Ana Dubeux
postado em 19/11/2017 14:42
O câncer é uma batalha da ciência, que desafia pesquisadores e médicos, que cresce nas estatísticas, que assombra pessoas diagnosticadas. Mas, antes de tudo, é uma guerra pessoal. Passa pela negação, pela aceitação, pela superação. Quem vive esse processo passa por uma transformação que envolve dor e, não raro, sensação de desamparo, otimismo, pessimismo e posterior crescimento. O tratamento é uma caminhada que cada um atravessa como pode. Frequentemente, envolve descobertas personalíssimas. Assim como eu, você já deve ter acompanhado ou conhecido pessoas que descobrem uma força que não sabiam que tinham, um desejo de espiritualidade às vezes recolhido ou uma fraqueza que as fazem mais humildes perante a nossa curta existência por aqui. Na dor compartilhada, acabamos nós próprios sendo privilegiados com lições de vida de que não esquecemos.
Assim me senti ao conversar com a primeira-dama . Ela foi extremamente generosa ao compartilhar seu momento não apenas comigo e com Ana Maria Campos, colunista e editora de política local do Correio, mas também com nossos leitores e com a população de Brasília. Não seria Márcia uma coadjuvante em nenhuma situação, como não é na posição de primeira-dama.
[SAIBAMAIS]Ela faz acontecer no governo. Faz parte de sua história pessoal analisar, mobilizar, negociar, gerenciar e agir. E nos passou a impressão de atuar de forma semelhante diante da doença. Márcia não pareceu forte; ela é. Sempre foi e permanece assim. Dessa forma, sem esconder a dureza de sua luta, contou os momentos mais difíceis do tratamento e os detalhes que poderia ter escondido para não demonstrar qualquer aparente fragilidade. Na sua sinceridade, mostrou quão humana é, sem preocupação com o cargo ou a posição do marido, o governador Rodrigo Rollemberg. Falou da família, do momento em que contou sobre o diagnóstico para a família, dos efeitos da quimioterapia, do paladar que faltou e do cabelo que rareou. Tudo isso faz parte e não precisava ser dito. Mas ela disse e nos ajudou a compreender uma batalha que atinge a tantos.
Vivemos num mundo em que empatia é pré-requisito para vivermos melhor. Só conseguimos nos colocar no lugar do outro quando este outro generosamente decide tornar pública sua dor. Com histórias como as da Márcia, que me orgulho de ter contado, nos tornamos mais humanos e relativizamos nossas próprias dores. Mas precisamos admitir que é preciso, antes de tudo, coragem. Numa posição pública, é necessário mais do que isso. Colocar-se num ambiente de exposição em um momento difícil da vida, pelo qual ninguém está livre de passar, não é fácil. Na verdade, é para os fortes; é para Márcia. Grata a ela por compartilhar.