Otávio Augusto
postado em 18/11/2017 08:00
;As pessoas abraçam a ideia de que o Brasil é uma país que preza pela democracia racial, mas qualquer pessoa que colocar o pé aqui sabe que isso não existe.; A avaliação é feita pelo estudante Alban Amindu, 28 anos. Ele veio há três anos do Benin, país da região ocidental da África, para fazer intercâmbio na Universidade de Brasília (UnB). A opinião se repete. ;O olhar para com o negro é diferente. Nunca tinha passado por isso;, conta Aicha Dioe, 37. Ela veio para o Brasil há nove meses acompanhar o marido, que é diplomata. O casal é do Senegal.
As declarações podem causar estranheza, mas os negros que vivem no país são categóricos. A democracia racial brasileira é uma farsa. Na segunda-feira é celebrado o Dia da Consciência Negra. O fim de semana na capital terá uma extensa programação cultural que chama a atenção para a valorização da cultura e o reconhecimento da contribuição do povo negro para a história (veja Programe-se). Para marcar a data, o Correio conversou com dois imigrantes africanos para debater a questão racial no Brasil.
Ao declarar a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que os povos afrodescendentes precisam ter os direitos humanos promovidos e protegidos. O objetivo é proporcionar uma vida igualitária. É o que sonham Alban e Aicha, os personagens que o leitor conheceu no início da reportagem. ;O preconceito foi tão traumático que em duas semanas eu tive vontade de ir embora. O olhar, a forma de tratamento e as desconfianças que as pessoas têm com o negro são assustadores;, conta Alban.
Ao caminhar pelos corredores da UnB, ele explica. ;As pessoas querem dizer que são amigas de preto, que convivem, mas não respeitam sua cultura, não valorizam sua contribuição para a sociedade. Tornou-se bonito defender o negro, mas poucos são aqueles que se preocupam realmente com seus problemas e querem mudar essa situação;, pondera o rapaz, que vive em um apartamento com outros estudantes africanos.
Mas o que difere o Brasil de países como Benin e Senegal? A conclusão de Alban e Aicha é que, apesar de sermos a segunda maior nação negra do mundo ; 54% da população é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ;, desprezamos as nossas raízes africanas. ;Em Benin, a cor da pele não é motivo para diferenciar as pessoas;, destaca.
Representatividade
No próximo ano, a Lei Áurea completa 130 anos. O passar do tempo não bastou e a igualdade racial ainda é uma utopia no país. ;A juventude negra é assassinada diariamente. Não se pode tratar esse assunto como apêndice. Isso deve fazer parte do projeto de governo para o país. Tratar o negro como minoria é uma violência;, critica Jacira da Silva, uma das organizadoras no DF do Movimento Unificado Negro.
A entidade realizou no começo do mês o 18; Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Mais de 200 representantes de todos as unidades da federação participaram. ;O que precisa ser feito é reconhecer a importância da contribuição negra para o país. O processo de conscientização está acontecendo, mas precisamos intensificar a representatividade do negro;, conclui Jacira.
Conscientização
O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro porque essa é a data da morte, em 1695, de Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares. Criado em 2003 e instituído em âmbito nacional em 2011, a comemoração é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.
Programe-se
Veja a programação especial para a semana da Consciência Negra
Festival São Batuque
Encontro de Batuqueiros
Quando? Hoje
Onde? Praça Zumbi dos Palmares (Conic)
A que horas? Das 18h às 21h
Entrada franca
Sernegra
A Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça (Sernegra), com exibição de filmes como Mulheres negras: projetos de mundo e Das raízes às pontas, além de roda de conversa com as diretoras Day Rodrigues e Flora Egécia.
Quando? 20, 21 e 23 de novembro
A que horas? Às 16h (domingo), às 9h30 (segunda-feira) e às 9h30 (quarta-feira)
Onde? Cine Brasília
Entrada franca
Espetáculo Mosoró Dayo ; Grupo Obará
Trazendo aos palcos a nossa ancestralidade por meio da corporeidade, o Grupo Cultural Obará realiza uma nova temporada com o espetáculo Mossoró Dayo, no qual apresenta dança, teatro, cantos em iorubá e a música para falar do negro e da cultura afro-brasileira.
Quando? 22 e 23 de novembro
A que horas? Às 15h
Onde? Teatro Unip Ulysses Guimarães, SGAS Quadra 913, s/n;, Conjunto B
Entrada franca
Palestra Racismo Institucional
O evento tem como objetivo a capacitação para servidores do Metrô sobre a promoção da igualdade racial, bem como difusão do conhecimento básico a respeito de normas e leis pertinentes ao combate ao racismo institucional, com o professor Mário Theodoro
Quando? 23 de novembro
A que horas? Às 10h
Onde? Auditório da Sede do Metrô-DF, na Av. Jequitibá, 155, Águas Claras.
Entrada franca
Desfile Beleza Negra
A iniciativa tem como missão o combate ao racismo e à discriminação no mercado da moda e na mídia de um modo geral
Quando? 23 de novembro
A que horas? Às 17h
Onde? Estação Central do Metrô
Entrada franca
Denuncie
Se você sofreu alguma discriminação, denuncie. O Disque Racismo funciona no número 156, opção 7.