Deborah Novais - Especial para o Correio
postado em 17/11/2017 06:00
Muito verde, parquinho, quadra de futebol e de basquete, churrasqueira, circuito de exercícios ao ar livre, 10 blocos e um grande fluxo de carros. Esse é um resumo do que pode ser visto, atualmente, na 305 Norte. Contudo, há cerca de quatro décadas, não havia tanta coisa assim, o que não impedia que os moradores, principalmente as crianças e os adolescentes, tivessem uma vida agitada, cheia de aventuras e histórias.
Até meados da década de 1990, somente três blocos (A, B e E) faziam parte da quadra, em uma época em que simples ideias eram o suficiente para uma grande diversão. Um gramado próximo aos prédios era utilizado para jogar futebol, vôlei, queimada e outros esportes. A grande quantidade de barro ao redor, inclusive na 306 e na W3 Norte, era motivo de desespero dos pais, já que os filhos chegavam imundos em casa após atividades como bicicross.
A inauguração da quadra residencial da 305 Norte aconteceu em 1975, com o objetivo de abrigar os funcionários do Exército que eram transferidos para Brasília. A maioria dos militares da quadra tinha o posto de segundo-sargento e idades semelhantes, assim como os filhos. Muitos frequentavam a Associação de Esporte e Lazer dos Subtenentes e Sargentos do Exército, no Setor de Clubes Esportivos Sul, o que fortalecia ainda mais a amizade de todos.
Encontro
Trinta anos depois, essa turma de adolescentes resolveu compartilhar lembranças de um tempo que ganhou lugar especial na memória. Ex-moradores da quadra criaram um grupo no WhatsApp e resolveram marcar um encontro em 25 de novembro, que conta com mais de 100 pessoas confirmadas, inclusive algumas que vêm de estados como Sergipe e São Paulo apenas para a reunião.
Lembranças
Bete; bola de gude; pique-esconde; patins; violão; peladas de futebol: não faltavam opções do que fazer entre os pilotis e nos arredores.;Era só descer e encontrar várias crianças para brincar. A gente só subia ou quando a mãe chamava pela janela ou quando ficava escuro;, relembra a defensora pública Ana Luiza Pontier, 47 anos.
Ana se mudou para o Bloco B em 1975, quando o pai ; Tadeu Almeida, 72 anos ; foi transferido de Petrópolis (RJ) para a capital. Ela permaneceu na quadra por nove anos. O consultor empresarial André Dantas, 50, foi para lá em 1980 e saiu em 1984. A jornalista Carla Martin, 47, entre idas e vindas, morou por sete anos no local.
Ana, André e Carla destacam as diversas reuniões nos apartamentos dos amigos durante a adolescência, com trilha sonora extensa composta por artistas como Cyndi Lauper, Madonna, Supertramp e Legião Urbana. Para a defensora pública, a vitrola e os discos eram os únicos itens fundamentais para a diversão.
No gramado, jogos de futebol aconteciam com frequência. Os pais eram os técnicos e os juízes dos jogos, e as mães tinham um time próprio que competia com a equipe dos filhos.;Os campeonatos viravam uma grande família;, define Carla. No Colégio Militar de Brasília (CMB), onde grande parte dos garotos estudava, as festas conhecidas como ;recotecas; bombavam.
;Outra lembrança muito marcante são as festas de debutantes das meninas da quadra;, acrescenta André. Naquela época, começaram os primeiros namoros da turma, incluindo um que resultou em casamento. É o caso de Carla e o marido militar Marco Martin, 50, conhecido na época pelo apelido Muri.
Parece música de Renato Russo
Os dois se conheceram enquanto moravam no Bloco E, em apartamentos da mesma portaria. O namoro começou em 1983, mas teve fim no mesmo ano, quando o pai de Carla foi transferido para Tabatinga (AM). Com ela, ficou a lembrança de Marco por meio de uma foto que o garoto deu antes da viagem, com uma declaração escrita na parte de trás. Quando a jornalista voltou para a capital, em 1986, o ex-namorado estava comprometido com outra pessoa. Dois anos depois, ambos solteiros, voltaram a se ver e mantêm um relacionamento desde então ; com direito a casamento em 1991. ;Começou como um namorico de quadra, mas foi uma paixão arrebatadora. É um presente que a 305 me deu;, diz Carla.