Cidades

Justiça julga caso de homicídio em garagem de empresa de ônibus

Entre os acusados está o dono da empresa, Nenê Constantino, já condenado em maio por outro assassinato de um líder comunitário

Júlia Campos - Especial para o Correio
postado em 13/11/2017 18:30
FOTO1] O tribunal do júri de Taguatinga deu início nesta segunda-feira (13) ao julgamento pela morte de Tarcísio Gomes em uma garagem das empresas de ônibus de Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, 86 anos. O crime ocorreu em fevereiro de 2001. Além do empresário, João Marques, João Miranda e Vanderlei Batista também são acusados de participação no homicídio qualificado.

[SAIBAMAIS] Este é o segundo julgamento em que Constantino, ex-proprietário da empresa Gol Linhas Aéreas, e os mesmos acusados respondem por homicídio qualificado. Em maio deste ano eles foram condenados pelo assassinato de Márcio Leonardo da Sousa Brito. O líder comunitário morreu aos 26 anos, em 12 de outubro de 2001, com três tiros, por causa da disputa por um terreno.

Hoje pela manhã, a oitiva das testemunhas teve início, às 11h28. A primeira a ser ouvida foi a delegada Mabel Alves de Faria Corrêa. O depoimento teve fim às 13h57, quando foi dado o intervalo para o almoço. Por volta das 15h05 a sessão foi retomada. A segunda testemunha ouvida foi Nathalia Ferreira, ex-funcionária da empresa de viação. Ela, que entrou na firma em 2007 e ficou cerca de sete anos, disse que nunca soube dos assassinatos que ocorreram em 2001. Foi secretária de Eduardo Queiroz, ex-genro de Nenê Constantino que o acusou da tentativa em 2008.

A terceira pessoa a ser ouvida foi Roberto Queiroz. Ele é conhecido de João Marques, um dos réus, e do falecido Manoel Tavares, o autor dos disparos que matou Márcio Leonardo em outubro de 2001. Em depoimento, disse que só soube da morte quando foi intimado para depor na delegacia. Inclusive, frisou o comportamento agressivo da delegada Mabel Alves. ;Batia na mesa e alterava o tom da voz. Na verdade, queria que eu falasse o que ela queria ouvir;, argumentou. Roberto afirmou que João e Manoel se diziam pessoas perigosas e se intitulavam ;matadores;.

Ferdinanda de Morais, funcionária da empresa pioneira há 29 anos foi a quarta testemunha. Apesar do longo período de trabalho disse que só soube do fato pela mídia. ;À época, não ouvi falar e nunca foi uma conversa de corredor entre os trabalhadores;, alegou. Ela descreveu Nênê como uma pessoa tranquila, correta e que era exigente por querer manter as coisas da empresa certas. Eduardo Queiroz também foi citado mais uma vez durante o depoimento. ;Sempre foi uma pessoa difícil. Quando ele estava nervoso, toda empresa sabia, pois ele gritava muito. As pessoas tinham medo dele. Inclusive, a Nathalia me ligou chorando quando ele a demitiu e disse que tinha sido ameaçada.;

A quinta testemunha foi Constantino de Oliveira Júnior, filho do empresário. Durante a fala, informou que recorda que as mortes que ocorreram no terreno mexeu muito com a família. E afirmou que o pai jamais seria capaz de se envolver nessas situações. ;Essa acusação é totalmente descabível. Ele nunca levantou a voz para mim, meus irmãos ou minha mãe;, apontou. Durante todo o depoimento, também deixou claro o difícil temperamento de Eduardo Queiroz e o sentimento negativo que tinha com a família após a separação com a irmã. Principalmente, o ódio por Nênê Constantino.
A sexta testemunha foi Aberil Espíndola. Ele que é perito criminal aposentado foi contratado por Nênê à época do crime para dar um parecer sobre os laudos apresentados a respeito da morte de Tarcísio. A defesa do empresário, pediu que ele explicasse sobre o rompimento da cadeia de custódia que ocorreu no processo de investigação. ;Houve a quebra porque alguém abriu o material antes do tempo. Não teve preservação das provas. É possível que os projetis retirados do corpo dele tenham sido trocados dentro da embalagem, pois ela foi violada;, afirmou. Aberil disse que outro erro cometido foi que não teve perícia no local que ocorreu os fatos e que a polícia confiou apenas em Ana Neta, testemunha ocular do crime. ;Se tivesse sido feita talvez hoje teríamos o autor do crime. Foi jogado fora os vestígios. Em um exame de DNA ou de impressão digital tem como eu apontar alguém, por exemplo. É objetivo;, argumentou.
No julgamento de maio, os jurados consideraram Constantino culpado pelo assassinato duplamente qualificado (motivo torpe e crime cometido mediante dissimulação) e por ter corrompido duas testemunhas. Ele foi condenado, ao todo, a 16 anos e seis meses de reclusão em regime fechado (13 pelo homicídio e mais três pela corrupção de testemunhas) e a pagar multa de R$ 84 mil.

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