
Tradicionais figuras da coalizão de centro-direita ; maior frente política formada até o momento ; impõem condições para evitar uma implosão no grupo e receber de braços abertos o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB/DF) Ibaneis Rocha: o recém-filiado ao PMDB terá de ficar de fora da disputa por cargos majoritários em 2018. No entendimento de alguns pré-candidatos ao Palácio do Buriti, não há coerência em provocar modificações ao acerto costurado meses atrás para abrigar um novo participante com pouca experiência no ramo e desconhecido pela maior parte do eleitorado.
Para integrantes do grupo, Ibaneis deveria ser candidato, no máximo, aos cargos de deputado federal ou distrital. Apesar das exigências, a força do PMDB será fator decisivo nas negociações. Maior partido do Brasil, a sigla detém cofres abarrotados e grande parte do horário de propaganda em emissoras de rádio e tevê ; ainda mais ao lado do PP, outra legenda controlada pelo ex-vice-governador Tadeu Filippelli. A influência política do peemedebista também é um agravante, uma vez que ele tem condições de, facilmente, construir alianças distintas.
Mas o desconforto com a filiação de Ibaneis não se restringe à possível coligação. Filippelli, presidente licenciado do PMDB, terá de apaziguar os efeitos do episódio dentro do próprio partido. Secretário-geral da legenda e deputado distrital, Wellington Luiz deixou clara a insatisfação com a notícia do ingresso do advogado na sigla em uma carta aberta divulgada no último dia 3 e não compareceu à solenidade, realizada na noite de ontem. ;Não podemos permitir que o desejo pessoal de alguns seja maior do que o ideal inalienável e republicano do PMDB. O povo de Brasília merece respeito e espera muito mais de um partido que prega seriedade;, diz o texto.
Para apagar o incêndio, durante a filiação, Filippelli alegou que ;todos os integrantes de um partido são insubstituíveis;. ;Política se faz agregando. Não podemos nos dar ao luxo de perder alguém. Se ele não está aqui hoje, vou atrás amanhã;, frisou o comandante do PMDB no DF. O peemedebista e Ibaneis Rocha ainda aproveitaram o evento para afinar o discurso e esclarecer que a chegada do advogado não provocaria mudanças no acerto firmado inicialmente pela centro-direita.
O posicionamento repercutiu entre os colegas de coalizão, os quais aguardam a concretização da promessa. ;Começamos com um número certo de pré-candidatos ao Buriti. Essa construção não é de hoje e não há espaço para quem chega agora e quer sentar na janela. Se o PMDB aceitar esses termos, daremos continuidade às negociações;, cutucou o ex-distrital e presidente do diretório regional do PTB, Alírio Neto.
O deputado federal Izalci Lucas (PSDB) engrossou o coro. O parlamentar, um dos mais empenhados na pré-candidatura, trabalha há meses na produção de um plano de governo. ;Filippelli disse que o acordo estava mantido. Nunca houve discussões sobre o ingresso de um peemedebista na disputa majoritária. Não trabalhamos com essa hipótese;, destacou.
O PR intervém com discurso ameno. ;Se Ibaneis estiver bem, vamos apoiá-lo. Mas a população não o conhece, então, acho difícil a concretização da pretensão de ele de ser governador;, apontou o presidente regional da legenda, José Salvador Bispo de Oliveira. O partido é integrado pelo candidato mais forte na corrida pelo Executivo local, segundo pesquisas de opinião: o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat.
Novas alianças
Apesar de não admitir, em princípio, novos candidatos para a composição da chapa majoritária, integrantes da coalizão de centro-direita buscam novas alianças para encorpar o grupo. Entre os alvos estão o PSD, do deputado federal Rogério Rosso, e o PPS, do senador Cristovam Buarque. A frente política também mantém contato com lideranças evangélicas, como o presidente regional do PRB, Wanderley Tavares.
Para contar com a participação do PPS, o grupo teria de disponibilizar uma vaga para a disputa pelo Senado, que seria ocupada por Cristovam Buarque ou por Valmir Campelo. ;Estamos definindo alguns parâmetros para seguir as articulações para a composição de uma chapa aos postos majoritários. O certo é que as negociações incluem uma cadeira no Senado. O ocupante será definido à frente, após decidirmos se teremos um candidato à presidência da República ou não;, pontuou o presidente do diretório regional da sigla, Chico Alencar.
O PSD precisa se desvencilhar das relações com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para, de fato, investir nas articulações. As discussões oficiais sobre o desembarque começam na manhã de hoje, em uma reunião da Executiva Regional. ;Assim que decidirmos a data da saída da base aliada, poderemos intensificar as negociações com outros partidos e colocar as nossas propostas na mesa;, disse o presidente do diretório regional, Rogério Rosso.
Izalci Lucas (PSDB)
Precisa de acordos nacionais para viabilizar a candidatura à chefia do Executivo local. Entre os integrantes da coalizão de postulantes a cargos majoritários, é o que mais tem se articulado, seja com a construção de alianças, seja com a divulgação do trabalho em várias cidades do DF.
Ibaneis Rocha (PMDB)
Presidente da OAB/DF entre 2013 e 2016, é estreante na política. Um dos maiores desafios será se tornar conhecido pelo eleitorado em uma campanha menor ; entrave que pode ser revertido com o investimento financeiro e com o tempo de tevê do PMDB e do PP, ambos partidos controlados por Tadeu Filippelli.
Alírio Neto (PTB)
Delegado aposentado e deputado distrital por três vezes, o presidente da Executiva Regional do PTB é um dos principais articuladores da coalizão. Ao petebista, interessam apenas os cargos de chefe do Palácio do Buriti ou de vice-governador.
Jofran Frejat (PR)
Líder nas pesquisas eleitorais, Frejat ocupou cinco vezes o posto de deputado federal e, em quatro oportunidades, exerceu o cargo de secretário de Saúde do DF. Com um histórico livre de escândalos de corrupção, é considerado, nos bastidores, a opção mais forte ao Palácio do Buriti.
Alberto Fraga (DEM)
Integrante da bancada da bala na Câmara dos Deputados, Fraga afirma, publicamente, que será candidato a governador do Distrito Federal. Na prática, é cotado para o Senado. Conquistou o quarto mandato com 10,66% de votos ; maior percentual entre os concorrentes.