Cidades

Vice-presidente do Correio deixa marcas de gentileza e exemplo de dedicação

Vice-presidente executivo do Correio Braziliense, Evaristo de Oliveira morre aos 72 anos. Empresário deixa as marcas da elegância no trato com todos, e o exemplo de dedicação ao jornal que amava e onde começou a carreira em 1965

Severino Francisco, Helena Mader, Ana Maria Campos
postado em 23/11/2017 06:00

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Gentileza, educação e elegância são palavras recorrentes em todos os relatos sobre Evaristo de Oliveira. Graças ao requinte inegável e à amabilidade constante, os amigos lhe deram o apelido de ;lorde;. Circulava bem-vestido, sempre com um sorriso cortês, que cativava funcionários e alegrava a família. Evaristo morreu ontem, aos 72 anos, mas deixará a marca do empreendedorismo por trás do sucesso do Correio Braziliense, a empresa à qual se dedicou durante 52 anos. O vice-presidente executivo do jornal deixa a mulher, Regina, com quem era casado havia 40 anos, dois filhos, Guilherme e Gabriela, além de quatro netos, Gabriel, Bernardo, Calvin e Sofia. A morte ocorreu em decorrência de complicações de uma crise cardíaca.


Goiano de Luziânia e sempre orgulhoso de suas origens, Evaristo construiu a história bem-sucedida na capital federal. Pioneiro, ele chegou à cidade em 1965, mas sua relação com Brasília começou quase uma década antes. Ainda menino, assistiu à movimentação de operários e de máquinas que desembarcavam na região para consolidar o sonho de Juscelino Kubitschek. ;Costumo brincar que não vim para Brasília, Brasília é que veio até mim;, disse Evaristo, em uma entrevista em 2011. ;Era setembro de 1956, quando vi o primeiro caminhão passar.;


O encanto infantil com o projeto da nova capital o levou a se aventurar pela cidade em 1965. Ele foi morar em Taguatinga, onde fez amigos que cultivou com dedicação durante toda a vida. No mesmo ano, o jovem de 19 anos encontrou nas páginas dos classificados do Correio um anúncio que seria sua porta de entrada para a empresa, à qual se dedicou durante mais de cinco décadas. Conseguiu o primeiro emprego como datilógrafo, quando ainda cursava o antigo científico.

Ciente de que precisava de um diploma para crescer na empresa e melhorar de vida, Evaristo cursou ciências contábeis no UniCeub. ;Descobri minha vocação;, relembrou, muitas décadas depois. ;Sempre gostei dos números e encantei-me pela precisão da contabilidade;, justificou Evaristo, em outra entrevista. A rotina era exaustiva, mas traduzia a determinação do jovem: ele trabalhava de dia e estudava à noite. Chegava em casa da faculdade quase de madrugada e, no dia seguinte, acordava disposto para se dedicar ao Correio. Evaristo tinha uma meta: ajudar o negócio a se desenvolver junto com o jornal. ;E como chegar lá, senão com trabalho e dedicação?;, questionou o contador. Em 2011, foi homenageado com seu nome em um empreendimento residencial do empresário Paulo Octávio, na 213 Norte.

;O Evaristo era meu companheiro de mais de 50 anos de dedicação ao grupo. Começamos praticamente juntos, fizemos nossa carreira paralela, mas sempre juntos. Ele com o tratamento de cavalheiro comigo e com todos os companheiros. Era uma pessoa que levava a vida com métodos, e com lhaneza no trato com todos nós. Jamais permitia qualquer comentário desairoso em relação a qualquer companheiro. Repudiava veementemente. Tinha uma reconhecida lealdade e competência;, afirma Álvaro Teixeira da Costa, diretor-presidente do Correio Braziliense.

;Ele tinha 52 anos de carreira no Correio, e eu 51 anos de Estado de Minas e Correio. Começamos praticamente juntos, fomos eleitos para o condomínio juntos. Tivemos uma carreira praticamente juntos. Sempre houve um respeito mútuo. Ele era um companheiro muito leal. Lamento muito perder um companheiro que tinha tanto a contribuir ao grupo e aos companheiros;, diz Álvaro.

Taguatinga

Amigo há mais de cinco décadas, José Antônio Ramalho conheceu Evaristo em Taguatinga nos anos 1960. O visual dos jovens à época era blusa justa e calça boca de sino. ;Desde aquela época, ele já era muito elegante. Diziam que era parecido com o Ivan Lins;, relembrou Ramalho, durante um depoimento emocionado sobre o companheiro de juventude. Ele relata que Evaristo era um ;empreendedor nato; e que, paralelamente a seu crescimento profissional, estimulava os amigos a investir na educação.

Os problemas sociais também eram motivo de inquietude para Evaristo, que tinha uma real preocupação com a área social do país e também dentro da empresa. Na visão de Evaristo, uma folha de pagamento era mais importante do que qualquer investimento. Era convicto de que o capital humano e intelectual é a parte mais importante de um negócio. Além da visão equilibrada sobre investimentos, Evaristo tinha uma imensa responsabilidade ética por estar no meio jornalístico.

A partir do relato dos amigos, Evaristo era um cidadão republicano, inquieto com as questões sociais. Flamenguista apaixonado, tinha uma visão de que a família é a célula mater da sociedade, cuidava dos filhos, dos netos e dos sobrinhos, sempre atento a todos. A existência de Evaristo era pela fidelidade, pela ética, pela transparência. Era amado por todos os amigos. Sempre soube compartilhar. Ao mesmo tempo, sabia cobrar, mas também sabia delegar e descentralizar.

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