Yasmin Cruz*
postado em 21/11/2017 06:00
Ao passar em frente ao Centro Educacional 4 do Guará, é possível observar a frase ;Aqui acreditamos em você;, e gravuras no muro. As pinturas fazem parte do projeto Grafimat, desenvolvido pelos alunos no ensino médio, que une a arte e a matemática. Sprays de tinta são vistos nas mãos de adolescentes que se divertem revitalizando o muro. A escola atende turmas a partir do oitavo ano do Ensino Fundamental e também da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
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Localizada próxima a uma estação do metrô, a mudança no visual da escola tem chamado a atenção da vizinhança. Quem passa em frente chega a parar para elogiar o trabalho que está sendo feito. Antes do trabalho executado pelos alunos, o muro estava descuidado e repleto de pichações. A diretora Janete de Maria Ribeiro conta que o projeto tem um objetivo maior, obter o acolhimento da população aos alunos. A maioria, 87%, são moradores da Estrutural. Em 2009, a instituição de ensino enfrentou sérios problemas devido à indisciplina dos estudantes.
Eles se rebelaram contra as regras e começaram a quebrar pertences da escola. ;Foi um ano terrível. A direção foi afastada e o Batalhão Escolar precisou intervir;. A situação provocou a rejeição dos alunos pela comunidade. ;Hoje ,fazemos esse trabalho para que a população os acolha e respeite;, diz a diretora. Outro ganho com o projeto ;é o cuidado que os estudantes passaram a ter com o ambiente escolar;, ressalta Janete.
Grafiteiros conhecidos foram convidados para ensinar técnicas de pintura aos alunos. E fizeram sem cobrar nada. Antes de os adolescentes colocarem a mão na massa, os convidados contaram suas histórias de vida, pelo que passaram até serem reconhecidos como artistas.
Encaixe de figuras
O grafite feito pelos alunos foi inspirado no trabalho do artista holandês Escher, em que as figuras se encaixam nelas mesmas. ;Apresentei a parte matemática do trabalho do artista, depois os alunos começaram a criar;, explica o professor de matemática Emerson Teixeira, que leciona na escola há 18 anos.
Os alunos se uniram em torno do projeto, que foi visto como diversão. A aluna do terceiro ano Thayná Monteiro, 18, diz que não há escola de ensino médio na Estrutural, onde mora com a mãe e o padrasto. Thayná fez as provas da última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e sonha fazer faculdade de química ou estética. Durante o projeto, ela foi incentivada a perseguir seu desejo. ;Um dos grafiteiros falou para eu acreditar em mim, não deixar nada me desanimar;, falou entusiasmada.
O projeto uniu os alunos e fez com que eles se divertissem. Apesar da pintura ser avaliativa, eles se envolvem tanto que acabam vindo no turno contrário apenas para participar;, ressalta a professora de química Joanna de Paoli, 32, que está na função de coordenadora do programa Ensino Médio Inovador (EMI). Esse programa disponibiliza apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio.
* Estagiário sob a supervisão de Margareth Lourenço (Especial para o Correio).
Do gibi para a vida
;Quando eu tinha seis anos, minha irmã lia gibi para mim todo dia no mesmo horário. Quando ela começou a namorar, parou de ler. Foi aí que começou minha paixão pelo desenho. Como sabia o que os personagens falavam, passei a desenhar o que estavam fazendo;, conta Mikael Guedes, 23, ou ;Omik;, como é conhecido. O grafiteiro, que nasceu e cresceu em Brasília e agora reside no Guará, diz que o grafite é mais que um trabalho, é um estilo de vida. Mikael diz que sua arte lhe dá retorno financeiro suficiente. ;O grafite também me deu amigos e ganhei o respeito de pessoas que admiro.;
Ele conta que, ao ser convidado para participar do projeto, chamou os amigos de profissão para participarem: Rafael Atoa, Marcos Breubs e Erik Derk. ;A direção queria dar uma cara nova para a escola. Com a participação dos alunos, eles passam a respeitar o que eles mesmos fizeram;, opina.