Cidades

Alunos relembram personalidades históricas no Dia da Consciência Negra

Alunos do CEM 1 do Paranoá homenageiam personalidades históricas com exposição para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra. Objetivo é promover reflexão sobre o papel do negro no Brasil e na história

Jéssica Eufrásio*
postado em 19/11/2017 08:00
Projeto idealizado por professor de filosofia destaca a importância de se discutir a questão racial

Chiquinha Gonzaga, Aleijadinho, Machado de Assis e Madame Satã reunidos em uma escola do Distrito Federal. Embora a presença física dessas personalidades seja impossível, o encontro se tornou viável graças a uma apresentação realizada por alunos do Centro de Ensino Médio 1 (CEM 1) do Paranoá. Caracterizados com adereços, maquiagem, tecidos e fantasias, estudantes de seis turmas encarnaram figuras históricas para realizar um projeto escolar em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra.

O projeto resultou em uma mostra que deixou o pátio da escola decorado com quadros pendurados por toda parte. Em cada um deles, os alunos aparecem em fotos ao lado das figuras representadas. Brenda Brandão, 16 anos, por exemplo, reencarnou Dandara, a guerreira negra e mulher de Zumbi dos Palmares. A estudante do 1; ano conta que o trabalho levou ao aprendizado sobre o papel do negro na sociedade e sobre a importância do respeito ao próximo.

[SAIBAMAIS];Essa não é uma data lembrada por todos, mas ela existe em reconhecimento a todos os negros que lutaram e continuam lutando. As pessoas precisam aprender que temos nosso lugar no mundo. Não podemos deixar esse dia passar, porque ainda precisamos ter oportunidades iguais;, defende Brenda.

A ideia do projeto foi uma iniciativa do professor de filosofia Vinícius de Souza. Ele sugeriu que os alunos de 1; e 3; anos para os quais leciona desenvolvessem um trabalho em homenagem a personalidades negras que contribuíram com a história, as artes e com a cultura pop mundial. A atividade levou cerca de um mês para ser finalizada. ;Dividi as turmas em quatro grupos e cada um ficou responsável por reproduzir ou fazer uma releitura de uma figura histórica negra. A proposta era de que eles mesmos realizassem tudo: desde a coleta das informações até as fotos que resultaram na exposição;, detalha.



Vinícius também conta que tentou levar aos alunos uma outra imagem de personagens retratados, na maioria das vezes, como brancos. Entre eles, estão super-heróis, ícones cristãos e pessoas que não costumam ser interpretadas por atores negros. ;Eu quis despertar a visão deles para o racismo e a importância de se falar sobre a questão racial. É bastante comum, durante as aulas, eu mencionar que boa parte dos egípcios eram negros e os alunos se mostrarem surpresos. Mas isso acontece porque, geralmente, não é assim que esses povos são retratados na tevê;, observa.

Preconceito

Os trabalhos expostos podem ser vistos pelos cerca de 900 alunos que estudam no CEM 1 em três turnos. Gabriel Guimarães, 16 anos, cursa o 1; ano e personificou Madame Satã, drag queen conhecida por fazer parte das noites cariocas no início do século 20. O estudante contou que o exercício teve tudo a ver com temas tratados nas aulas de filosofia e que aproveitou a oportunidade para abordar a discriminação contra a população LGBTI. ;O objetivo foi falar sobre a consciência negra, mas, no meu caso, abordei o preconceito de uma forma geral. Até hoje, muita gente discrimina quem é negro e quem é homossexual. Isso mostra que a sociedade ainda precisa aprender mais sobre o respeito;, salienta.

A proposta do trabalho também gerou efeitos positivos em Zaíne Angélica Silva, 15, aluna do 1; ano. A jovem, que investiu em joias e maquiagem para se caracterizar como Cleópatra, recebeu inúmeros elogios dos colegas. ;Muita gente achou o trabalho original e disse que saí muito bonita nas imagens;, conta. Ainda segundo ela, o processo de produção por trás do exercício e o foco na data comemorativa ajudaram a relembrar a luta de povos escravizados. ;Esse passado está no nosso sangue e faz parte da nossa cultura. Foi bom para demonstrar que a batalha dessas pessoas tem importância. Ainda há muita discriminação e não vai ser fácil mudar essa realidade, mas, pouco a pouco, estamos conseguindo;, completa.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer



Data simbólica


Embora faça parte do calendário escolar desde 2003, o dia 20 de novembro foi instituído como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra em 2011, por meio da Lei n; 12.519. A data marca o dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi assassinado, após uma emboscada, em 1695. A data é feriado em diversas cidades e municípios brasileiros.

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